Pan é o próximo objetivo do time de Bernardinho

Bernardinho, o treinadorque levou a seleção brasileira masculina de vôlei a dez finais, conquistando oito títulos, o último, da Liga Mundial, em Madri, domingo, tentará outra façanha a partir de 1.º de agosto. Recuperar a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos, na República Dominicana. Na edição de 1983, em Caracas, a última vez que o Brasil se sagrou campeão, ele esteve em quadra, como reserva do levantador William. “E vai conseguir com certeza esse título, assim como o único grande que lhe falta, o da Olimpíada, no ano que vem, em Atenas”, aposta Renan dal Zotto, companheiro de Bernardo na época de prata do vôlei nacional.

Para o pan-americano, Bernardinho, técnico perfeccionista, estudioso e companheiro de seus atletas, deverá levar a mesma seleção que desembarcarca nesta segunda-feira à noite, em São Paulo, com o troféu da Liga. Giovane, que está de casamento marcado, poderá ficar de fora. Isso porque a competição realmente importante deste ano é a Copa dos Campeões, no Japão, classificatório para a Olimpíada de 2004 os três primeiros carimbam o passaporte para Atenas. Caso não assegure a vaga, a seleção terá de disputar um pré-olímpico no ano que vem.

“O Bernardo deixou de ser treinador para virar um mito”, resumiu Tande, campeão olímpico em Barcelona, em 1992, e agora jogador de vôlei de praia. “Ele é o melhor treinador do mundo sem sombra de dúvida. No feminino tirava leite de pedra e no masculino está ganhando o máximo. Mais do isso é humanamente impossível já que do outro lado da quadra tem sempre um outro time tentando ganhar também”, elogia Renan.

“Ele é fantástico, sensacional. Nós que o conhecemos bem, desde a época de atleta, sabemos o quanto é capaz. Só está confirmando isso”, afirma William, técnico do clube feminino de São Caetano. “Nós treinadores sofremos muito nos jogos. Eu fiquei maluco com essa final da Liga. Tive vontade de voltar a jogar e entrar na quadra também.”

Bernardinho, de 43 anos, começou a jogar vôlei em 1972, no Fluminense. Em 1977, foi convocado para a seleção brasileira juvenil, mas foi cortado durante os treinamentos. Em 1980, com 21 anos, conseguiu pela primeira vez um lugar na seleção e disputou a Olimpíada de Moscou. No ano seguinte, transferiu-se para a Atlântica-Boavista, que mais tarde se transformaria no Bradesco. Foi lá que teve as maiores conquistas como atleta encerrou carreira no Vasco, em 1989.

Ganhou o título brasileiro em 1981; o campeonato sul-americano (1982) e a Copa do Brasil (1983). Foi vice-campeão mundial de clubes (1984) e brasileiro (1982, 83, 84, 85 e 86). “Ele superava a falta da técnica com inteligência e treinamento”, observa William. “A perseverança já era característica do Bernardo atleta. É perfeccionista e ousado. Hoje sabe tirar o máximo dos seus atletas. O jogo é a colheita”, completa Renan.

A primeira experiência de Bernardinho como técnico foi em 1988 quando trabalhou como assistente de Bebeto de Freitas na seleção brasileira durante a Olimpíada de Seul o Brasil ficou em quarto lugar. Como técnico comandou o Perugia, na Itália, de 1989 a 1991 e conquistou o vice-campeonato nacional em 1990/1991 e 1991/1992, o título italiano e o vice da Copa da Europa em 1991/1992. Em Modena, treinou o time masculino (1992 e 1993).

No final de 1993 voltou ao Brasil e foi convidado para assumir o cargo de técnico da seleção brasileira feminina. De 1997 até a última temporada no comando da seleção feminina dividiu-se entre o time brasileiro e a equipe do Rexona. Como treinador desse clube ganhou a Superliga em 1997/1998 e em 1999/2000, um vice-campeonato (1998/1999), e a quarta colocação na temporada 2000/2001.

Conquista premia todo o grupo

Basta dar uma conferida na lista dos melhores atletas da Liga Mundial de Vôlei. Nenhum é brasileiro: melhor atacante -Lebl (República Checa); melhor bloqueio e saque – Geric (Sérvia e Montenegro); e melhor jogador – Milijokovic (Sérvia e Montenegro). “O time, mais uma vez, mostrou espírito de grupo. Não faturamos nenhum prêmio individual, mas ganhamos o título. E isso é o que importa”, disse o técnico Bernardinho.

Confiando no grupo que tem em mãos, o técnico brasileiro foi ousado e trocou metade do time no quarto set – se o Brasil perdesse essa parcial, o título ficaria com a Sérvia e Montenegro. O jogo terminou em 3 a 2, parciais de 25/16, 21/25, 19/25, 25/23 e 31/29. “Nosso mérito foi não ter deixado a partida ir embora. Começamos muito bem, mas perdemos a paciência depois que o saque deles começou a entrar. O quinto set foi uma loucura. Mostramos coragem e determinação”, revelou Bernardinho.

Para William, o segredo do sucesso de Bernardinho é conseguir tirar o máximo dos 12 atletas. Mexer no time e manter a qualidade técnica. O ex-jogador e atual técnico lembra que após a Liga Mundial, Ricardinho não é mais reserva de Maurício e que o meio-de-rede brasileiro vai além do Gustavo (que contundido não disputou as finais) e Henrique – Rodrigão e André Heller também podem ser considerados titulares.

“Uma cena me chamou a atenção no final do jogo. O abraço de Giba e Giovane que disputam posição. Foi sincero. Esse grupo é uma família”, afirmou William, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

O atacante Giovane, que conquistou vaga entre os seis titulares na fase final do torneio, concorda com William e Bernardinho. “O nosso maior mérito é ser uma equipe de verdade. No momento de dificuldade, aqueles que estavam no banco foram lá e tiraram o time do buraco. Temos que zelar por essa família porque ela ainda pode nos trazer muitas coisas boas”, afirmou o jogador. “É importante mantermos essa regularidade e continuarmos a acreditar no grupo”, completou.

Giba, destaque do quarto e quinto sets da decisão, comemorou a atuação do grupo. “Mais uma vez provamos que dependemos de 12 jogadores. O Giovane, o André Heller e o André Nascimento jogaram muito bem essa fase final e mereciam estar em quadra. Sinto enorme prazer em ajudar a equipe.”

Escadinha, a melhor defesa e recepção da Liga Mundial (posições sem prêmio), resumiu a façanha: “superação, coração e muito sofrimento”.

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