Paraná Clube vai no embalo da torcida

O ritmo do jogo será um puro reflexo do grito que ecoará da arquibancada. Com casa cheia, o Paraná Clube entra em campo hoje – às 15h40, no Pinheirão – com a missão de pôr fim a um incômodo jejum. A galera tricolor espera soltar o coro de "é campeão…", entalado na garganta há exatos 5 anos, 4 meses e 22 dias.

Papão de títulos nos anos 90, o tricolor não festeja uma conquista desde novembro de 2000, quando deu a volta olímpica no Palestra Itália, após superar o São Caetano na decisão do módulo Amarelo da Copa João Havelange.

Em se tratando apenas de competições "domésticas", o Paraná está na fila há quase nove anos. Uma espera angustiante e que, ao que tudo indica, tem hora e local para terminar. Depois de um início de temporada de altos e baixos, o tricolor pisa hoje no gramado do Pinheirão como franco favorito ao título. Uma vantagem conquistada na raça, por um grupo formado à imagem de seu treinador. Luiz Carlos Barbieri não se cansa de exaltar a simplicidade do elenco, que nada mais é do que o reflexo daquilo que o técnico transmite no dia-a-dia, em entrevistas e preleções.

Sem estrelas ou estrelismos, o Paraná conseguiu montar um grupo coeso, que se transformou num time competitivo graças ao pulso forte de Barbieri, que insistiu em suas convicções. Com poucos remanescentes – dos titulares, apenas Flávio e Beto – da equipe 7.ª colocada no Brasileirão do ano passado, o trabalho da comissão técnica (também reformulada, com as ascensões do preparador físico Marcos Walczak e do treinador de goleiros Renato Secco) foi reorganizar uma equipe, queimando etapas e administrando a pressão motivada pelos recentes fracassos em estaduais.

A partir da 11.ª rodada, o Paraná decolou e "atropelou" seus adversários. A arrancada começou no clássico frente ao Coritiba (vitória por 3×0) e desde então a seqüência de vitórias só foi quebrada por um empate, nas quartas-de-final, contra o Iraty. Invicto há onze jogos, o tricolor hoje pode até perder por dois gols de diferença, que mesmo assim "levanta o caneco". O astral positivo tomou conta do torcedor paranista. A carga de ingressos esgotou rapidamente e depois de muito tempo, o azul, vermelho e branco coloriu a cidade. Tanto que Barbieri fez questão de isolar o elenco do oba-oba dos torcedores.

Com treinamentos intensos e concentração antecipada, "fechou" o grupo de jogadores em torno da decisão. "O foco é o jogo. Queremos fechar a competição com vitória e trabalhamos para isso", afirmou Barbieri. O técnico não mexeu no sistema de jogo e mantém o Paraná programado para exercer forte marcação – a partir da intermediária adversária – e fazer do contragolpe sua arma e caminho para a reconquista da hegemonia do futebol paranaense.

O sacrifício de Flávio e Maicosuel para jogar a final

Logo após a primeira partida frente a Adap, em tom de ameaça, Barbieri disse: " Quem estiver de salto alto, eu corto". Era um aviso para o grupo não se deixar levar pelo clima de "já ganhou". Os treinos da semana deram ao técnico a certeza de que o grupo está focado na grande final. Tanto que alguns jogadores lesionados, na base da superação, participaram de treinamentos para garantir escalação.

O meia Maicosuel chegou a ter seu veto anunciado pelo departamento médico, devido a uma lesão de joelho sofrida no jogo em Maringá. Exames comprovaram que a contusão não era tão séria como se pensava e já na quinta-feira, sob chuva, o garoto calçou chuteiras e foi para o coletivo. "Não queria perder esse jogo por nada. Vale o esforço", afirmou Maicosuel. O meia, que iniciou a temporada no banco de reservas, transformou-se no xodó da torcida e na maior referência criativa do "novo" tricolor.

Já o goleiro Flávio, no treino de quarta-feira, sofreu nova entorse no punho, uma lesão que o acompanha há várias rodadas. Ficou dois dias em tratamento e ontem participou do "rachão" na linha. Depois, fez trabalhos específicos com o preparador de goleiros Renato Secco. "Não dá para dizer que estou 100%, pois o local ainda dói. Mas dá para encarar", disse o Pantera. O goleiro quer fechar a competição como o goleiro menos vazado. Sabe que se mantiver a perfomance, o título será confirmado. "Estou completando quatro anos de clube. É um título para coroar o bom trabalho que fizemos até aqui."

A única ausência, na equipe-base de Barbieri, é o zagueiro Neguete. Com uma lesão no joelho esquerdo, ele dá lugar a João Paulo. Mesmo suplente, João Paulo faz hoje seu 11.º jogo neste paranaense. "Tenho jogado com freqüência. Por isso, estou no mesmo ritmo dos demais jogadores", lembrou. O Paraná tem a melhor defesa do campeonato, com apenas 15 gols sofridos em 19 jogos. Números que conferem ao tricolor o total favoritismo na tarde de hoje. (IC)

FINAL – JOGO DE VOLTA

PARANÁ CLUBE x ADAP

PARANÁ: Flávio; Gustavo, Émerson e João Paulo; Goiano, Rafael Muçamba, Beto, Sandro, Maicosuel e Edinho; Leonardo. Técnico: Luiz Carlos Barbieri.

ADAP: Fábio; Ângelo, Dezinho, Alex Noronha e Batista; Leandro, Felipe Alves, Gildázio (Mineiro) e Ivan; Souza (Warlley) e Marcelo Peabiru. Técnico: Gilberto Pereira.

Local: Pinheirão (Curitiba).

Horário: 15h40.

Árbitro: Cleivaldo Bernardo.

Assistentes: Rogério Carlos Rolim e Faustino Vicente Lopes.

A união pode fazer o título estadual

Se o Paraná Clube confirmar o favoritismo e conquistar o título paranaense desta temporada, será a vitória de um grupo de jogadores que se transformou, realmente, em uma família. Poucas vezes se viu, pelo menos nos últimos anos, um elenco tão unido – e que assumiu a luta de todo um clube pela recuperação da hegemonia do Estado.

A força do grupo paranista pode ser vista antes mesmo dos treinos. Durante a semana, os jogadores se reúnem para ir à Vila Capanema. Carros lotados chegam ao estádio tricolor. No volante, os mais experientes, que ‘carregam’ os mais jovens.

Outro que faz o papel de ‘tio’ é o volante – e agora ala – Goiano. Atleta há mais tempo no clube (10 anos), ele passou a ser uma referência para os mais novos, e também um interlocutor importante para os recém-chegados. Goiano passou pela glória da metade dos anos 90, das tragédias do final da década e pela recuperação de agora. "Ele sempre conta como as coisas são aqui, e isto nos deixa mais a par do que é realmente o Paraná Clube", conta o atacante Leonardo.

Os jogadores de ‘meia-idade’, como Rafael Muçamba e Neguete, são os responsáveis por animar o elenco. Em contrapartida, quando começa o trabalho, todos estão compenetrados. E a resposta é vista em campo. "Nunca vivi com um elenco tão unido", finaliza Leonardo. (Cristian Toledo)

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