Racional, Gil agradece família e equipe por título

Domingo foi um dia para o automobilismo brasileiro guardar como recordação. Pela primeira vez na história, depois de um bicampeonato na mais tradicional prova norte-americana, as 500 Milhas de Indianápolis apresentou um resultado que nem o mais otimista torcedor brasileiro poderia supor possível acontecer. O Brasil tomou conta do pódio da prova, com a vitória de Gil de Ferran. Ele foi “escoltado” pelo companheiro de equipe e bicampeão da prova Hélio Castroneves e por Tony Kanaan.

Gil de Ferran manteve suas emoções contidas depois da vitória nas 500 Milhas. O brasileiro, que afirmou ter aprendido isso com Jackie Stewart na época em que corria na Europa, deu uma entrevista à imprensa norte-americana, em que ressaltou o apoio que sua família – esposa, pais e filhos -, dá. Além disso, falou de seus sentimentos, do companheiro Hélio Castroneves e de como tudo vem em sua cabeça com a conquista da prova mais marcante do automobilismo.

A seguir os melhores momentos da entrevista:

Pergunta

? Gil, você venceu campeonatos e ainda neste mês, nas entrevistas aqui, sempre havia algumas questões perguntando se seu foco era o Hélio (Castroneves). Você só relaciona as lágrimas depois da corrida ao que isso significa?

Gil de Ferran ? Primeiro de tudo, quero dizer que eu via, durante todo o mês, particularmente com o Hélio, que isso era natural. E eu não tenho nenhuma mágoa em relação a ele, muito menos inveja. Para mim, Hélio é um grande piloto e merece toda a atenção que teve porque ele é, com certeza, um dos melhores da categoria e sempre corre bem, principalmente aqui. Quando eu cruzei a linha de chegada, eu não sei por que uma série de coisas vieram em minha cabeça. Toda vez que uma coisa dessas acontece, sempre vem como se fosse uma surpresa. Nunca soube como seria este sentimento e é simplesmente inacreditável.

P

? Quando você estava saindo do carro depois da corrida, você pareceu hesitar um pouco. Seus olhos tinham lágrimas. Eram em função de alguma dor ou caíram por causa da emoção?

Gil

? Estava com muitas dores, tenho que admitir. Comecei a sentir câimbra nos ombros, a partir da segunda metade da prova, depois comecei a sentir dor nas mãos, principalmente na esquerda, e as coisas estavam cada vez mais difíceis.

P

? Que preocupações você teve em estar aqui depois de Phoenix (onde sofreu um acidente com Michael Andretti) e você achava que chegaria nesta posição?

Gil

? Eu me orgulho de estar concentrado sempre no agora. Eu usei tudo como experiência, claro, mas eu estava focado no momento e no trabalho que eu tinha de fazer a partir daquele momento. A primeira semana se resumiu na classificação, algo que não é cansativo psicologicamente comparado ao que acontece no dia de hoje. E com o passar das semanas, o trabalho foi se intensificando e, durante a corrida, eu estava muito concentrado. Primeiro de tudo, não se envolver em acidentes e, assim que a estratégia e os bons pit-stops me colocassem entre os primeiros, eu disse: “OK, agora estou numa posição boa. Tente aproveitar as oportunidades, apenas fique concentrado em seu trabalho mais do que nunca”.

P

? O que você acha que Hélio está sentindo agora?

Gil ? Não sei, mas tudo que pode dizer é que, quando eu terminei em segundo em 2001, foi uma mistura de tristeza e felicidade porque você está muito perto e ao mesmo tempo tão longe. E eu estou feliz por ele porque o considero um grande amigo e tenho respeito por ele. Estou feliz pelo time, que fez uma dobradinha.

P

? Como a questão de escalar o alambrado veio? Foi espontâneo?

Gil ? Foi muito espontâneo porque eu estava sentado na linha de chegada (onde tem a construção de tijolo originária do circuito) e pensava: “Beijar o tijolo, beijar o tijolo, beijar o tijolo”, algo que eu pensava que seria apropriado. Aí eu pensei, espere um minuto, o Hélio estava aqui há um minuto e o público estava gritando. E eu: “Agora eu sei o que vou fazer” (risos). Mas não podia fazer aquilo sozinho, por isso que eu o chamei para ir comigo.

P

? Você pode expressar o quanto feliz você está? Que sentimentos passam por você agora que você alcançou esta grande marca?

Gil

? Em uma escala de 1 a 10, provavelmente 9,999999999… brincadeiras à parte, tudo isso me sobrecarregou. Você sempre pensa, “cara, se isso acontecer, será uma grande oportunidade para dizer algo interessante e inteligente e (risos) e eu percebi o quão difícil é expressar o que você sente. Eu me lembro dos tempos de criança e de tudo que aconteceu recentemente, minha família, amigos (…) e destes dois caras que estão aqui (referência a Roger Penske e Tim Cindric).

P

? Você disse que não tem nenhuma mágoa do Hélio. Ele disse algumas coisas quando você não estava aqui, vamos falar pelas costas dele agora. Ele disse que você era velho. Ele e o Tony (Kanaan).

Gil

? (risos) Há muitas pessoas que falam que eu sou novo. Depende de onde você olha. Estou com 35 agora. De um ponto de vista, eu não me vejo guiando pior de quando estava com 18, muito pelo contrário, acho que estou melhor. Não acho que estou mais lento, não acho que tenho menos chances de vencer a prova. O que mudaram foram meus pensamentos.

P

? Em sua primeira vitória na Cart, em Laguna Seca, você estava com sua filha lá no Círculo da Vitória. Hoje, está com a família toda. É com ela que você divide suas vitórias?

Gil

? Acho que é para isso que servem as famílias, para divider os momentos preciosos com ela, com as pessoas que você mais ama.

P

? Desde aquela vitória em Laguna Seca, você parece ser a mesma pessoa. Você pode falar a respeito de seu comportamento? E outra, você ficou muito emocionado naquela vitória em 1995. Quais as diferenças daquela para esta?

Gil

? Difícil dizer. Uma coisa que aprendi correndo com o Jackie Stewart na Europa foi controlar a emoção. Você tem que se manter racional e isso é melhor do que ser emocional. Mas uma coisa é dizer isso e outra é fazer. Eu sei que trabalhei muito para não ser tão emocional. Não sei se isso faz algum sentido ou não.

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