Rompendo barreiras e fazendo história no apito

O torcedor paranista pôde conferir de perto o trabalho do trio de arbitragem feminino que está dando o que falar nesse campeonato brasileiro, A árbitra Sílvia Regina de Oliveira e as assistentes Aline Lambert e Ana Paula Oliveira. Elas deram um brilho a mais na goleada por 4 a 2, comandada pelo atacante Renaldo, na quinta-feira passada.

Dura na queda, Sílvia não falou antes da partida, mas autorizou o registro fotográfico do trio, antes de vestir o uniforme de trabalho. Mas ontem, em entrevista à Tribuna, as jovens assistentes conversaram sobre o “oba-oba” que se criou em torno delas em função da quebra de um tabu: este ano é a primeira vez que um trio de mulheres apita jogos da primeira divisão do Brasileirão.

Ana Paula, que ganhou o status de musa, diz que não se incomoda com os holofotes. “É bacana esse reconhecimento. Mas assim como o bom trabalho aparece, se cometermos erros eles terão proporções maiores”, diz a moça. Como não poderia deixar de ser, Ana Paula já é reconhecida nas ruas e às vezes escuta uma gracinhas. “Tem umas piadinhas bobas que ninguém merece ouvir. Mas está no preço”. De jogadores e colegas, entretanto, elas garantem que o respeito impera. “Na hora do jogo, todos estão trabalhando e não há espaço para isso. No nosso caso, rola até mais respeito”, garante Aline Lambert, que usa o sorriso cativante para amenizar os ânimos mais exaltados. “Quando algum jogador fica mais passado, dou um sorriso aberto e a coisa acaba.”

Tanto Ana Paula como Aline optaram pela arbitragem por “genética”. Explica-se. Elas são filhas de árbitros e pegaram gosto pela coisa vendo os respectivos pais em ação. “Eu nem era muito ligada a futebol. Mas com 14 anos, ajudei meu pai em um jogo e gostei. Naquele dia comecei a me preparar para seguir seu caminho”, diz Ana Paula, que também é funcionária pública da Prefeitura de Hortolândia, no interior de São Paulo. Aline, que se formou há apenas três anos, é formada em educação física e aproveitou o curso para se especializar em arbitragem. “Como já gostava, era meu tema favorito e acabou virando profissão”, conta.

Preconceito

No último domingo, o trio feminino enfrentou uma prova de fogo: apitou o clássico entre São Paulo e Corinthians, no Morumbi, com uma boa atuação. Entretanto, elas não escondem que o preconceito ainda existe. “Se não existisse, apitaríamos Libertadores e Copa do Mundo. Mas estávamos engatinhando, agora estamos dando os primeiros passos e um dia a gente chega lá”, diz Ana Paula. No início da carreira, Aline sentiu os olhares desconfiados dos colegas de profissão. “Muitas vezes, achavam que eu era mulher de árbitro e quando era escalada para bandeirar uma partida, parte dos árbitros ficava com o pé atrás. Hoje é diferente.”

Além de competentes, as moças também fazem questão de andar na linha, deixando o visual sempre bom. “A vaidade é uma característica muito feminina. Por isso, faço questão de passar batom, rímel incolor e prender bem o cabelo antes dos jogos. É um pequeno ritual”, diz Ana Paula. No corrido dia-a-dia, ela encontra tempo para cuidar do corpo. “Treino todos os dias, pois o preparo físico é fundamental para um bom trabalho”. Com tanta dedicação, não se duvida que elas quebrem ainda mais barreiras.

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