Procurador contradiz discurso de 2010 ao condenar Lusa

Uma entrevista dada pelo procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt, em dezembro de 2010, só veio causar polêmica três anos depois. Em meio às medidas técnicas que ele defende em relação aos casos de Flamengo e Portuguesa no Brasileirão de 2013, há uma série de controvérsias se comparadas às declarações dadas ao canal Sportv naquele ano, em que defendia aspectos morais para não rediscutir o título do Fluminense, que havia sido campeão do torneio à época.

Em 2010, o STJD havia absolvido o Duque de Caxias pela suposta escalação irregular de Leandro Chaves na Série B. O jogador já havia tomado cartão amarelo quando atuava pelo Ipatinga. Na equipe carioca, o atleta levou mais dois amarelos e não cumpriu suspensão. Chaves só ficou fora quando levou o terceiro cartão pelo Duque.

No mesmo ano, o Fluminense passou por situação semelhante com Tartá no Campeonato Brasileiro. O meia havia tomado dois cartões amarelos quando ainda jogava pelo Atlético-PR. Ao voltar para o clube do Rio, o jogador levou o seu terceiro amarelo em novembro, contra o Internacional, e na partida seguinte atuou normalmente e marcou o gol da vitória frente ao Vasco. Entretanto, o atleta só foi cumprir suspensão na última rodada do torneio, após tomar o terceiro cartão pelo Fluminense no confronto com o Palmeiras. O segundo amarelo havia sido aplicado também no clássico contra a equipe de São Januário.

Na época da polêmica, Schmitt respondeu em entrevista ao Sportv que juridicamente era possível o Fluminense perder pontos e o título do Brasileirão. O procurador-geral, porém, defendeu a equipe carioca. “Não acredito que haja condição moral, disciplinar até (de tirar os pontos do Fluminense). Pode ter (condição) técnica. Técnica, jurídica, com base em uma jurisprudência. Mas moralidade? rediscutir o título que foi conquistado no campo de jogo, da forma como foi, agora, abrindo um precedente? Essa decisão poderia ser em algum momento revista, mas isso seria um caos”, disse.

CONTROVÉRSIA – Com a denúncia contra a Portuguesa apresentada nesta quarta, a declaração do procurador-geral vai em outra direção se comparada ao que ele defendeu três anos atrás. Desta vez, ele disse que “a lei é para todos” e destacou que a Portuguesa cometeu um erro ao escalar Héverton na rodada final do Brasileirão e “ressuscitou” o Fluminense, apesar do fato de o clube do Canindé ter alegado que não tinha conhecimento que o seu jogador havia sido suspenso por dois jogos em julgamento realizado na sexta-feira passada, dois dias antes da partida contra o Grêmio.

Junto com o Flamengo, a Portuguesa vai ser julgada na próxima segunda porque supostamente escalou Héverton de forma irregular. O time corre o risco de perder quatro pontos no Brasileirão se for condenado. Se isso ocorrer, o clube paulista passaria então a ter 44 pontos no torneio e assim assumiria a 17ª posição, sendo rebaixado no lugar do Fluminense, que terminou o campeonato com 46.

REAÇÃO INDIGNADA – Ao comentar a repercussão provocada pelo vídeo da entrevista dada ao SporTV em 2010, Schmitt usou sua conta pessoal no Facebook para reagir de forma indignada e voltar a defender a aplicação de uma punição à Portuguesa na próxima segunda.

“Quanto ao vídeo que circula sobre minha declaração em referência ao atleta Tartá do Fluminense em 2010, trata-se de uma fala descontextualizada, mais se assemelhando a algo montado ridículo. E sobre minha fala na defesa do critério técnico e resultado de campo, como fica? Lógico que deve prevalecer resultado de campo que, vale registrar, também é obtido com o cumprimento de penas, doa a quem doer e em qualquer fase da competição. O jogador em referência, do Fluminense (Tartá) coincidentemente, à época foi julgado, punido pelo tribunal e não cumpriu, como no caso da Portuguesa em 2013? Não e não! E como ficam dezenas de atletas nesse campeonato que desfalcaram suas equipes apenas pelo fato de terem cumprido a lei e suas penalidades?”, questionou o procurador.

Em seguida, Schmitt usou certa ironia no seu discurso ao destacar que apenas Flamengo e Portuguesa escalaram atletas de forma supostamente irregular neste Brasileirão – expulso no segundo jogo da final da Copa do Brasil, contra o Atlético-PR, o lateral André Santos chegou a ficar fora do duelo seguinte, diante do Vitória, mas também foi julgado na última sexta-feira e pegou um jogo de gancho. Porém, o confronto diante do time baiano, por se tratar de uma competição diferente, não valeria para que esta pena fosse cumprida antes da realização do julgamento da expulsão.

“Apenas Flamengo e Portuguesa não cumpriram na Série A desse ano, lembre-se. Lamentável. Isso é que é critério técnico que qualquer um deveria defender. Cumprir sua pena. Mas a Portuguesa não precisa, afinal ela vai salvar o Fluminense! Sejam os críticos mais criativos, por favor… Não é assim que vão convencer quem julga, pois eu não julgo!!!”, completou.

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