Os dias de Rubens Bohlen na presidência do Paraná parecem estar com prazo de validade. Além de não poder concorrer nas eleições de setembro por já ter sido reeleito, o mandatário sofre enorme pressão internamente para deixar o cargo e alega que estão tentando um golpe contra ele. Uma frente de paranistas, inclusive, ofereceu R$ 4 milhões de suporte, mas com a condição de sua renúncia do cargo. O cenário contrasta, curiosamente, com o pedido de união e do fim das vaidades feito pelo gerente de futebol, Marcus Vinícius, há um mês.

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Na última quarta-feira, os conselheiros Carlos Werner e João Quitéria estiveram pela segunda vez com o presidente tricolor na sede social da Kennedy. O primeiro, que bancava sozinho os investimentos nas categorias de base, rompeu com a diretoria anteontem e é o líder do movimento. Já o segundo é vice-presidente da Fúria Independente, única organizada do Tricolor, e que conta boa representação.

“Vieram oferecendo R$ 4 milhões para tocar o futebol. Se fosse R$ 20 ou R$ 30 milhões, a conversa seria diferente, mas a quantia não resolve. Estão querendo comprar uma vaga de presidente? Comigo, as coisas não funcionam assim. Eles tinham que apresentar um projeto, todas as nossas decisões passam pelos conselhos. Não é porque tem dinheiro que vai ‘tomar de assalto’ o clube. Isso é um racha. União só no hino”, lamenta Bohlen em entrevista à rádio Transamérica.

Na conversa, os dois conselheiros afirmaram que representavam um grupo de tricolores que estava disposto a assumir o clube, com Bohlen saindo do cargo oficialmente no dia 2 de março. Aliado a eles, mais alguns conhecidos da torcida: os ex-presidentes Aquilino Romani e Aurival Corrêa, os ex-dirigentes Waldomiro Gayer Neto e Durval de Lara Ribeiro, o “Vavá”, o ex-diretor da Base, Renê Bernardi, e o vereador Thiago Gevert. Mais dois nomes não revelados completam o grupo, com um deles sendo Renato Trombini. Cada um entraria com R$ 400 mil, fechando os R$ 4 milhões.

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Assim, Luiz Carlos Casagrande assumiria no início desta semana, com Aldo Coser passando para 1º vice-presidente. Internamente, o “Casinha” já manda há anos e tudo passa por sua aprovação. Vavá tocaria o departamento de futebol, com Marcelo Nardi (superintendente) e Marcus Vinícius (gerente) sendo dispensados. A proposta, entretanto, não foi aceita. O presidente alegou que só sairia se seus dois vice-presidentes fossem junto com ele. “Não dá direito a falar isso. É confusão dele, não nossa. Eu até sairia pelo bem do clube, mas quem está com problema é o Bohlen. São todos paranistas oferecendo auxílio, o próprio presidente entrou em uma crise tentando ajudar. São épocas diferentes. Que ele coloque a mão na consciência, saia e siga a vida”, cobra Coser.

Amanhã acontece uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo. O mandatário paranista pediu que esse grupo detalhasse a proposta dos R$ 4 milhões na ocasião, fora a explicação do pedido de retirada de processos do clube contra os ex-presidentes Miranda e Corrêa – esse último vai ser cancelado por outro motivo não especificado. Vale lembrar que ambos foram os responsáveis pelo grande imbróglio na venda do meia Thiago Neves com a Systema, de Léo Rebello, que gerou uma dívida de R$ 30 milhões.

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Por outro lado, os conselheiros vão cobrar fortemente Bohlen sobre gastar mais que o orçamento previsto em todo seu mandato, além dos R$ 700 mil antecipados da CBF recentemente. Outro assunto importante é a demonstração da auditoria contratada externamente feita em todo o Paraná, que vai mostrar o rombo detalhado no clube.

A dívida ainda não é revelada, mas gira entre R$ 50 e R$ 60 milhões. Coser acredita que, se depender somente desta questão, o presidente segue no cargo. “Se depender da auditoria, acho que ele não renuncia. A auditoria vai mostrar que a, dificuldade do Paraná não é tão grande. Temos problemas, claro, mas não tão grave como falam”, despista.

A tendência é de que Rubens Bohlen, a cada dia, fique mais isolado no dia a dia do Paraná por não ter mais aliados na alta cúpula. Entretanto, antes da reunião do dia 5, a renúncia é praticamente impossível. O mandatário vai aguardar o desenrolar da semana para poder tomar uma decisão. Na Kennedy, durante toda a terça-feira, reuniões com a presença do presidente foram constantes e devem seguir nos próximos dias.

A reportagem tentou ouvir mais envolvidos na guerra política do Tricolor. “Não tenho mexido com o clube, saí em 2008 e não me meti mais. Nem conheço o presidente. Também não tenho vontade de ajudar. O problema é que o futebol é cheio de vaidades”, diz Vavá, que esteve nos bastidores paranistas em 2011, durante a campanha do Campeonato Brasileiro e do retorno curto da parceria com a LA Sports.

Aquilino Romani desligava a ligação na maioria das tentativas. Já João Quitéria, Aurival Corrêa e Luiz Carlos Casagrande não atenderam em nenhuma oportunidade.

Crise financeira

Na semana passada, o presidente Rubens Bohlen conseguiu pagar dois meses de salários atrasados no Paraná com a verba que pegou da CBF. Mesmo assim, os remanescentes de 2014 ainda estão com outubro, novembro, dezembro, 13º, férias e janeiro em débito. Fevereiro vence agora no dia 10.

A Associação dos Patronos da Gralha Azul (Apaga), na mesma semana, conseguiu pagar 11 funcionários que recebem até dois salários mínimos com os R$ 17.198,12 em contribuições pelo projeto “Salário em dia”. A arrecadação continua para a quitação do salário referente ao mês de novembro.

A folha salarial atual gira em torno de R$ 250 mil no futebol e R$ 150 mil dos demais funcionários do clube. Com a promessa de ter dois patrocínios até o fim do Estadual, após perder a Caixa no final de janeiro, Bohlen aposta na torcida. “Passamos, em um mês, de menos de 3,6 mil sócios para mais de 5,2 associados. A torcida está vindo, acreditando. E ainda tem o dinheiro dos patrocinadores”, diz com esperança.

As soluções, que também passam pelo marketing e o lançamento do uniforme em maio, até podem ajudar, mas ficam longe de resolver o problema. Na proposta feita pelo grupo liderado por Carlos Werner, as contas atuais não sofreriam atrasos. A ideia é poder reforçar melhor o elenco e subir a folha exclusiva do futebol para R$ 400 mil. Os 10 integrantes desembolsariam R$ 4 milhões ao todo, dividido em cada um, para dar o suporte.

Contraste

Agora unidos, o ex-presidente Aquilino Romani e a Fúria Independente viveram momentos tensos em um passado recente. Mandatário na época do rebaixamento a Divisão de Acesso, em 2011, o dirigente viu a organizada expor uma faixa na primeira partida da Série B daquele ano dizendo que nada ia apagar a vergonha de ser rebaixado no Estadual.

Ainda no mesmo ano, integrantes da Fúria e outros torcedores avulsos chegaram a ir até a fábrica de Romani, em Araucária, para cobrar uma postura do presidente. Entretanto, o mandatário não estava na empresa no período da noite e nada aconteceu.

Eleições

Com mandato até dezembro deste ano, Rubens Bohlen decidiu antecipar as eleições para setembro. A ideia do grupo que pretende “dar o golpe” no presidente é de colocar o 1º vice-presidente, Luiz Carlos Casagrande, na presidência. Apesar de, internamente, já ser o dono da última palavra no clube, o “Casinha” é o nome preferido e seguiria tocando na sua área mais forte politicamente: o social. Como essa parte se banca sozinha, os R$ 400 mil ficariam apenas voltados ao futebol.

A jogada política ainda envolve ganhar tempo para tentar arrumar a casa. Com Casagrande como presidente, a tendência era de seguir com o mesmo nome na eleição. Carlos Werner, que bancou as categorias de base por mais de um ano e meio, é um nome em potencial dentro do grupo pelo prestígio e aporte financeiro. O empresário Luiz Felipe Rauen, que é dono da Racco e estampa o nome da empresa no antigo CT Barcelos, também agrada.