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Silas exalta Brasil campeão de 1989: ‘Todo mundo era protagonista da sua posição’

Trinta anos após abrigar pela última vez a Copa América, o Brasil volta a ser palco da competição em 2019. Com isso, a nostalgia estará muito presente durante o grande evento que começará nesta sexta-feira, até porque há várias semelhanças entre os momentos vividos pela seleção brasileira campeã em 1989 e pela atual, que jogará para faturar pela nona vez a competição. E para triunfar pela quinta ocasião consecutiva como país-sede – ergueu a taça em casa também em 1919, 1922 e 1949.

Jogador que assumiu a condição de titular a partir do quarto jogo do Brasil naquela Copa América realizada há 30 anos, o ex-meia Silas lembrou, em entrevista ao Estado, que a equipe dirigida pelo contestado técnico Sebastião Lazaroni começou o torneio em um momento ruim. Embora tenha estreado com vitória por 3 a 1 sobre a Venezuela, abriu esta campanha com um público de cerca de 13 mil torcedores na Fonte Nova, estádio que depois seria palco de dois empates por 0 a 0 do time nacional (com Peru e Colômbia) na primeira fase da competição.

No jogo diante dos peruanos, além de os jogadores terem sido hostilizados com protestos e xingamentos, ovos foram atirados das arquibancadas e um explodiu na cabeça de Renato Gaúcho, reserva daquela equipe brasileira, quando o ex-atacante deixava o túnel dos vestiários para entrar no gramado. Naquela ocasião, os atletas acabaram se tornando alvo da revolta principalmente de torcedores do Bahia, campeão brasileiro de 1988, que não se conformavam com o fato de Lazaroni ter cortado da seleção o atacante Charles, artilheiro da equipe, durante o período de preparação em Salvador para o torneio continental.

“Lembro que eu estava entrando no campo de mão dada com uma criancinha, e o ovo espirrou em mim, mas o Renato levou aquilo numa boa”, recordou Silas. “A gente começou aquela Copa América sendo bastante criticado porque no início os nossos jogos foram na Bahia e teve aquele problema com o Charles, que estava em uma fase muito boa. E a gente estava jogando muito mal, mas o nosso time era bom. Pra mim, particularmente, a Copa América começou no quarto jogo, contra o Paraguai, em Recife, onde ganhamos com dois gols do Bebeto no Arruda. E ali a gente começou a se firmar no campeonato. Teve uma participação muito boa do Ricardo Rocha com a torcida de Recife, pois ele é pernambucano, e o pessoal foi nos receber no aeroporto para nos apoiar”, reforçou o ex-atleta e hoje técnico de futebol ao comentar a partida na qual a seleção foi apoiada por 76 mil torcedores no estádio do Santa Cruz.

E se hoje Tite tenta fazer o Brasil ganhar a Copa América sem poder contar com Neymar – que se lesionou em amistoso contra o Catar e vive momento pessoal complicado ao enfrentar uma acusação de estupro -, em 1989 a seleção jogava com o imenso peso de tirar o País de uma fila de 40 anos sem títulos da Copa América. E para completar, o jogo que valeu o título foi contra o Uruguai no mesmo Maracanã onde, 39 anos antes, o rival bateu os brasileiros na fatídica decisão do Mundial de 1950.

“A cobrança que enfrentamos naquela época era por conta de 1950, porque iríamos jogar de novo com o Uruguai, e na semana da final teve aquela pressão para a gente ganhar, mas nós jogadores falávamos entre a gente que naquela época não éramos vivos e então a gente dizia que não precisava se preocupar com isso”, afirmou Silas.

Já ao fazer uma comparação entre a seleção brasileira de 1989 e a atual, o ex-meio-campista destacou que aquela equipe possuía um número muito maior de craques do que o time de Tite, embora acredite que o Brasil tenha hoje bons valores e possa ser campeão mesmo sem contar com o seu principal jogador.

“Na época a gente não tinha ‘só um Neymar’, a gente tinha muito mais jogadores. Eu acho que naquela época todo mundo era muito protagonista da sua posição, não digo que os jogadores eram melhores ou piores do que são os de hoje, mas aquela era uma seleção diferenciada, a gente tinha Aldair, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e Ricardo Gomes para a zaga, tinha um dos melhores goleiros de todos os tempos, que foi o Taffarel. Tinha o Mazinho e o Branco nas laterais, tinha o Dunga e o Valdo no meio-campo, tinha Romário e Bebeto e ainda tinha no banco o Alemão, o Renato Gaúcho, o Tita, o Cristóvão, o Muller, o Baltazar e a gente só não tinha o Careca porque ele estava machucado e depois voltou para defender o Brasil nas Eliminatórias da Copa”, ressaltou Silas, enfileirando os destaques daquela época.

Aquela Copa América de 1989 teve o seu título definido por meio de um quadrangular final, realizado inteiramente no Maracanã e no qual o Uruguai acabou sendo o rival derradeiro dos brasileiros em um jogo no qual as duas seleções chegaram à última rodada com chances de serem campeãs. Antes disso, o time de Lazaroni abriu esta fase derrotando a Argentina por 2 a 0, com o emblemático golaço de sem pulo de Bebeto e também com Romário balançando as redes. Em seguida, a equipe nacional superou o Paraguai por 3 a 0, com dois gols de Bebeto e mais um de Romário, que depois seria o autor do gol da vitória por 1 a 0 sobre os uruguaios que assegurou a taça aos olhos de 132.743 torcedores no maior palco do futebol brasileiro.

TAÇA DE PESO – Antes deste troféu conquistado com sabor de revanche para o Brasil, Lazaroni esteve a ponto de ser demitido em plena disputa da Copa América. O então recém-eleito presidente da CBF, Ricardo Teixeira, chegou a tomar a decisão de mandar o treinador embora em meio ao início ruim de campanha da seleção, mas Eurico Miranda, na época diretor de seleções da entidade, conseguiu segurar o comandante, que com o título continental ganhou força para continuar no cargo até o Mundial de 1990. E hoje, embora a CBF garanta que Tite permanecerá no comando mesmo se não conquistar o título sul-americano, o treinador sabe que triunfar pelo Brasil neste grande evento em casa tem um peso muito importante para ele ter o respaldo que precisa no ciclo que visa principalmente a Copa do Mundo de 2022, no Catar.

Ao fazer uma comparação entre os momentos vividos por Lazaroni no passado e por Tite no presente, Silas minimizou o peso daquele episódio de 1989 e deixou claro que apoia a continuidade do trabalho do atual comandante na seleção.

“Na verdade, naquela época, não chegou para nós jogadores isso (a possível saída de Lazaroni), e hoje tem muita coisa que também não chega. Eles (atletas) sabem que o treinador vem e vai. E se amanhã ou depois o Tite sair, eles vão fazer o quê? Hoje não vejo um treinador mais preparado do que o Tite para a seleção. Ele teve muito problema no período da Copa, com o Neymar ficando dois meses parado, e de certa forma a gente ficou refém do jogo do Neymar. Mas, com tudo o que o Neymar está vivendo, está difícil focar só no campo”, opinou.

DESENCANTO – Antes de tentar conquistar a Copa América, Tite sentiu na pele o clima de desencanto da torcida com a seleção atualmente. Primeiro viu o Brasil vencer o Catar por 2 a 0, em Brasília, no estádio Mané Garrincha cheio de lugares vazios nas arquibancadas. E no amistoso ainda amargou a lesão sofrida por Neymar que provocou o corte do astro do torneio continental. Em seguida, no jogo final de preparação para a competição, a seleção goleou Honduras por 7 a 0 diante de um público inferior a 17 mil pessoas no Beira-Rio, em Porto Alegre.

Ao ser questionado sobre como viu a pouca presença de público neste último jogo, Silas disse acreditar que isso “tem muito a ver com a não participação do Neymar”. “Ele leva muita gente para o estádio. A ausência do Neymar pode atrapalhar…, mas acho que este é um momento que tem de ser de apoio, agora é que o Brasil precisa de torcida. Quando a fase está ruim é que a torcida tem de ir ao estádio. Na fase boa muitas vezes nem precisa de torcida. Assim como aconteceu com a gente lá em Recife, onde demos uma guinada para o título em 1989, a seleção precisa deste apoio agora”, enfatizou.

4 CIDADES E 4 ESTÁDIOS EM 1989, 5 SEDES E 6 ARENAS EM 2019 – Assim como há três décadas, o Brasil concentrará as disputas de jogos da Copa América em poucas cidades – foram quatro (Rio, Goiânia, Salvador e Recife) em 1989 e agora serão cinco (as capitais fluminense e baiana novamente, além de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre). A principal diferença é que agora serão seis arenas, sendo duas apenas em solo paulistano, enquanto há 30 anos foram apenas quatro estádios recebendo duelos.

Totalmente remodelados e diferentes do que eram no passado, Maracanã e Fonte Nova serão os únicos estádios que voltarão a ser palcos da Copa América em 2019. Arena Corinthians e Morumbi, Mineirão e Arena Grêmio serão as outras sedes de confrontos da competição, que em 1989 contou com o hoje pouco badalado Serra Dourada, além do Arruda, entre as suas sedes.

O Maracanã novamente receberá o jogo que decidirá o título continental, em 7 de julho, quando o Brasil espera estar presente em campo para buscar uma taça que não conquista desde 2007. Ao comentar sobre quais seleções considera favoritas ao troféu, Silas apontou ao Estado: “O Brasil, por estar jogando em casa; o Uruguai, pela tradição; a Argentina, pelo Messi; e o Chile, como atual bicampeão, por já ter aprendido o ‘caminho das pedras’ e por ter tomado gosto pelos títulos”.

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