Rubinho joga “nas mãos de Deus”

São Paulo – O primeiro passo foi dado, embora ficar na frente em treino livre não represente muito. Mas Rubens Barrichello começou bem o fim de semana do que considera o GP de sua vida, a corrida de Interlagos, despedida da F-1 em 2004. O piloto da Ferrari fez o melhor tempo do dia, com 1min11s166, recorde da pista. “Começamos bem. O que Deus nos reservou para este fim de semana está reservado”, disse Rubens.

O brasileiro resumiu em uma palavra como esteve seu carro ontem: “Demais”. Mas evitou fazer previsões para os treinos de hoje, que definem o grid, e muito menos para a corrida. “A pista foi melhorando aos poucos, ganhando aderência na medida em que ia emborrachando. Mas pode vir chuva por aí. O negócio é continuar trabalhando com calma.”

Michael Schumacher foi o 2.º ontem, 0s168 atrás do companheiro. Como a maioria dos pilotos, reclamou das crônicas ondulações de Interlagos. “É igual para todo mundo, só que dificulta bastante para acertar o carro”, disse o alemão, que venceu o GP do Brasil quatro vezes. Pilotos brasileiros não ganham em casa desde 1993, com Senna, e desde 1994 nenhum consegue pontuar em casa. “Esse jejum acaba este ano, se Deus quiser”, falou Felipe Massa, da Sauber, 8.º ontem. Ricardo Zonta, o outro brasileiro da turma, foi o 14.º.

O treme-treme da pista foi particularmente sentido na reta dos boxes, na aproximação do S do Senna, e na curva 6, a Laranjinha, em aclive e com saída cega. “Parece que ficou pior que no ano passado, apesar de terem recapeado alguns trechos”, queixou-se Ralf Schumacher, que se despede da Williams amanhã. “Destrói o fundo do carro”, acrescentou Zonta.

De acordo com os serviços meteorológicos, há 60% de chances de chuva hoje à tarde e 80% amanhã. No ano passado, o GP brasileiro foi marcado por uma tempestade momentos antes da largada. Com muita água, seis carros bateram na curva do Sol. A 15 voltas do fim, uma série de acidentes da reta dos boxes forçou a interrupção da prova, gerando confusão na cronometragem: Kimi Raikkonen recebeu o troféu de vencedor, mas dias depois, revistos os tempos, Giancarlo Fisichella foi declarado primeiro.

Nada menos do que 21 dos 25 pilotos que treinaram ontem fizeram tempos melhores que o da pole de 2003, 1min13s807, de Barrichello. Sinal claro da escalada de velocidade da F-1, que ontem mesmo baixou um pacotão com mudanças nas regras para 2005 e 2006 para aumentar a segurança.

Os treinos de hoje começam às 8h em Interlagos, com duas sessões livres. Ao meio-dia acontece a pré-classificação e, a partir das 13h, o treino que define o grid de largada.

Massa e Zonta acreditam em bom grid

Ricardo Zonta, da Toyota, e Felipe Massa, da Sauber, acreditam que, se não houver contratempos, poderão ficar entre os dez primeiros no grid de largada do GP Brasil de Fórmula 1.

Massa era o mais otimista ontem. Mesmo porque, ele foi o oitavo melhor na pista e o seu companheiro de equipe, o italiano Giancarlo Fisichella, ficou em 17.º lugar. Depois de ter tido dificuldades para ajustar o carro nos treinos livres da manhã. “Pelo que fiz acho que dará para fazer uma grande corrida domingo e talvez marcar uns pontinhos.”

Este é o segundo GP de Massa no Brasil. Em 2002, bateu e abandonou.

Zonta não se abalou com as duas rodadas que deu durante os treinos de ontem. “O carro tocou em algumas partes sujas da pista e não voltava mais, mas isso não deve acontecer quando ela estiver mais emborrachada”, justificou.

Segundo o paranaense da Toyota, o que aconteceu foi resultado da busca por melhores pontos de passagem que ajudem a diminuir o tempo e não por problemas do carro. Ele, no entanto, reclamou bastante da pista. “As ondulações na reta dos boxes está atrapalhando muito, pega no assoalho”, afirmou Zonta.

Se não bastassem os problemas com a pista, Zonta estava com 38 graus de febre. Ele terminou o treino na 14.ª posição e torce para que não chova no domingo. “Para nossa equipe, é melhor a pista seca”, contou, que amanhã faz sua terceira corrida em Interlagos na F-1. E está otimista. Segundo ele, o jejum de 10 anos dos brasileiros sem pontuar no GP Brasil vai acabar no domingo. “O Rubinho vai ganhar. Eu e Massa vamos pontuar”, garantiu.

Equipes já treinam com versões dos carros de 2005

São Paulo – Embora o pacotão de Max Mosley, que está em Interlagos, tenha sido baixado apenas ontem, as equipes já sabiam que era essa versão que seria aprovada. Muitas delas já estão treinando há algumas semanas com carros configurados para 2005: com pneus duros, motores duráveis e aerodinâmica modificada.

Uma delas é a BAR. Enrique Bernoldi completou mais de 200 voltas em Jerez nessas condições. “Motor não será problema. A gente andou mais de mil quilômetros sem trocar e foi tranqüilo”, disse o brasileiro. Hoje, um motor roda pouco mais de 400 km num fim de semana de GP, entre treinos e corrida. No ano que vem, essa distância dobra.

Os pneus mais duros, de acordo com o piloto, deixam os carros menos aderentes nas curvas, mas até mais rápidos nas retas. “Os carros terão de ser mais neutros. Tem gente que gosta de carro saindo de frente, que gasta pneu dianteiro, e tem quem goste do carro mais traseiro, o que faz gastar muito atrás. Como hoje tem muito pit stop, colocam pneus novos toda hora, não tem problema. No ano que vem, o acerto dos carros terá de ser diferente para não gastar mais na frente ou atrás, já que é um jogo só.”

As mudanças aerodinâmicas deixaram os carros mais “nervosos”, segundo Bernoldi. “No início a gente estava virando mais de três segundos mais lento em Jerez do que com o carro deste ano. Mas só no acerto, tiramos um segundo. Mas pelo menos não vai baixar muito.”

Para o ex-piloto Ricardo Rosset, o estilo de guiar no ano que vem terá de mudar. “Os pilotos terão de se adaptar. Os carros ficarão mais lentos, e é difícil andar mais devagar. Talvez isso favoreça os mais novos, aqueles que vêm de categorias menores.” O inglês Mark Blundell, que também correu na F-1, prevê corridas melhores. “Com menos pressão aerodinâmica e pneus menos aderentes, todo mundo terá de frear antes. Assim, teremos mais ultrapassagens. Mas mais acidentes e rodadas, também. Mais ação, em resumo. Se melhorar as corridas, ótimo. É isso que precisamos.”

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