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Piazada paranista é que vai sofrer com leilão da Vila

Caso o Paraná não consiga reverter a venda em leilão da Vila Olímpica do Boqueirão, arrematada ontem pela manhã, por R$11,65 milhões, pela empresa Seagull Incorporações e Participações, quem sofrerá na pele as consequências serão as categorias de base tricolores.

Desde o início do ano, as categorias sub-11, sub-13 e sub-15 do Paraná utilizam a estrutura do local para treinamentos. Os times sub-17 e sub-19 treinam no CT Ninho da Gralha, em Quatro Barras. No entanto, todas as equipes utilizam o estádio do Boqueirão para mandar seus jogos nos campeonatos de base.

“É um pecado porque todo o projeto da base se desenhou com a participação da Vila Olímpica. O que mais preocupa é que todos os jogos da base acontecem lá, é uma forma dos meninos terem a experiência de jogar em estádio”, explica o supervisor da base paranista, Mathias Lamers, que revela ainda que a situação pode prejudicar o andamento da equipe sub-23 do Paraná, que a partir de junho disputa a Taça FPF da categoria.

“O objetivo era mandar os jogos do sub-23 na Vila Olímpica, até para não prejudicar o gramado da Vila Capanema”, prossegue Lamers que, entretanto, permanece otimista sobre a possibilidade de cancelamento do leilão.
“O clube está entrando com um recurso, é tudo muito novo, não muda de imediato a vida dos meninos. Tem muita coisa para rolar. Enquanto não tiver uma situação oficial vamos permanecer. Por enquanto, o projeto continua”, complementa Lamers.

Ex-técnico quer 450 mil

Um dos nove ex-funcionários arrolados no processo que levou ao leilão da Vila Olímpica do Boqueirão, o técnico Ricardo Pinto foi contratado pelo Paraná em uma negociação frustrada de patrocínio com a fabricante chinesa de equipamentos agrícolas Sinoway, em 2011. Na época, o clube estava sob o comando do presidente Aquilino Romani e caiu para a Série B do Paranaense.

Sem receber salários no período em que trabalhou no Tricolor, de fevereiro a junho de 2011, o treinador, acionou o Paraná na Justiça. Da dívida total de R$ 1,6 milhão, Pinto tem o maior valor a receber: R$ 450 mil. A reportagem tentou contato com o treinador, mas ele prefere não falar.

“O Ricardo Pinto foi contratado via Sinoway, que impôs a contratação dele como condição para o patrocínio. Todo mundo sabe disso”, admite Romani, que atualmente faz parte do grupo Paranistas do Bem, que prometeu investir R$ 4 milhões no clube em troca da renúncia de Rubens Bohlen, fato consumado há três meses.

“Tiveram outras gestões que acompanharam a dívida com o Ricardo Pinto e que deveriam ter feito o acordo, já que o valor era pequeno. Mas é difícil, o clube não tem dinheiro. Acompanhei o processo que levou ao leilão, que era para ser cancelado. O clube ainda conseguirá reverter”, confia Aquilino.

Calote dos chineses

Na época da negociação com a Sinoway, o atual presidente, Luiz Carlos Casagrande, o Casinha, ocupava o cargo de gerente social e de marketing e, portanto, participou diretamente do negócio. Além dele, outro integrante do Paranistas do Bem, Waldomiro Gayer Neto, era o então segundo vice-presidente do clube. Depois de Aquilino, três anos de gestão Rubens Bohlen também não foram capazes de quitar a dívida com Ricardo Pinto.

Dentro e fora de campo, o negócio com a Sinoway foi o pior possível. A condição dos chineses para investir cerca de R$ 250 mil mensais no Tricolor, pelo período de um ano, foi a exigência de contratação de Ricardo Pinto, que até então acumulava passagens como técnico por equipes pequenas do futebol brasileiro, e do auxiliar-técnico Luiz Juresco.

Dentro de campo, Pinto foi incapaz de evitar o rebaixamento do Paraná para a Segunda Divisão do Estadual, um dos maiores vexames da história paranista. Meses depois, após fraco início na Série ,B, acabou demitido.

Os chineses nunca depositaram os valores de patrocínio. Uma das desculpas foi de que a empresa estaria tendo problemas burocráticos do Banco Central para liberar a entrada do dinheiro no país. Até hoje, o Tricolor tenta na Justiça obter uma indenização.

História

A área da antiga Fazenda do Boqueirão, que se tornou a Vila Olímpica foi adquirida em 1975 pelo Pinheiros. Oito anos depois, em 1983, o estádio, cujo nome oficial é uma homenagem ao ex-presidente do Pinheiros, Érton Coelho, virou a casa pinheirense, com a inauguração do estádio.

Apesar de preferir jogar na Vila Capanema, o Paraná conquistou dois títulos no Boqueirão: os Paranaenses de 1994 e 1997. Também escapou do rebaixamento do Brasileirão de 1998.

Até o elenco voltar a treinar lá em 2013, o estádio ficou abandonado por 13 anos. Em 2014, o Tricolor mais uma vez deixou o local. Desde então, somente as categorias de base treinam no estádio.