Salário agora é sinônimo de emprego

Quem imaginou que a conquista do Pentacampeonato fosse inflacionar ainda mais o mercado do futebol brasileiro teve um ledo engano. As redução nas cotas de televisão e o estado financeiramente enfermo dos clubes, no Brasil e no mundo, está provocando um processo de contenção de despesas. Solidários com o período de dificuldades do futebol italiano, os craques Ronaldinho, Vieri e Recoba, da Inter de Milão, propuseram uma redução salarial. Sem falar que o Barcelona dispensou Rivaldo, ontem, com a definida intenção de economizar US$ 7 milhões com seus salários.

No Brasil, a história tem sido um pouco diferente. Justamente em função da valorização do título mundial por parte dos atletas, muitos ainda vivem a ilusão dos salários milionários – que, por sinal, os clubes não costumam pagar em dia. Um exemplo claro disso é o tetracampeão Romário, que está sendo preterido justamente por pedir um salário que chega à casa dos R$ 300mil.

Mas os clubes não podem mais bancar o sonho. Em uma situação periclitante, ocasionada por anos de administrações sonhadoras e irresponsáveis, que gastavam muito mais do que podiam para ter os maiores jogadores do futebol brasileiro, os clubes brasileiros – e paranaenses – estão cada vez mais conscientes.

Consciência

Na última semana, a dispensa de jogadores como Guilherme e Marques, pelo Atlético Mineiro, e Rodrigo Fabri e Zinho, pelo Grêmio, vai ao encontro da política dos clubes da capital. No Paraná Clube, a diretoria abriu mão de seu astro Lúcio Flávio, para o rival Coritiba, justamente por prever a impossibilidade de pagar o salário do meia, valorizado após o empréstimo ao São Paulo, no primeiro semestre. “Gostaríamos de ficar com ele, mas estouraria nosso orçamento”, explicou o gerente de futebol do clube, Marcus Vinícius.

Dentro da política de redução da folha de pagamento, o Paraná abriu mão de jogadores como Hélcio e Ageu, que foram emprestados, e mesmo trazendo nove reforços, conseguiu reduzir a folha de pagamento em 20%. “É uma vitória conseguir reduzir os gastos sem perder qualidade. Nosso elenco continua com o mesmo potencial”. Segundo informações de bastidores, com o valor do salário de Hélcio, a diretoria consegue pagar os dois reforços vindos do Galo, Rodrigo e Bosco. E com a saída de mais nove atletas, a folha não ultrapassa R$ 300 mil.

Custo-benefício

No Coritiba, os cortes começaram ainda no final da Copa Sul-Minas. O primeiro a rodar foi o técnico Joel Santana, seguido pelo meia Evair, que até então era detentor do maior salário do clube. Na época, o secretário do Conselho Administrativo do clube, Domingos Moro, alegou que a relação custo-benefício não estava compensando. “Evair estava jogando menos do que esperávamos”.

A chegada do técnico Paulo Afonso Bonamigo reduziu os gastos com o comando técnico e a política “pés no chão” imperou até o final da semana passada. “Todos sabem da situação do clube e não vamos trazer medalhões, pois não teremos como pagar”, explicou o lúcido Moro.

No entanto, no início desta semana, a diretoria coxa-branca permitiu uma extravagância ao contratar o meia Lúcio Flávio, que ganha acima do teto do clube, mas estima-se que não mais que o experiente meia Sérgio Manoel. E se for levada em conta a colocação do técnico Bonamigo, de que o jogador “é a pedra 100” do time, a reposição da peça “Evair”, o Coritiba saiu no lucro. “Foi uma boa compensação e mesmo assim reduzimos nossa folha algo em torno de 10%”, diz Moro, que acredita que essa redução possa ser maior. “Ainda não colocamos a “economia” na ponta do lápis”.

Sem loucuras

Até mesmo o campeão brasileiro, o Atlético, enxugou as despesas. Sem concordar com uma redução salarial, o Rubro-negro acabou optando pela saída do técnico Geninho, antes mesmo da Copa dos Campeões, por receber R$ 88 mil mensais. No mesmo caminho foi o zagueiro Nem, um dos maiores salários do clube – cerca de R$ 70 mil.

No entanto, o diretor-superintendente do clube, Alberto Maculan, garante que a redução dos custos ainda está longe do ideal. “Houve um alívio, mas ainda temos que trabalhar bastante para chegar ao ideal”. Segundo Maculan, o Rubro-negro está em compasso de espera devido ao acerto do Clube dos 13 com a Rede Globo. “Temos que planejar os gastos em cima da receita”, disse. No entanto, independente da incerteza relativa às cotas de televisão, uma coisa é certa: o time deve perder Kléber ou Alex Mineiro, detentores dos maiores salários do elenco. “O Atlético tem recebido sondagens e se houver uma proposta interessante, poderemos negociá-los”.

A nova realidade é esta: para os clubes, não existe mais aquela história de jogador “inegociável”. A filosofia do “bom e barato” é a palavra de ordem no Paraná e no mundo. E os jogadores que não assimilarem a nova realidade, vão ter que mudar de profissão.

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