Parreira diz que seleção podee mudar.

A seleção brasileira terá ao menos uma alteração e possivelmente um comportamento mais ofensivo frente ao Uruguai, amanhã, às 21h45, no Pinheirão.

O técnico Carlos Alberto Parreira não deu nenhuma dica sobre esta mudança, mas ela deve ocorrer no meio-de-campo e o mais cotado para deixar o time é o experiente Émerson. O treinador antecipou somente que em casa o time não pode repetir os erros cometidos na última jornada, em Lima. O elevado número de passes errados preocupa, mas não é esta a base usada por Parreira para processar a troca.

Frisando a necessidade de um time equilibrado, Carlos Alberto Parreira afirmou que não consegue ver o futebol com um time ofensivo ou defensivo. “Sem equilíbrio, você não vai a lugar algum”, destacou. “É preciso saber atacar e defender.” Nas entrelinhas, Parreira deixou claro que só deve mexer em uma posição, devendo apostar mais uma vez no trio de atacantes com Kaká, Rivaldo e Ronado. Para o treinador, a equipe ainda está em fase de sedimentação e a seqüência é importante para um bom resultado final.

O próprio Parreira reconhece que a seleção não soube valorizar a posse de bola e isso afetou diretamente no volume de jogo do segundo tempo, quando o Peru dominou as ações e chegou ao empate. Apesar das críticas em relação ao comportamento do goleiro Dida – que vacilou em pelo menos duas saídas do gol -e da dupla de zaga, Parreira isentou a sua defesa. “Foi um jogo atípico, pois o Peru jogou quase num estilo inglês. Exageraram nas bolas erguidas para a área”, disse. Pelas suas contas, mesmo assim, o Brasil levou a melhor em quase 80% destes levantamentos.

“É impossível acertar todas”, amenizou. “Só que, o Peru abdicou de qualquer estratégia além dessa. Não vi, nos noventa minutos, nenhuma jogada de penetração dos peruanos. Nenhuma tabela”, frisou. Na análise, também destacou que se Zé Roberto não teve um comportamento parecido com o de jogos anteriores, ele realizou uma função tática importante. “Às vezes, o jogador pode não brilhar, mas tem papel decisivo para o time.” Mais uma dica de que Émerson está mesmo com “os dias contados” na equipe titular.

O treinador ressaltou, mais uma vez, a importância de “armazenar gordura” neste início de eliminatórias. A meta é ficar sempre à frente, pois a competição é longa e muito difícil. “É muito diferente da Copa do Mundo. Nas eliminatórias, pegamos equipes empolgadas e que jogam no grito de seu torcedor, como aconteceu em Lima, com oitenta mil torcedores no estádio”, lembrou.

Renato ou Juninho? Um dos dois pode ser titular

Cristian Toledo

Os dois principais candidatos à posição que seria aberta por Carlos Alberto Parreira no time titular têm trajetórias diferentes no futebol.

O santista Renato, favorito a tomar o lugar de Emerson, está ganhando espaço rapidamente na seleção; e Juninho Pernambucano, astro do Lyon, luta para conseguir dentro da comissão técnica o mesmo respaldo que tem na imprensa nacional e na França.

Renato surgiu no Guarani, e há três anos é titular do Santos. Só que apenas no ano passado ele apareceu, junto com a equipe que conquistou o título brasileiro. Volante de estilo clássico, com qualidade para subir para o apoio com a mesma desenvoltura que marca, o jogador conseguiu se tornar a estrela ascendente da Vila Belmiro, com maior reputação com Parreira e Zagallo que os “queridinhos” Diego e Robinho.

E ele conseguiu isso sem a força da mídia, que jogava todas as suas fichas nos jovens atacantes. Como um jogador de contenção, dificilmente aparecia, mas Renato mostrou ser o elemento de equilíbrio no Santos – para completar, assumiu o posto da capitão, confirmando sua influência no time dentro e fora de campo. Somando tantos pontos positivos, o volante é a aposta mais certeira para o meio-campo da seleção no jogo de amanhã.

E é normal que ele seja favorito, até mesmo porque seu “rival” é geralmente o azarão nessas disputas. Juninho Pernambucano nunca foi prestigiado dentro da seleção, isso desde que saiu do Sport para jogar no Vasco. Nos últimos cinco anos, o nome do meio-campista surge nas bolsas de apostas da imprensa para uma vaga na seleção, mas poucas vezes ele foi chamado por Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão, Luiz Felipe Scolari e agora Carlos Alberto Parreira. E nas poucas convocações, ele jogou menos ainda – o que é surpreendente para um atleta que joga como volante, meia e até atacante (como faz nessa temporada), e que ainda tem histórico de “bom moço”.

Ao contrário dos técnicos, o jogador do Lyon é o mais pedido pela imprensa. “Sai qualquer um para entrar o Juninho”, resumiu certa vez o jornalista José Trajano, da ESPN Brasil. Possivelmente o melhor jogador do campeonato francês nos últimos dois anos, o meia espera que a possível entrada contra o Uruguai seja apenas o primeiro passo para uma carreira mais duradoura com a camisa amarela.

Só que a decisão está nas mãos de Carlos Alberto Parreira, que pode ter decidido sobre a alteração ainda ontem, quando conversava com Zagallo e o motivador Evandro Mota na pista de atletismo do Pinheirão. De seu jeito peculiar, extremamente conservador, o técnico da seleção não deve fazer mistério, e confirmar a alteração que menos afete a formatação tática da equipe. E se for assim, Renato pode ficar mais sossegado.

Alex respeita, mas gostaria de jogar em sua cidade

O futebol do meia Alex continua o mesmo. Mas o seu comportamento! Quem teve a oportunidade de acompanhar o jogador no início da carreira se surpreende com a postura do jogador, que os anos de sucesso trataram de moldar. Perspicaz, ele se comporta com desenvoltura até mesmo diante das perguntas mais capciosas dos repórteres, que, assim como boa parte dos brasileiros questionam, a decisão do técnico Carlos Alberto Parreira de deixá-lo fora da equipe titular.

“Não estou conformado com a situação. Afinal, acredito que os 22 jogadores estejam sempre brigando para vestir a camisa titular. Mas há que se respeitar o companheiro que está titular e a decisão do treinador.”

Aliás, o nome de Parreira é um constante nas declarações do jogador. Afinal, a palavra final sempre é do treinador. mesmo quando a pergunta é direcionada à possibilidade de Alex fazer par com Kaká na meia-cancha da seleção. “Um não exclui o outro. É claro que é possível que joguemos juntos. mas quem define esquema tático e se joga sicrano ou beltrano é o técnico. Nós temos que aceitar a decisão de quem manda.”

A atual situação de Alex na seleção, não há como negar, tem um quê do que aconteceu nas eliminatórias de 2002, quando não se firmava na equipe titular. “É um estágio parecido. Faço parte de um grupo. Fui titular contra a Colômbia, mas isso não quer dizer nada. E isso é até certo ponto normal, porque todos têm muita qualidade, caso contrário não estariam na seleção.” Entretanto, mesmo valendo-se de um discurso político, Alex não esconde que será muito especial se tiver a oportunidade de jogar pela seleção diante da torcida curitibana, que viu seu futebol aparecer para o mundo – ele iniciou a carreira . “Já atuei aqui em dois amistosos. mas em jogo para valer é diferente. Tenho um carinho enorme pela torcida curitibana por ser daqui, ter começado aqui.” Apesar do prestígio na capital paranaense, Alex não acredita que o fato de ser curitibano possa influenciar na decisão do técnico Parreira em escalá-lo. “Isso não faz sentido. Treinador não escala time para fazer média.”

Técnico responde ao presidente

“Cada macaco no seu galho.” Foi assim que Carlos Alberto Parreira respondeu às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não gostou do rendimento da seleção brasileira no jogo frente ao Peru. O técnico disse que não é sua função analisar a atuação do ministério do presidente, mas saiu da questão de forma politicamente correta. “Se ele falou como torcedor, tem todo o direito e respeito isso.”

Pouco antes de receber o presidente da República Dominicana, Hipólito Mejía, o presidente Lula conversou informalmente com os fotógrafos e jornalistas que o aguardavam no salão nobre do Palácio do Itamaraty. O presidente fez comentários sobre o empate de domingo, pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

Lula disse que a seleção brasileira não esteve bem, principalmente no meio-de-campo, que não teve criatividade para superar a marcação do adversário. Não gostou principalmente do desempenho do volante Zé Roberto. “Acho que ele deveria ser substituído no próximo jogo”, opinou.

Ao que tudo indica, o desejo de Lula não se realizará, pois Parreira pretende manter o meia do Bayer Leverkusen no time. Esta não é a primeira vez que um presidente da república dá palpites em relação à seleção brasileira. Antes da Copa de 70, Emílio Garrastazú Médici pediu publicamente a convocação de Dario, descartada por João Saldanha e depois confirmada por Zagallo. No ano passado, Fernando Henrique Cardoso reclamou da ausência de Romário na convocação de Felipão, mas não foi atendido.

Jornalistas sofrem com o velho improviso de sempre

Desorganização. Foi isso que se viu no Pinheirão e no hotel Paraná Golf ontem, no primeiro dia da seleção brasileira em Curitiba. Sobrou para os jornalistas, que não sabiam onde seria a entrevista coletiva, e para os responsáveis pela segurança, que ficaram perdidos esperando o posicionamento da CBF. O que se prometia como exemplo de organização se tornou exatamente o contrário.

Nenhum profissional da CBF estava no Pinheirão quando os jornalistas brasileiros e uruguaios chegaram no estádio. Apenas os roupeiros da seleção estavam no vestiário, sem nenhuma segurança -tanto que repórteres conseguiram até entrar no reservado, e só não houve filmagem lá dentro porque não permitiram uma emissora de TV do Uruguai fazer as imagens.

Depois, policiais pediram aos jornalistas que saíssem de onde estavam (fora do estádio, mas a passos da entrada do vestiário). Mas eles não sabiam para onde os repórteres iriam, criando uma saia-justa. Esta foi piorada quando um dos comandantes do policiamento pediu que os roupeiros da CBF mostrassem as suas credenciais.

A polícia parecia perdida, já que não havia indicação para nada – apenas o gramado estava cercado. “Estamos esperando o coronel Castelo Branco”, dizia um policial, referindo-se ao chefe de segurança da CBF. A orientação seguinte frustrou os jornalistas: todos deveriam deixar a pista de atletismo e ficar esperando nova ?ordem?. Quando esta chegou, a imprensa se irritou: não haveria mais entrevistas no Pinheirão, apenas a “janela” aberta no hotel Paraná Golf.

Para quem não foi, azar. O assessor de imprensa da CBF Rafael Fernandes parecia resignado a dar a informação, sem poder inclusive dizer onde seria a entrevista de hoje. Além disso, apenas fotógrafos e cinegrafistas poderiam ficar no gramado. Parecia uma represália à imprensa, já que a comissão técnica não teria gostado da invasão dos fotógrafos nas dependências do Paraná Golf, inclusive na piscina. Mas os próprios jornalistas refutam essa hipótese. “A assessoria sempre ajuda. Eles não fariam isso”, comenta José Alberto Andrade, da rádio Gaúcha.

Improviso

As obras inacabadas do Pinheirão surpreenderam os jornalistas que foram ao treino de ontem. “Ainda está faltando muito”, disse Alejandro Figueredo, da TV uruguaia. “Toda vez que venho aqui lembro do Emídio Perondi (presidente da Federação Gaúcha de Futebol). Ele disse que já veio a umas cinco inaugurações do Pinheirão. E que sempre virá, porque gosta do Onaireves Moura”, brinca José Alberto Andrade.

Rivaldo compensa falta de ritmo treinando mais

O empate em 1 a 1 entre Brasil e Peru trouxe de volta as velhas críticas ao futebol de resultados do técnico Carlos Alberto Parreira. Entretanto, apesar da apresentação questionável da seleção, um jogador em especial conseguiu se destacar e promete manter a mesma energia para a partida de amanhã, contra o Uruguai. Trata-se do meia Rivaldo, que vive momentos antagônicos em sua carreira: amarga a reserva no Milan, comandado por Carlo Ancelotti, e é homem de confiança do técnico Parreira na seleção brasileira.

Tanto que sua última partida havia sido o amistoso entre Brasil e Jamaica, no dia 12 de outubro. “Não é fácil estar vivendo isso. Mesmo porque não jogando no Milan, o ritmo de jogo não fica o mesmo”, diz. De fato, o jogador teve que ser substituído no decorrer da parida contra o Peru, visivelmente desgastado. “Tento que compensar treinando até mais que os companheiros, mas não é a mesma coisa.”

Apesar de não estar jogando no Milan, o que também chamou a atenção no jogo contra o Peru foi a sintonia de Rivaldo com o meia Kaká, a sensação da equipe italiana na atual temporada. “Jogamos juntos em alguns treinos, mas em jogo, só mesmo pela seleção. Acho que tem mais a ver com a adaptação de nossas características de jogo”, diz, emendando um elogio. “Nós nos damos bem também fora de campo. Kaká é exemplo de jogador e pessoa.” Não por coincidência, os dois dividem o mesmo quarto na concentração.

Mas engana-se quem pensa que Rivaldo seja partidário de Kaká. Profissional, ele garante que não faz distinção entre os companheiros de equipe. “Não importa quem joga ao meu lado, se é Kaká ou Alex. Mesmo porque ambos têm uma qualidade inquestionável”, diz, esquivando-se de se aprofundar no aspecto escalação. “Conversamos pouco após o jogo. O professor deve se aprofundar no assunto escalação a partir de hoje (ontem)”.

Uruguai

Sobre as críticas sofridas pela seleção após o empate com o Peru, Rivaldo é enfático, no alto de sua experiência em eliminatórias. “É natural que isso ocorra, especialmente no início da disputa. Mas estou certo que contra o Uruguai, o jogo vai ser mais aberto e teremos mais espaços para atacar.” E emenda. “Se fizermos uma análise fria, falta pouca coisa. Contra o Peru, faltou o gol no primeiro tempo, que poderia ter definido o jogo.”

Poucos pagam ingresso para ver treino

Rodrigo Sell

O primeiro treino da seleção brasileira acabou atraindo poucos torcedores ao Estádio do Pinheirão ontem à tarde. Mesmo com ingressos a apenas R$ 3,00, a ausência dos titulares levou pouca gente até as dependências do centro poliesportivo, onde o Brasil enfrenta o Uruguai, amanhã, pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2006. Cerca de 400 pessoas se dividiram em apoiar e xingar os reservas e a comissão técnica que foram treinar à tarde após o empate com o Peru.

Sem a presença do ídolo Kaká, poupado como os outros titulares, o meia santista Diego acabou atraindo as atenções. Considerado o novo queridinho do futebol brasileiro, pelo futebol e por atrair a atenção das torcedoras, recebeu muito carinho nos gritinhos e nos cartazes espalhados pelas arquibancadas. “Ele é um ótimo jogador, santista. Não chego a colecionar muitas coisas sobre ele, não sou tão fanática, mas gosto muito dele”, revelou Andreza Gordejado, que aproveitou a proximidade para fotografar o craque.

O mesmo fizeram Sebastião José dos Santos, Helena do Nascimento e Priscila Favero, todos da mesma família, que se uniformizaram para curtir da presença da seleção em Curitiba. Moradores do Bairro Alto e torcedores do Coritiba, pediram ao técnico Carlos Alberto Parreira para escalar o meia Alex, revelado pelo Alviverde. “O meio-de-campo não ajudou o ataque, que praticamente jogou sozinho. O goleiro Dida dava aqueles balões sem fundamento algum. O jogo estava bem fraco”, arriscou Sebastião.

Hoje, a delegação canarinho, desta vez completa, volta a treinar no Pinheirão e novamente o estádio estará aberto aos torcedores. Cadeiras inferiores custarão R$ 10,00 e cadeiras superiores, R$ 15,00. A arrecadação será destinada a entidades beneficentes.

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