Normalmente nas grandes empresas funciona assim: o chefe manda, o funcionário acata. No São Paulo, a coisa é um pouco diferente: Muricy Ramalho sugere, Juvenal Juvêncio banca. O técnico são-paulino admira seu patrão. E o presidente do clube põe a mão no fogo por seu subordinado. Em três anos de convivência profissional, nunca a dupla do São Paulo esteve tão afinada. Apesar das escorregadas do início da temporada, os dois foram a engrenagem que manteve o trem tricolor nos eixos para conquistar o hexacampeonato brasileiro no domingo, contra o Fluminense, no Morumbi.
Já fazia algum tempo que os bastidores do clube não apresentavam tantos problemas durante uma temporada. Em 2008, o São Paulo fugiu pela primeira vez de sua filosofia de apostar no planejamento de longo prazo. Contratou três jogadores por empréstimos de seis meses, e arcou com as conseqüências de lidar com atletas problemáticos como Fábio Santos, Carlos Alberto e Adriano. O presidente apoiou, o técnico aceitou e todos os contratados protagonizaram confusões no primeiro semestre.
Os equívocos custaram a eliminação na semifinal do Campeonato Paulista e a derrota para o Fluminense nas quartas-de-final da Libertadores. A cabeça de Muricy ficou mais uma vez a prêmio – nos dois anos anteriores, as derrotas na competição continental também fizeram o técnico balançar no cargo. Mas, apesar da pressão de conselheiros influentes no clube, Juvenal bancou o treinador.
“Aqui tem comando”, afirmou Muricy. “Ninguém pode descrever o que sentimos com aquele gol do Fluminense [Washington classificou o time carioca com um gol nos minutos finais]. Se não tivesse comando, se não recuperássemos o crédito dos jogadores, não teríamos como reagir.”
Com o comando da dupla reajustado, o São Paulo começou a entrar lentamente no caminho das vitórias outra vez. Certo momento, na sexta colocação no Campeonato Brasileiro, a 11 pontos do líder Grêmio, os próprios jogadores chegaram a duvidar de uma arrancada. Fraquejaram, acabaram se envolvendo em confusões – como na balada onde Éder selou sua dispensa e estava na companhia de Rodrigo, Júnior e Jorge Wagner. Os três outros envolvidos permaneceram, mas apenas depois de uma conversa com o presidente. “Mostrei a eles o valor de jogar neste clube”, afirmou Juvenal à época.
O presidente ainda reuniu o grupo para um puxão de orelhas depois do empate em 1 a 1 com o Atlético-MG, no Mineirão, no início de setembro. “Foi o nosso pior jogo do campeonato, horrível”, classificou Muricy. Depois, a reviravolta, que teve efeito no bolso dos jogadores – Juvenal abriu o cofre, com o apoio do técnico. O título, agora, só depende de uma vitória.