Santos tem uma difícil missão na Libertadores

Desde a campanha vitoriosa no campeonato brasileiro, o Santos sempre conseguiu fazer um bom resultado no primeiro jogo dos confrontos de mata-mata. Assim ocorreu nas vitórias diante de São Paulo, Grêmio, Corinthians e Independiente Medellín e os empates fora de casa contra Nacional-URU e Cruz Azul-MEX. No entanto, na final da Copa Libertadores, a situação não é a mesma. Afinal, o Peixe perdeu por 2 x 0 em Buenos Aires e, hoje, terá que partir para a reabilitação contra o Boca Juniors se quiser ficar com o título.

Mesmo sabendo da dificuldade da situação, o Santos está otimista. Um dos trunfos do time do técnico Emerson Leão vai estar fora de campo. “Estou contente em saber que a nossa torcida vai estar presente (cerca de 75 mil pagantes). Recebemos apoio nas ruas, com os torcedores dando uma palavra de incentivo que vamos alcançar a vitória”, afirmou o volante Paulo Almeida.

Outro fator que o Santos tenta se apegar é o reencontro com o estádio do Morumbi, palco da vitoriosa decisão do Campeonato Brasileiro contra o Corinthians. “Temos grandes lembranças de lá. É muito bom poder voltar a pisar no Morumbi”, afirmou o atacante Robinho, que espera repetir as pedaladas que desconcertaram o corintiano Rogério no ano passado.

Sobre a escalação, o técnico Emerson Leão adotou uma postura de mistério. No entanto, a certeza é que o meio-campista Elano está vetado pelo departamento médico. No treino desta terça-feira, o jogador voltou a sentir um problema no joelho no momento em que trabalhava finalizações ao gol. Existe a possibilidade até de o Peixe atuar com três zagueiros, para liberar o lateral Léo.

Tudo igual

O técnico do Boca Juniors,Carlos Bianchi, já definiu qual será a postura do seu time contra o Santos hoje, no Morumbi. “Temos de pensar que a partida vai começar com o placar de 0 a 0. O Boca não pode ficar esperando suportar a pressão do adversário durante os 90 minutos.” Mesmo assim, o treinador se disse feliz com a vantagem de dois gols obtida no primeiro jogo. “Prefiro ter dois a mais do que dois a menos”, declarou.

Bianchi não fez mistério no que diz respeito à escalação do time, que não terá o meia-atacante Schelotto, contundido. Villareal será o substituto. Mas quando o assunto é esquema tático, o técnico é só mistério. “Isso é difícil de falar sem saber como vai jogar o adversário”, disse o treinador, que se vencer hoje será o técnico com maior número de vitórias na Copa Libertadores da América, quatro, superando Osvaldo Zubeldía, que foi seu treinador e a quem guarda carinho especial.

Leão perto da consagração

Um homem maduro, que atravessou as últimas quatro décadas no futebol, consagrado como um dos maiores goleiros do planeta, chega agora ao momento mais importante de sua carreira de treinador. Emerson Leão, 53 anos, está prestes a escrever o nome na seleta lista dos técnicos brasileiros campeões da Libertadores de América, o título maior que um clube pode conquistar no continente sul-americano.

Mas mesmo que não o vença, Leão tem a alegria e o privilégio de poder dizer que, graças ao seu trabalho e à opção de acreditar na juventude, revelou simples promessas em realidade há poucos meses, e dirige um time que pratica um bom futebol, em várias oportunidades, um futebol encantador. A preocupação maior dessa equipe é atacar, sempre, se possível, com espetáculo. Só isso, já vale o ingresso.

“É a característica do time do Santos, não tem jeito”, diz. E hoje, com a necessidade de desfazer a vantagem do Boca Juniors de dois gols, o Santos não terá outra alternativa a não ser jogar na ofensiva.

“O time deles (Boca) se defende bem, mas nós atacamos bem”, repete. Leão disse que ficará satisfeito se o Santos jogar o “trivial”.

Entenda-se como trivial uma equipe que “pega, não deixa jogar e agride”, e se isso acontecer hoje, o Boca estará em apuros. “A última vez que jogamos assim foi sábado passado”, prosseguiu, referindo-se à vitória que a equipe reserva obteve sobre o Bahia, por 4 a 0.

Sem dúvida

Leão sabe que o ponto alto dos santistas foi alcançado na etapa final do campeonato brasileiro de 2002, quando seu time surpreendeu os favoritos, venceu e, o mais importante, não deixou dúvidas de quem era o melhor. “Hoje, já se foram sete meses daquela conquista, e podemos crescer mais ainda”, acredita.

O Leão do Santos, quem diria, é do tipo conciliador. O grupo não dispõe de somente 11 titulares. Os reservas não o questionam e, quando requisitados, não decepcionam, querem ajudar. Basta lembrar do desempenho do goleiro Júlio Sérgio na partida contra o Cruz Azul, no México, de Fabiano, em diversas oportunidades (até como centroavante ele atuou), e também de Nenê.

A favor do técnico, o comando total exercido sobre os atletas. Leão tem domínio do grupo, não ouve desaforos nem reclamações de quem fica no banco. As conhecidas arrogância e antipatia do atleta deram lugar à sabedoria e paciência do treinador. Os jogadores o respeitam, acreditam no homem e no profissional.

Neste momento em que o Santos chega a mais uma decisão, o treinador tem uma importante participação. “Estamos trabalhando mais o psicológico, essa preparação, agora, é fundamental”. E o Boca que se cuide: se Leão falou que está trabalhando sério, dificilmente as coisas sairão erradas.

Taça deve ter 36 times em 2004

O Brasil deve ganhar mais uma vaga na Copa Libertadores de 2004 e garantir pelo menos cinco representantes na competição. A informação foi divulgada ontem, em São Paulo, pelo presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), o paraguaio Nicolás Leoz. De acordo com o dirigente, a idéia é aumentar o número de participantes de 32 para 36. Abre-se, portanto, mais uma chance para os times paranaenses – principalmente o Coritiba, quarto lugar do campeonato brasileiro.

E, em tese, vale o critério técnico para a decisão das vagas, como afirmou o diretor do departamento técnico da CBF, Virgílio Elísio, em palestra realizada em Curitiba. “Nós vamos respeitar o Estatuto do Torcedor. E é mais justo com as equipes que fazem boas campanhas”, reconhece. Nesse caso, se Cruzeiro e Santos (caso vença a Libertadores) ficarem entre os quatro primeiros do Brasileiro, até o sexto lugar poderá participar do principal torneio interclubes do continente.

A Libertadores tinha, até 1999, somente 20 participantes na primeira fase, além do campeão, que entrava diretamente nas oitavas-de-final. Mas seu inchamento era bom politicamente para a Conmebol, que, em 2000, elevou esse número para 32 clubes. A Associação de Futebol da Argentina e a Confederação Brasileira de Futebol foram as mais beneficiadas.

O Brasil conta, hoje, com quatro vagas na competição continental. Os três melhores do Campeonato Brasileiro se juntarão ao Cruzeiro, campeão da Copa do Brasil. “Se aumentarmos o número, o critério de escolha de mais um time é das entidades locais. Brasil e Argentina devem fazer um torneio para definir a última vaga”, ponderou Leoz. (Eduardo Maluf e Cristian Toledo)

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