Esses conhecem muito

Profissão de olheiro está sendo esquecida pela tecnologia

Olheiro. Uma função tão antiga quanto importante no futebol, mas que ao mesmo tempo vem perdendo cada vez mais seu espaço. Ter alguém para observar e avaliar jogadores já não é algo que os clubes consideram como prioridade para encontrar novos craques e candidatos a ídolos. Nos últimos anos, as apostas acabam sendo sempre em garotos criados nas categorias de base ou a dependência de empresários.

Com isso, velhos responsáveis por garimpar talentos em times de menor expressão ou até mesmo no exterior estão sendo substituídos gradativamente. Até mesmo por máquinas. O Atlético, por exemplo, conta com o Departamento de Inteligência de Futebol (DIF) para avaliar se o atleta tem condições ou não de vestir a camisa do Furacão. O setor trabalha com um software que reúne informações e tudo quanto é tipo de estatística de determinado jogador.

Uma forma de analisar atletas que foi duramente criticada por Borba Filho, ex-olheiro do Rubro-negro e que trouxe, entre outros o volante Valencia e o meia Ferreira. “Não tem como ter a certeza do potencial do jogador sem vê-lo pessoalmente. Eu quando saí para olhar os adversários do Atlético na Libertadores em 2005 me encantei com o Ferreira. Quando voltei, conversando com diretores, falei que vi um jogador diferenciado, mas era baixo. ‘Esse é um anão, não jogador de futebol’, me disse a diretoria, na época. Se fosse passar pela máquina do DIF, ele não chegava nem a ser cogitado a ser contratado”, recordou.

Outro que não concorda com a nova postura de se avaliar um jogador é Antônio Carletto Sobrinho, que também durante anos ajudou o Atlético. “Eu acho um absurdo. A tecnologia pode ajudar, sem dúvidas, mas o que vale é o olho clínico do observador, que realmente entende do esporte”, apontou ele, que segue exercendo a função, mas sem trabalhar diretamente com algum clube. “Agora o Atlético mudou uma filosofia que ia tão bem”, completou o responsável por trazer uma geração de campeões pelo Furacão, como o zagueiro Gustavo, o volante Cocito, o meia Adriano Gabiru e os atacantes Lucas e Kléber Pereira.

Para ele, a observação de jogadores foi deixada de lado aos poucos também por conta de empresários. “Às vezes jogadores melhores perdem oportunidade de entrar em um clube por causa disso. Caiu muito a qualidade de futebol”, avaliou Carletto.

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Borba e os empresários

“Hoje em dia antes de saber onde jogar, o atleta já tem um empresário”, resume Borba Filho, jornalista, ex-treinador e ex-dirigente.