Robinho, um garoto que vale 50 milhões de dólares

São Paulo – Proteção ao patrimônio do clube, supervalorização ou plataforma política do presidente Marcelo Teixeira? A multa rescisória de até US$ 50 milhões imposta pelo Santos à quebra de contrato do atacante Robinho divide opiniões e eleva a cotação do garoto de 19 anos a padrões internacionais.

A cláusula astronômica vale para possíveis europeus interessados. Se um clube do Brasil quiser contratar Robinho, terá de desembolsar US$ 35 milhões, mas está proibida a venda triangular (direitos federativos adquiridos por clubes brasileiros e repasse a europeus).

“Os valores são ilusórios”, resume o agente da Fifa e procurador de Robinho, Wagner Ribeiro. “É apenas uma forma do Santos não perdê-lo por pouco dinheiro, pois nenhum jogador vale tanto”, afirmou, citando as transações de Ronaldinho Gaúcho (negociado por cerca de US$ 26 milhões do Paris St-Germain, da França, ao Barcelona, da Espanha) e Kaká (vendido por US$ 8 milhões do São Paulo ao Milan, da Itália). “A real valorização do atleta só ocorre quando ele se destaca por um clube europeu”.

Para o empresário Gilmar Rinaldi, o caso de Robinho é simples: ao renovar o compromisso até abril de 2007 e aumentar seu salário para R$ 80 mil – aproximadamente US$ 28 mil – o Santos adotou estratégia de proteção a uma de suas principais estrelas, o que nem todos os clubes do País fazem. “Quando as grandes equipes européias têm um jogador que pode interessar a outras, aumentam seu salário e o tempo de contrato e se aparecer uma boa proposta, o negócio é fechado”. A opinião é compartilhada pelo ex-jogador Wladimir, de 49 anos. “O Santos quis assegurar que o Robinho continue até o fim do contrato, tanto que o atleta concordou com tudo o que foi assinado”.

Gilmar entende que esta é a maneira pela qual os europeus conseguem evitar o desmanche de seus elencos, problema comum no Brasil. “O Santos mostra boa adaptação à Lei Pelé, que na verdade, é a Lei da Fifa, que pode prejudicar ou beneficiar os clubes, dependendo da maneira como trabalham”.

Há alguns meses, o Barcelona foi o primeiro clube do exterior interessado em Robinho – a negociação não foi fechada porque os valores não agradaram aos dirigentes santistas. Com o novo contrato, apenas gigantes como Real Madrid, Milan ou Manchester United teriam condições de tirar Robinho da Vila Belmiro. “Não se pode avaliar o preço dos direitos federativos com base na multa rescisória, mas o futuro do Robinho será um grande clube europeu”, disse Gilmar.

Alguns, porém, entendem que mesmo as grandes equipes européias não têm cacife para levar Robinho. “Nenhum clube do mundo tem tanto dinheiro”, arrisca o ex-jogador Paulo Borges, de 58 anos. “Se oferecerem US$ 15 milhões, o Santos vende”. No fim da década de 60, o então ponta do Bangu foi contratado pelo Corinthians, na maior transação da época: cerca de US$ 1 milhão. “O Robinho não pode se abalar ao se ver envolvido com tanto dinheiro. Tem de jogar ainda mais e mostrar que vale tudo isso” aconselha. “Não há motivo para ele se empolgar, pois não vai receber essa quantia. Apesar de grandes, esses números não representam nada para ele”, disse Wladimir. “Essa valorização é um estímulo e uma recompensa pelo meu trabalho e esforço em melhorar”, avaliou Robinho.

Em dezembro, Marcelo Teixeira tentará se eleger novamente para comandar o Santos e sua principal promessa é a de manter o técnico Émerson Leão e a base do time para 2004. Apoiado no fim da lei do passe, Teixeira tem fixado pesadas multas para segurar os atletas formados no Santos, principalmente Diego e Robinho. Interesses políticos à parte, a manutenção dos principais valores no futebol brasileiro é positiva. “A galinha dos ovos de ouro do futebol não é o jogador, mas os clubes, que devem estar fortalecidos”, disse Gilmar. “Cláusulas milionárias asseguram os interesses do jogador e do clube. É bom para todos”.

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