Ricardo Teixeira deve ser reeleito pela 5.ª vez amanhã

O empresário Ricardo Terra Teixeira, de 56 anos deve ser eleito hoje, pela quinta vez consecutiva, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Até ontem à noite três ações na Justiça Comum (em Brasília, São Paulo e Santa Catarina) tentavam suspender o pleito, previsto para começar as 10 h. Se pelo menos uma delas for deferida até o início da manhã de hoje, a eleição não será realizada.

Teixeira vai concorrer com o advogado Carlos Alberto Oliveira, de 61 anos, presidente da Federação de Futebol de Pernambuco. “Se a eleição não for suspensa, nenhum cidadão vai ter condições de enfrentar Ricardo Teixeira para tentar moralizar o futebol e acabar com esse balcão de negócios que virou a CBF”, disse Oliveira. Ele não teve atendidos dois pedidos de liminar na Justiça do Rio, favoráveis à suspensão da eleição. Mas ganhou o direito de disputá-la mesmo sem o aval de cinco presidentes de federações, como estabelece o estatuto da CBF.

A alegação de Oliveira e dos responsáveis pelas outras ações um deles é o ex-senador Geraldo Althoff – é a de que a CBF estaria descumprindo a Lei Pelé. “Os votantes devem ser todos os clubes filiados à CBF”, disse Althoff, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou por dois anos denúncias contra a CBF. A entidade só vai permitir votos às 27 federações estaduais e a 24 clubes “especiais”, os da Série A do Campeonato Brasileiro.

Teixeira vem evitando falar sobre a eleição e prometeu um pronunciamento ao término da apuração. A movimentação de dirigentes de federações e clubes era grande ontem no Rio. Eles receberam da CBF passagem aérea e duas diárias em hotéis de luxo na cidade. Um deles, na Barra da Tijuca, cobra R$ 230,00 pelo quarto simples, por dia. Houve quem trouxesse acompanhantes, cuja despesa também seria paga pela CBF.

Era Teixeira teve ajuda de Havelange

AE

Ricardo Teixeira surgiu no futebol graças ao ex-sogro João Havelange. Em meados dos anos 80, o atual presidente da CBF atuava numa corretora de valores, a Minas Investimento. Era casado com Lúcia e acompanhava à distância a gestão do então presidente da Fifa. A afinidade com o genro propiciou o amadurecimento de uma idéia levada a cabo por Havelange: queria ver Teixeira na presidência da CBF.

Trabalhou nos bastidores e foi decisivo para que isso ocorresse. Em 1989, Teixeira chegava ao poder do futebol brasileiro. Disputaria a eleição com Otávio Pinto Guimarães, que, pressentindo a derrota, desistiu do pleito. Teixeira teve o dissabor de ver o Brasil eliminado na segunda fase da Copa do Mundo da Itália, em 1990. E sofreu críticas por não ter impedido o protesto dos jogadores, que posaram para a foto oficial da seleção, em Teresópolis, com esparadrapo sob o logotipo da Pepsi a patrocinadora da equipe no Mundial da Itália.

A partir desse episódio, o dirigente nunca mais deixou vazar problemas de negociação com jogadores por causa de prêmios. Ele tem um saldo com a seleção em se tratando de mundiais – em quatro disputas desde 1989, o Brasil venceu duas e foi vice-campeão em 1998.

Teixeira também trouxe para a CBF grandes parceiros, como a Coca-Cola, a Nike e a Ambev. Fez contratos milionários com as empresas e sempre deu suporte às seleções – tanto à principal quanto às de base.

Sua maior falha, de acordo com opositores, foi ter feito “vista grossa” ao concomitante empobrecimento dos clubes. No comando da CBF, Teixeira virou as costas para os clubes, criou um sistema de extrema dependência com as federações, com ajudas financeiras e políticas, e estabeleceu critérios pouco claros para a escolha dos representantes em competições sul-americanas.

Teixeira consentiu que os diretores da entidade passassem a ser remunerados no seu quarto mandato. Fato revelado pela CPI do Senado, em 2001, saltou os olhos do público: a quantia recebida pelos dirigentes eram vultosas – quase R$ 40 mil, para alguns. Isto também aumentou as críticas contra sua última gestão.

Meses atrás, ainda sob o impacto do pentacampeonato mundial, ele afirmou categoricamente. “Cumpro o meu último mandato. Não há a menor possibilidade de eu voltar atrás.” Quer agora ficar até 2008.

Zico lamenta falta de mudança

AE

O ex-craque do Flamengo e da seleção Zico lamentou ontem a tendência de não-alteração no comando do futebol do País, com as eleições das federações estaduais, previstas para este semestre, e da CBF, marcada para hoje. Ele criticou com ênfase o processo eleitoral da entidade dirigida por Ricardo Teixeira. “Criaram mecanismos para se perpetuar no poder. Cada vez mais o futebol está se deteriorando por causa de dirigentes que visam apenas a interesses pessoais.”

Para Zico, existem dois “brasis” no futebol: o dos que atuam no exterior e o dos que jogam no País. “Quem ganhou duas Copas foi o Brasil de fora. Não o Brasil do Brasil.” O atual técnico da seleção do Japão apontou um erro grave na estrutura do futebol cinco vezes campeão do mundo.

“As entidades enriquecem e os clubes, falidos, não têm como manter seus craques.” O ex-jogador destacou que na Europa os jogadores brasileiros disputam competições mais equilibradas, passam a ser mais competitivos e se preparam assim para todos os grandes torneios internacionais. “Estou cético. Houve CPIs no Senado e na Câmara e qual foi o resultado? A CBF participou da elaboração de um calendário quadrienal, uma comissão de notáveis posou para fotos e depois foi tudo rasgado.”

Zico também se mostrou preocupado com a eleição na Federação de Futebol do Rio, suspensa pela Justiça, por causa de irregularidades no edital de convocação. Sem citar o nome de Eduardo Viana, candidato à reeleição, Zico fez um desabafo. “Como posso ser favorável a alguém que impede que meu clube, tricampeão estadual de juniores, tente a conquista do quarto título só porque se desfez do time profissional? A alguém que concorda com o rebaixamento de um clube (Volta Redonda) num ano e no mesmo ano permite que ele participe de uma seletiva para jogar a 1.ª Divisão do ano seguinte?”

O ex-craque deu entrevista ontem na sede de seu clube, o CFZ, onde firmou parceria com a Universidade Estácio de Sá, do Rio, para ceder o espaço a cursos de gestão e treinamento esportivo. Ele deu a aula inaugural.

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