Braços cruzados

Perto da Copa, metroviários de SP decidem manter greve

A apenas cinco dias do início da Copa do Mundo, o temor da Fifa de que a greve dos metroviários de São Paulo, que já dura quatro dias, continuasse se confirmou neste domingo. Mesmo com a decisão do TRT de considerar a greve abusiva, os metroviários de São Paulo decidiram, em assembleia na capital, pela manutenção da paralisação.

Esta já é a maior greve da história do metrô de São Paulo, que se continuar pode afetar diretamente o início do Mundial, já que a partida de estreia entre Brasil e Croácia, na próxima quinta-feira, será justamente na capital paulista, no estádio Itaquerão, na zona leste da cidade.

“Tem uma Copa do Mundo, o maior evento esportivo do mundo. Estamos em um momento único. Tem também eleições no fim do ano. Os protestos do ano passado entraram na nossa mente. Não pode ficar massacrando, batendo em trabalhador. Em 2007, nós recuamos e houve demissões. Nós podemos sair da luta derrotados se recuarmos ou se continuarmos a greve. Vão tentar nos retaliar agora ou depois. A nossa proposta é continuar a greve”, disse o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, na assembleia, angariando o apoio da maioria.

De acordo com o Sindicato dos Metroviários, 3 mil pessoas acompanharam a sessão. Uma nova assembleia está marcada para esta segunda, às 13 horas.

Depois de considerar greve do Metrô abusiva, em julgamento realizado na manhã deste domingo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) definiu o reajuste salarial da categoria em 8,7% e estabeleceu o piso dos engenheiros em R$ 6.154,00. Além disso, caso a greve continue, além da multa já estabelecida de R$ 100 mil por dia pela vice-presidente judicial do TRT Rilma Aparecida Hemetério, foi arbitrada multa adicional de R$ 400 mil ao sindicato da categoria, o que totaliza R$ 500 mil por dia, em valores a serem revertidos para o Hospital do Câncer de São Paulo. As decisões serão levadas para a assembleia dos metroviários desta segunda.

A greve foi considerada abusiva por unanimidade e não foi enquadrada como ilegal porque, de acordo com o TRT, o termo restringe-se apenas à paralisação patronal (lockout) e a dos militares. “O direito de greve não pode ser balizado em autoritarismo ou no exercício arbitrário de escolhas subjetivas. Não houve atendimento mínimo à população, gerando grande transtorno, inclusive, no âmbito da segurança pública”, destacou o desembargador Rafael Pugliese, presidente da seção de Dissídios Coletivos (SDC). O julgamento concluiu pela autorização do desconto pelos dias parados, além de não assegurar a estabilidade dos grevistas.

Quanto ao reajuste salarial, o último valor proposto pelo sindicato dos metroviários foi de 12,2%. Já o Metrô ofereceu 8,7%, valor que foi ficado também pelos desembargadores no julgamento deste domingo. A essa e demais determinações deste julgamento cabem recurso ao Tribunal Superior do Trabalho (TST). O julgamento aconteceu após três tentativas de acordo e a paralisação dos metroviários é uma das mais longas da história do Metrô na cidade de São Paulo, chegando ao seu quarto dia neste domingo.

MUITA PREOCUPAÇÃO – A Fifa não escondeu que aguardava com ansiedade que a greve dos metroviários fosse considerada como ilegal. Mas já prevê problemas com a continuidade dela. “Se isso não acontecer e a greve continuar, viveremos um pesadelo”, declarou um dos representantes da entidade mundial do futebol e responsável por temas de segurança.

Nos últimos dias, a Fifa passou a exigir do governo um plano alternativo para a greve e que, nesta quinta, opções sejam dadas aos torcedores que queiram ir ao Itaquerão. “As pessoas que querem ver o futebol precisam ter esse direito”, declarou o vice-presidente da Fifa, Jim Boyce, nesta semana.

Enquanto o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, garante que “tudo está em controle”, dirigentes da entidade insistiram nos últimos dias que a Copa no Brasil mostra que todo o processo de escolha de um país precisa ser revisto.

No último sábado, o presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, classificou a greve que já dura desde a última quinta como “um probleminha pequeno”, apesar de a mesma ter irritado e pego dirigentes da Fifa de surpresa nesta semana.