Parreira volta à seleção nove anos depois

O estilo Felipão foi sepultado ontem na seleção brasileira com a apresentação de seu novo técnico, Carlos Alberto Parreira, de 59 anos, na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca. Cordial, simpático e atencioso, o treinador descartou a possibilidade de adotar o esquema tático com três zagueiros, usado pelo técnico Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo de 2002.

“A seleção tem de ser marcada pela versatilidade e qualidade dos jogadores brasileiros”, disse Parreira, deixando transparecer seu descontentamento com a formação tática 3-5-2. “A equipe tem de ser equilibrada. Não podemos colocar os jogadores brasileiros em uma camisa de força.”

Parreira também demonstrou sua preferência por dois zagueiros, o que lhe dará a oportunidade para escalar mais um atleta de armação no meio-de-campo. Ele destacou essas características como sendo as do verdadeiro futebol brasileiro. Tanto Parreira quanto Zagallo, que será seu coordenador-técnico, reeditando a dupla responsável pela conquista do título de tetracampeão mundial de 1994, nos Estados Unidos, frisaram o desafio de fazer a seleção “jogar sem a posse da bola”. O time campeão da Copa de 2002 servirá como base da nova equipe neste início de trabalho. Para o treinador, isso facilitará a adequação de sua filosofia tática e técnica.

Sobre os novos valores do futebol brasileiro, Parreira salientou que fará um trabalho para mesclá-los aos jogadores mais experientes. Citou os corintianos Kléber e Gil, além dos santistas Diego e Robinho, como representantes dessa geração. A Robinho fez uma deferência especial: “É um atleta excepcional, que já provou ter condições de estar na seleção principal sem a necessidade de passar pelas divisões de base.”

O entusiasmo demonstrado por Parreira com a nova geração do futebol brasileiro, não se estendeu ao artilheiro Romário, de 36 anos, pivô de vários distúrbios na seleção nos últimos anos. O treinador praticamente descartou qualquer possibilidade de convocá-lo: “Temos de considerar que ele estará com 40 anos na próxima copa. É já época de pensarmos em outros jogadores.”

O novo técnico da seleção ainda lamentou seu pedido de demissão do Corinthians. Explicou que não podia recusar o convite da CBF e hoje à tarde estará em São Paulo para se despedir do clube.

Parreira contou ter deixado o cargo no time paulista em um telefonema dado ao vice-presidente de futebol, Antonio Roque Citadini, na tarde de terça-feira. Dos dirigentes corintianos disse ter recebido apoio, acompanhado por lamentações.

A reestréia de Parreira na seleção ocorrerá no dia 12 de fevereiro em um amistoso contra a China. A convocação para esse confronto foi prevista para a última semana de janeiro. E o segundo desafio é contra Portugal, comandado por Felipão, no dia 29 de março. À frente da seleção brasileira, em suas duas passagens como treinador (1983 e 1991 até 1994) Parreira atuou em 61 jogos, obtendo 33 vitórias, 21 empates e sete derrotas. O time marcou 119 gols e sofreu 46.

“Ser técnico da seleção é um parto e estamos fazendo a gestação de um filho que não sabemos se nascerá defeituoso ou não”, comparou Parreira. “A gente espera que possa nascer de olhos azuis e com cinco quilos.”

Paixão surpreso com retorno

O preparador físico Paulo Paixão agora trabalhando no Inter, se disse surpreso com a nova oportunidade de voltar a trabalhar na seleção brasileira, na comissão técnica de Carlos Alberto Parreira. “Depois da Copa na Ásia, pensei que ia trabalhar só em clubes. Mas é sempre um prazer, pois representa o ponto máximo na carreira de qualquer profissional. Fico muito honrado em atuar ao lado do Parreira e Moracy Sant’Anna, meus colegas na Copa de 1990, na Itália, pelos Emirados Árabes Unidos”, afirmou.

O fato de trabalhar ao lado de outro preparador físico (Moracy) não é problema para Paulo Paixão. “Oficialmente ainda não sei de nada, mas é provável uma divisão de funções, sem que um assuma o papel de outro”, contou.

Repercussão

O técnico Muricy Ramalho, que comanda a pré-temporada do Inter em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, distante 125 km de Porto Alegre, resumiu, em uma frase, a volta de Parreira à seleção brasileira: “Ótimo, ele é o melhor do País”.

Trauma de 94 ficou para trás

Mesmo rejeitando o cargo de técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira foi seduzido pelos amigos de sua nova comissão técnica e aceitou voltar. O treinador contou ontem que as pressões sofridas durante sua segunda passagem no comando do time, entre 1991 e 1994, o traumatizaram e sua esperança era a de ser somente o coordenador-técnico.

O trabalho de convencimento feito por Zagallo e pelo supervisor Américo Faria foi fundamental para Parreira mudar de opinião. “O Américo me mostrou que hoje não existe mais aquela pressão de 1994. Até porque, naquela época, o Brasil não ganhava um título Mundial há 24 anos”, disse Parreira, que tem compromisso verbal para permanecer à frente da equipe até 2006 e receberá cerca de R$ 200 mil, por mês.

Parreira lembrou de seus 35 anos de amizade com Zagallo para explicar o importância do coordenador em sua decisão. Os dois foram apresentados pelo preparador-físico Admildo Chirol. Na ocasião, Parreira foi mostrar um trabalho com slides que vinha realizando sobre as seleções européias, como a da Inglaterra e Alemanha, para Zagallo, então técnico do Botafogo.

“Nossa família nos perguntou se éramos loucos de voltar para a seleção”, brincou Zagallo, em mais um discurso emocionado, onde já previu o hexacampeonato Mundial da seleção. “E falei para eles que tinha me despedido do cargo de técnico e que minha mulher vai ter que me engolir como coordenador.”

Enquanto Zagallo frisou a importância desta nova parceria entre ele e Parreira, o técnico da seleção destacou o objetivo principal: classificar o Brasil para a Copa do Mundo e conquistar o título. Para ele, Brasil e Argentina têm a obrigação de conseguir a vaga.

“O passado deve ser esquecido e, hoje, o clima está mais leve”, comparou Parreira. “Tanto é verdade que após sermos vice-campeões do Mundo em 1998 ninguém foi execrado.” Além de Zagallo e Faria, vão compor a nova comissão técnica da seleção o assistente Jairo Lopes Leal, os preparadores-físicos Moraci Sant’anna e Paulo Paixão, o treinador de goleiros Wendell o médico José Luiz Runco e o fisioterapeuta Luiz Alberto Rosan. Destes, somente o técnico, o coordenador e o supervisor do time serão fixos. Os outros profissionais permanecerão exercendo suas funções em seus respectivos clubes.

Zagallo foi o responsável por sintetizar o espírito da reedição da comissão-técnica vitoriosa em 1994. “A vida não nos pertence. Deus é que nos guia. Jamais poderia pensar que em 2003 essa dupla retornasse.”

O Lobo de sempre. feliz como nunca

Em meio à descontração que marcou o anúncio da nova comissão técnica da seleção brasileira, ninguém estava mais feliz do que Zagallo – nem o presidente Ricardo Teixeira, que conseguiu realizar seu sonho de refazer a dobradinha campeã em 94. Aos 71 anos, ele está vibrando como uma criança por deixar a aposentadoria de lado e voltar a exercer um papel de protagonismo, perto dos holofotes e dos microfones.

“A vida não nos pertence, Deus é que nos guia. O presidente Ricardo Teixeira foi iluminado quando nos escolheu para a Copa de 94 e agora volta a nos escolher. Jamais poderia pensar que a dupla com o Parreira voltaria em 2003. É por isso que repito a frase: a vida não nos pertence.”

Ele estava parado desde o final de 2001, quando deixou o Flamengo – então ameaçado de rebaixamento – a três rodadas do encerramento do Campeonato Brasileiro. Tinha prometido à mulher, Alcina, que iria sossegar e ficar em casa. Mas a vontade de voltar a trabalhar no futebol – e na seleção – começou a ganhar corpo quando foi convidado pelo presidente da CBF para integrar a delegação que foi à Espanha no final de outubro receber o prêmio “Príncipe de Astúrias” oferecido à seleção brasileira.

Poucos dias depois, ele foi convidado para dirigir a equipe pentacampeã no amistoso do dia 20 de novembro contra a Coréia do Sul, em Seul. Era uma homenagem e também sua despedida oficial do cargo de técnico. Mas, poucos dias antes do embarque, ele deixou claro que já sonhava com a chance de ir a mais um Mundial. Em entrevista ao repórter Cosme Rímoli da Agência Estado, declarou: “Ainda tenho muita lenha para queimar. Não quero mais ser técnico, mas desejo ser o coordenador da seleção Brasileira e traçar planos para a Copa América, Olimpíada, Eliminatórias e a Copa de 2006.

Corinthians aposta fichas em Geninho

Mais uma vez o Corinthians viveu mais um dia de muita agitação, ontem, com o anúncio oficial da saída do técnico Carlos Alberto Parreira. O vice-presidente de Futebol do clube, Antônio Roque Citadini, afirmou que o novo nome será anunciado apenas amanhã, antes do embarque da delegação para Extrema (MG), onde o grupo fará a pré-temporada.

Mas embora tenha tentado despistar, já se sabe que o novo técnico corintiano será Geninho, campeão brasileiro pelo Atlético-PR em 2001. A informação foi confirmada pelo filho do treinador, Thiago, confirmando que seu pai teria sido sondado pela diretoria do Corinthians.

Geninho, esteve ontem em Suzano, para acompanhar a partida da equipe júnior do Galo, pela Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Pelo lado corinthiano, Citadini procurou ser evasivo. “Faltam ainda alguns acertos”, disse Citadini sobre o novo técnico. O atual treinador do Atlético-MG não teria grandes problemas de deixar o clube que comanda atualmente uma vez que não terá de pagar multa rescisória. Da mesma forma, o pagamento de indenização não constava no contrato de Parreira.

Segundo Citadini, a princípio os integrantes da comissão técnica deverão permanecer no Corinthians e as contratações em andamento serão adiadas para que sejam avaliadas pelo novo treinador. “Devemos confirmar umas quatro contratações e trazer outros quatro ou cinco jogadores das equipes de base.” Pela manhã a diretoria do Corinthians anunciou oficialmente a saída de Parreira e agradeceu o trabalho prestado em 2002.

Oswaldo: chateado e ressentido

Aborrecido pela confirmação de que vai ter de adiar o sonho de dirigir a seleção brasileira e ressentido com a imprensa, o técnico Oswaldo de Oliveira fica no São Paulo em 2003 – contra a sua vontade.

Oswaldo de Oliveira se reapresentou no São Paulo no último dia 2, evitando o assunto seleção. “Não vou falar sobre isso enquanto não sair o anúncio oficial. Nem adianta insistirem”, respondeu num primeiro momento. A angústia, no entanto, foi aumentando. Quatro dias depois, como ninguém da Confederação Brasileira de Futebol o havia procurado, percebeu que ainda não seria sua vez e resolveu se abrir aos repórteres que foram ao CT da Barra Funda: “Não recebi convite nenhum. Estou dizendo e vocês não acreditam, poxa!”

O treinador comentou que as notícias que vinham sendo divulgadas, dando como certa sua nomeação, acabaram criando nele próprio uma expectativa. “Não é a segunda, nem a terceira vez que isso acontece. Cria-se um clima e, de repente, não é nada disso.”

De acordo com Oswaldo de Oliveira, em 2000, depois que Vanderlei Luxemburgo foi tirado do cargo de treinador da seleção seu nome foi apontado como favorito à vaga. Na ocasião, Leão foi chamado. “Daqui há quatro anos é outra história”, deixou escapar o técnico do São Paulo.

Oswaldo de Oliveira garante não sentir qualquer frustração e torce por quem foi escolhido. “Zagallo e Parreira fazem uma dupla perfeita, que já mostrou resultado. Eles têm tudo para brilhar novamente e estou otimista”, disse.

Frustrado não, mas nitidamente chateado e ressentido. “Vocês (jornalistas) devem acreditar mais nas pessoas. Eu falei sempre que não tinha nada e vocês não acreditaram. Não sei de onde tiraram a informação de que eu seria o técnico”, desabafou.

Futuro

Agora, Oswaldo de Oliveira terá de se ocupar apenas com o São Paulo, pelo menos até a metade do ano, quando vence seu contrato com o clube. Sendo assim, como ele mesmo costuma dizer, “bola para frente”.

Enquanto não são fechados os últimos reforços, o treinador começa a traçar o provável time titular do São Paulo. Na lateral-esquerda, a longa e já cansativa novela envolvendo a contratação de Fabiano, do Atlético-PR, ainda não acabou. Faltam só alguns detalhes segundo o presidente do clube, Marcelo Portugal Gouvêa. Oswaldo de Oliveira prefere não trabalhar com possibilidades e disse ontem que Gustavo Nery é o dono da vaga. Pelo lado direito, Leonardo vem se destacando e agradando ao técnico e tem tudo para ganhar a posição na lateral.

O treinador comemorou a permanência do volante Fábio Simplício na equipe – ele estava prestes a deixar o clube numa troca com o meia Felipe, do Galatasaray, mas o negócio não vingou. “O Fábio se destacou bem no ano passado e ia fazer falta, claro. Ele não podia sair mesmo”, disse o técnico, que admitiu estar precisando, além de atletas para outras posições, de pelo menos mais um atacante para completar o elenco.

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