Sem inspiração e ritmo Coritiba cai de quatro

O Coritiba decepcionou na volta à Copa Libertadores da América após a ausência de 18 anos. Após um bom começo, o enrolado esquema tático do técnico Antônio Lopes desmoronou e deu brechas para o empolgado Sporting Crystal aplicar uma sonora goleada por 4 a 1. Com o resultado, o Alviverde fica na última posição do seu grupo na competição e volta para casa com a obrigação de vencer o Olympia, na próxima terça-feira, no Couto Pereira.

A previsão do técnico Antônio Lopes de que os adversários do torneio “não eram nada disso” foi acertada. O Coritiba começou com tudo e não quis saber se estava na casa do adversário. Parecia que o Sporting Crystal era o visitante, esperando brechas para encaixar o contra-ataque. O time do Alto da Glória dominou o meio-de-campo e não deixou os peruanos chegarem com perigo.

Com um ataque insinuante de Éder, Luís Mário e Laércio, os alviverdes começaram a ensaiar a chegada nas redes de Roverano. O primeiro gol amadureceu e após boa tabela de Éder e Luís Mário, este lançou Capixaba na ponta-esquerda, que cruzou para Laércio só completar para o gol. A zaga peruana bateu cabeça e mostrou toda sua fragilidade.

O gol mudou tudo. Quem deveria ficar mais tranqüilo com a vantagem cometeu falhas gritantes e permitiu uma virada incrível. Em duas jogadas isoladas, o Sporting virou o marcador. O meia Éder perdeu a bola no meio e deixou os peruanos armar o contra-ataque. Soto carregou a bola como quis para dentro da área, passou por dois marcadores e chutou no canto esquerdo de Fernando.

A virada veio logo em seguida. Novamente, o lado direito do Coritiba não apareceu bem na marcação e deixou Quinteros livre para cruzar. Bonnet subiu e fez o 2.º de cabeça. Mesmo com o castigo, o pérola negra Laércio ainda teve uma chance de ouro na pequena área de deixar tudo igual, mas chutou em cima de Roverano.

No segundo tempo, o panorama continuou o mesmo, com jogadas esporádicas dos dois lados. Para tentar melhorar o lado direito, Lopes recolocou Adriano na sua e lançou mão de Jucemar. Pouco melhorou. O ímpeto do início da primeira etapa ficou para trás e o fraco futebol mostrado no paranaense voltou a aparecer, com o desentrosamento e a falta de qualidade.

As coisas começavam a piorar e a casa cair, o volante Roberto Brum mostrou as travas de sua chuteira para um adversário e tomou o cartão vermelho. O árbitro ainda ajudou quando não marcou um pênalti claro de Esmerode em cima de Sérgio Jr, que havia entrado no lugar de Orejuela. Deveria ter expulso o uruguaio pela falta desclassificante.

Não era tudo. Perdido em campo, o Coritiba viu Quintero lançar Sérgio Jr. na área. Ele matou no peito e, de meia bicicleta, encobriu Fernando. Um golaço. Para finalizar, Esmerode fez a lambança definitiva e perdeu a bola para o brasileiro, que lançou Bonnet. Como não é bobo, nem nada, invadiu a área e tocou na saída do goleiro alviverde, que nada pôde fazer para evitar o vexame.

A dureza de jogar no exterior

Lima

– Vida de jogador brasileiro no exterior é fácil, não? O pensamento comum do torcedor é este: é possível conviver em outras culturas com os altos salários e as mordomias que existem. Mas o único brasileiro do futebol peruano não se sente assim. Sérgio Júnior, que ontem ficou entre os reservas do Sporting Cristal no jogo contra o Coritiba, confessa que está “louco” para voltar à terra natal.

Aos 24 anos, Sérgio está há dois no Peru. “Não posso reclamar da vida, este é um país bem tranqüilo”, afirma o atacante. Ele começou nas categorias de base do Fluminense, e lá conheceu um certo Roberto Brum. “Lembro dele nos juniores. É um bom sujeito e um jogador com qualidades”, garante o “Senador”. “O Roberto é meu amigo, jogamos juntos desde meninos”, completa Sérgio, aparentando mais intimidade.

A chance para jogar no Peru veio quando as portas se fecharam no Brasil – e quando havia um grande respaldo dentro do Sporting Cristal, clube que é gerido pela maior cervejaria do país. “O Paulo Autuori (hoje técnico da seleção peruana) estava aqui, e isso fez com que vários brasileiros viessem para o Cristal”, conta o atacante, que foi companheiro de Donizete Amorim e Leonardo Valença, ambos ex-Atlético.

Além deles, outros brasileiros despontavam por aqui, como Esídio (famoso por atuar mesmo tendo o vírus HIV, que transmite a Aids), Pingo, que deixou o Peru no final do ano passado, e Julinho. Este, um dos destaques do Cristal, já se naturalizou peruano e chegou a ser convocado para a seleção nacional. “Ele está machucado, mas é o grande ídolo do clube e do futebol peruano”, confirma Sérgio Júnior.

Ele, por sua parte, está em um momento de tranqüilidade, apesar de ter perdido a posição entre os titulares para Orejuela. “Eu vivo bem, os clubes não atrasam salários e pagam quinzenalmente”, afirma, mostrando uma realidade estranha aos jogadores brasileiros. Sérgio mora com toda a família em Miraflores, a região mais arborizada de Lima – o distrito tem características urbanas semelhantes às dos bairros da zona sul do Rio de Janeiro, como Copacabana e Leblon.

E se está tudo tão bem, porque ir embora? “Não agüento mais”, confessa, com surpreendente sinceridade. “Estamos muito sozinhos, só sobrei eu de brasileiro no futebol peruano. Ficou muito complicado. Vou de casa para o treino e do treino para casa, não faço mais nada. Está na hora de voltar para o Brasil”, desabafa. Para Sérgio Júnior (e tantos outros pelo mundo), é melhor trocar o certo do exterior pelo duvidoso do Brasil.

Dias agitados no calendário coxa

 Lima

– Os próximos dias serão agitados para o Coritiba. Além da longa viagem de volta, o elenco tem que se preparar para os jogos contra o Malutrom, provavelmente no sábado, e contra o Olímpia, já na próxima terça-feira. Para completar, a diretoria apresenta oficialmente amanhã o meia Igor e o atacante Tuta, que praticamente fecham o elenco – pelo menos até o campeonato brasileiro.

Segundo o vice-presidente Domingos Moro, a negociação com o centroavante foi mais rápida do que se imaginava. “Eu falei com o Tuta no sábado e perguntei se ele tinha interesse em jogar no Coritiba. Ele disse que sim, e no dia seguinte eu liguei, do Aeroporto de Cumbica, para fazer a proposta, que foi aceita. É um acréscimo de qualidade ao nosso elenco”, conta.

Quem gostou foi o técnico Antônio Lopes, que aposta no crescimento progresivo da equipe. “Para as próximas partidas, já vamos ter o Aristizábal e o Igor, e ainda o Tuta para a segunda fase da Libertadores. O elenco ganha em força, e isso é muito positivo”, comenta o treinador, já citando o meia-esquerda, ex-Flamengo, que teve a inscrição para a Libertadores confirmada pela Conmebol.

E, dessa forma, aumenta a possibilidade do Cori jogar com três atacantes na seqüência do campeonato paranaense e na segunda fase da Libertadores. Caso todos os contratados joguem, Lopes pode colocar o time com Igor e Luís Mário na armação, e Aristizábal e Tuta na frente. Mas isso depende da preparação – o centroavante diz precisar de quinze dias para se preparar, enquanto espera-se a estréia de Ari no jogo com o Olímpia.

Retorno

Será atribulada a volta da delegação alviverde. O fuso horário (Lima, por causa do horário de verão, está três horas atrasada em relação ao horário de Brasília) “aumenta” a viagem, que começa às 12h15, horário local. Do aeroporto Jorge Chávez o avião segue para São Paulo, onde tem chegada prevista para as 20h20. lá, duas horas de espera até o vôo para Curitiba, que sai às 22h15 e deve chegar no aeroporto Afonso Pena às 23h.

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