Robinho é o centro das atrações em Buenos Aires

Buenos Aires – Kaká é conceituado no Milan e conhecido internacionalmente, Roberto Carlos é um dos mais queridos jogadores da história do poderoso Real Madrid, mas quem roubou a cena no primeiro dia da seleção em Buenos Aires foi mesmo Robinho.

Kaká, Roberto Carlos, Juan e Zé Roberto falavam com a imprensa quando o atacante do Santos chegou à sala de entrevistas. Foi o suficiente para que começasse uma respeitável confusão no local. Quase todos deixaram de lado os outros atletas e correram para cima do santista, que atendeu a dezenas de jornalistas pacientemente e de bom humor.

Repórteres mais experientes chegaram a dizer que a cena lembrou fatos ocorridos com Pelé. E sem exagero, garantiram. É impressionante como Robinho atrai as atenções. Nestes dias, em Buenos Aires, há um jornalista sueco e um italiano exclusivamente para fazer reportagens sobre o craque. Um espanhol e uma japonesa também o acompanham.

Cada vez mais experiente, apesar dos 21 anos de idade, Robinho começa a aprender a fazer marketing, uma das qualidades de Pelé. Na comemoração do gol contra o Paraguai, ontem, em Porto Alegre, correu para a torcida e para as câmeras fazendo o sinal do ?V? da vitória. Ou melhor, o ?V? de Vivo -operadora de celular – seu mais novo patrocinador.

Questionado pela Agência Estado sobre o gesto, enquanto subia para seu quarto, no elevador do hotel em que a delegação está hospedada, Robinho desconversou. ?Era o V da vitória?, disse, antes de cair na gargalhada.

Carlos Alberto Parreira, contudo, fez questão de aconselhar ao jogador que tome cuidado com as questões de marketing, de publicidade, com temas relacionados a investimentos financeiros. Percebeu que o atacante está demasiadamente exposto e teme interferência em seu futebol. ?Os jogadores, às vezes, têm visão distorcida do futebol. Começam a ganhar dinheiro e a querer investir em ações da bolsa, em carros, e acabam se perdendo. Sempre digo: o melhor investimento é no futebol, em seu próprio talento.?

Alegria

Robinho festejou bastante a ótima atuação contra o Paraguai, na estréia como titular da seleção em jogos oficiais, apesar do cansaço.

Depois da partida, seguiu com o grupo para o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e só chegou ao hotel, em Buenos Aires, por volta da meia-noite. No avião, fez brincadeiras, debochou de alguns companheiros e demonstrou a habitual irreverência.

Afirmou à imprensa que não se considera uma estrela, ?nem galáctico?. Voltou a ser perguntado sobre a possível transferência para o Real Madrid e repetiu o discurso de que, agora, só quer pensar na seleção.

Em seguida, Roberto Carlos não perdeu a chance de incitar os repórteres. Chegou perto do companheiro e recomendou-lhe que aprenda logo espanhol. Ele, de novo, driblou o assunto.

Fez questão de agradecer ao apoio do público. ?Tenho o carinho das pessoas, espero que continue sempre assim?, observou. E disse ter se sentido à vontade no esquema tático de Parreira. ?Ele me deixa à vontade para jogar, só que a gente tem consciência da importância de ajudar na marcação.? Robinho declarou ainda não se considerar titular, embora, seja, hoje, depois de Ronaldo, o primeiro atacante na preferência do treinador.

?Mas espero um dia poder falar, com certeza, que sou titular.?

Amanhã, em Buenos Aires, vai enfrentar pela primeira vez a Argentina, sem, no entanto, prometer pedaladas. ?Se houver possibilidade, tudo bem, mas o primeiro pensamento é em conseguir a vitória.?

Ronaldo admite que se sente ?ameaçado?

Brasília – O atacante Ronaldo admitiu ontem que se sente ?ameaçado? pelo desempenho de outros colegas da seleção brasileira. Disse que gostaria de ter jogado contra o Paraguai e elogiou a atuação da equipe. Não citou, no entanto, nomes de colegas que poderiam estar tomando seu espaço. Ronaldo esteve em Brasília para se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Educação, Tarso Genro.

?Minha posição está sempre ameaçada. Tenho de estar sempre trabalhando. Cada um tem de conquistar seu espaço?, disse o atacante, que está de férias. Ronaldo não quis comentar a atuação da dupla Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, e Robinho, do Santos. ?Eu gostaria de estar lá. Achei ótimo o jogo?, limitou-se a responder.

Ele esteve com o presidente e com o ministro para se oferecer para trabalhar em favor das causas sociais do governo Lula. ?Esse é um dia especial para mim. Me coloquei à disposição para ajudar na área da educação e do esporte?, declarou o jogador.

Na conversa com o presidente, no Palácio do Planalto, Ronaldo ouviu uma brincadeira do presidente. ?Você está bem mais gordo do que eu, Ronaldo?, brincou Lula, que está bem acima de seu peso. Depois da brincadeira, Lula começou a falar sério. ?Ele (presidente) disse que achava um absurdo ficarem falando que eu estou gordo?, declarou o atacante.

Sem modéstia, Brasil é o dream team

Buenos Aires – Hernán Crespo, atacante da Argentina, disse que o Brasil é o melhor do mundo no futebol, "um verdadeiro dream team", ou time dos sonhos. O técnico José Pekerman afirmou que o time dirigido por Carlos Alberto Parreira está "um degrau acima dos outros".

E os brasileiros, deixando totalmente de lado aquele discurso politicamente correto e a falsa modéstia, resolveram concordar com seus adversários e adotar o rótulo de dream team.

Pode parecer um exagero para uma equipe que nem sequer é lider das eliminatórias – está 1 ponto atrás da Argentina -, mas algo até certo ponto coerente se levados em conta os últimos resultados em competições importantes. O Brasil é o atual campeão do mundo e da América e já aparece como o principal favorito para conquistar a Copa da Alemanha, em 2006.

"O Brasil é um dream team mesmo, essa é uma realidade e a gente tem de admitir isso", declarou, orgulhoso, o lateral-esquerdo Roberto Carlos.

"Se o Pekerman falou que a gente está acima, é porque ele entende de futebol. Não somos imbatíveis, mas somos uma seleção única no mundo, somos os melhores."

Kaká contou que Crespo já havia comentado com ele, em Milão, onde jogam juntos, que considera o Brasil um time dos sonhos e acrescentou dizendo que esse tipo de análise é geral, no mundo todo, não apenas nos países vizinhos. Pôde perceber durante os dois anos em que vive na Europa. "Acho que nossa seleção não é imbatível, mas todo mundo gosta de vê-la jogar, é agradável ver o Brasil em campo e, por isso, nos chamam de dream team."

Parreira, mais comedido, teme o rótulo. "Falar em dream team pode ser o começo da derrocada, estamos apenas iniciando o trabalho para a Copa do Mundo." Mas não deixou de elogiar a atuação do time contra o Paraguai. Pelo contrário, ressaltou o bom desempenho de Zé Roberto, além, é claro, de Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, e do poder ofensivo demonstrado pela equipe na goleada por 4 a 1, anteontem, em Porto Alegre.

Treino

Ontem à tarde, a partir das 16h, aconteceu o treino no estádio do Boca Juniors, La Bombonera.

Hoje, também à tarde, Parreira comanda mais um treino, dessa vez no estádio do River Plate, o Monumental de Nuñez, mesmo local do jogo de amanhã.

O treinador brasileiro deve fazer duas mudanças na equipe. O lateral-direito Cafu cumpriu suspensão e volta na vaga de Belletti. E o zagueiro Lúcio, que foi expulso contra o Paraguai, deve dar lugar a Juan.

Argentinos elogiam a seleção brasileira

Buenos Aires – Depois da última rodada das eliminatórias, em que a Argentina perdeu para o Equador e o Brasil goleou o Paraguai, o clima dos argentinos é de pessimismo. E muito respeito pela seleção brasileira.

"Fala-se de dream team… algo disso existe", admitiu o atacante argentino Hernán Crespo, do Milan. "É um time fenomenal. É o primeiro candidato para vencer a Copa do Mundo. Isso todo mundo sabe."

Mas, segundo Crespo, o ótimo desempenho do Brasil contra o Paraguai não assusta a Argentina. Ele afirma que é "ao contrário, um estimulante", pois "uma vitória seria um orgulho".

Crespo também lembra da força da seleção argentina, líder das Eliminatórias até agora. "É preciso respeitar o Brasil, mas, em sua justa medida. Veja lá, somos a Argentina, não somos os últimos da fila", avisou o atacante.

Para o atacante, não há uma fórmula que indique "como vencer o Brasil". Mas, disse Crespo, "é preciso ser inteligente, tirar a bola deles, não dar-lhes espaços, tentar ter a posse da bola o máximo tempo possível para depois atacar".

O próprio técnico da seleção argentina, José Pekerman, admitiu que o Brasil "está um degrauzinho acima de qualquer um". "Gosto de ser realista e objetivo. Atualmente, o Brasil é o campeão do mundo e da Copa América. E mantém sua condição de grande time, com grandes nomes e uma boa reserva permanente para manter esse nível", confessou o treinador.

O técnico também afirmou que "a Argentina está entre os países mais competitivos. Mas, se especificamente a gente se referir ao Brasil, as estatísticas e fatos marcam que encontra-se acima de todos".

Pekerman sustenta que "para o Brasil, custa menos ganhar os jogos, enquanto que a Argentina precisa elaborar um pouco mais".

Filas

Nesta segunda-feira, perto de 15 mil torcedores fizeram enorme fila no estádio Monumental de Núñez, local do jogo com o Brasil, para comprar as últimas entradas disponíveis para quarta-feira. Grande parte, inclusive, passou a noite de domingo dormindo no local para conseguiu um bom lugar.

Ao meio-dia, o boato de que as entradas estavam acabando causou uma correria entre os torcedores, que derrubaram as grades de proteção e avançaram em direção às bilheterias. Com dificuldade, a polícia conseguiu controlar a confusão.

Segundo a Associação de Futebol da Argentina (AFA), ontem foram colocadas à venda 15 mil entradas a um valor de 10 pesos (US$ 3,57) cada uma. Somente estava autorizada a venda de dois bilhetes por pessoa. Os ingressos mais caros já tinham sido vendidos.

Argentinos encaram partida como decisão

Buenos Aires – Carlos Alberto Parreira afirmou que Brasil e Argentina farão um ?amistoso de luxo?, amanhã, em Buenos Aires, pelas eliminatórias, mas precisa ficar bem atento, porque não é dessa forma que os argentinos encaram o jogo. De acordo com os comandados de José Pekerman e os torcedores, o duelo com os brasileiros será uma decisão, uma guerra.

Dois são os motivos que tornam o confronto decisivo na visão do time da casa. As duas derrotas para o Brasil no ano passado – pelas eliminatórias por 3 a 1 e, a mais doída, na final da Copa América, nos pênaltis, após empate por 2 a 2 no tempo normal – e o episódio que envolveu o volante Leandro Desábato, do Quilmes. Além, é claro, da necessidade de reabilitação, depois do tropeço diante do Equador por 2 a 0, sábado, em Quito. No retorno da delegação a Buenos Aires, na manhã de domingo, boa parte dos torcedores hostilizou os atletas.

Dizer que os argentinos estão tratando mal os brasileiros, nestes dias na capital argentina, seria uma tremenda injustiça. Ninguém foi ao La Bombonera para incomodar o time, no treinamento da tarde, nem apareceu na concentração para fazer barulho. Mas, em nenhum momento, eles fazem questão de esconder o aborrecimento com alguns fatos recentes. Em todos os lugares pode-se perceber isso.

No hotel, nas bancas de jornal, no táxi, nos restaurantes. Quando vêem um brasileiro, lamentam o fato ocorrido com Leandro Desábato e o tratamento recebido por Tevez em São Paulo.

A imagem na Argentina é de que os atletas do Corinthians não gostam de Tevez por causa da diferença salarial e de que os adversários o agridem em campo por ser famoso e argentino.

O que mais incomoda, porém, é a questão da prisão de Desábato, em São Paulo, em abril, durante jogo entre São Paulo e Quilmes, no Morumbi, pela Libertadores. Todos acharam um exagero por parte das autoridades brasileiras. Um grupo de torcedores do Quilmes estará amanhã no Monumental de Nuñez para protestar e hostilizar o time brasileiro.

A disputa pelos últimos 15 mil ingressos foi grande ontem, nas bilheterias do Monumental de Nuñez. Houve princípio de tumulto e algumas pessoas feridas. Os bilhetes se esgotaram e o estádio estará lotado.

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