Palmeiras está de volta à elite

São Paulo – A festa do Palmeiras pelo título da série B e o conseqüente retorno à primeira divisão do futebol brasileiro foi digna de uma grande conquista, uma das maiores da história do clube. A comemoração, que começou no gramado do Estádio Gigante do Agreste, em Garanhuns, no sábado à noite, ficou ainda maior na manhã de ontem, com a volta do time a São Paulo.

No desembarque no Aeroporto de Cumbica, os jogadores foram tratados como heróis pelos cerca de 200 torcedores que foram recebê-los. O trajeto até a Academia de Futebol transformou-se em carreata. Depois, a maioria do elenco foi até a sede da torcida Mancha Alviverde participar da festa que começou ao final do jogo com o Sport, se estendeu por toda a madrugada e “invadiu” a manhã de ontem.

Um dia de alegria

A concentração no aeroporto começou cedo. Às 8 horas, os torcedores – homens, mulheres, crianças e até bebês, todos uniformizados -, já se reuniam no local. Esperavam a delegação cantando músicas em comemoração à conquista do título e o hino do Palmeiras. E também desabafavam, com palavrões, contra a rival torcida corintiana.

Quando os primeiros jogadores foram avistados, houve a invasão da área de desembarque, para desespero dos atônitos e despreparados funcionários da segurança do aeroporto. O meia Pedrinho e o atacante Vágner Love chegaram ao saguão carregados nos braços pelos torcedores. Magrão e Marcos quase sumiram no meio da “onda” formada pelos palmeirenses. E o técnico Jair Picerni ganhou faixas de campeão.

A palavra que os jogadores mais ouviram dos torcedores foi “obrigado”. “Eu sei que você é profissional e talvez tenha de sair do clube, mas eu nunca vou esquecer do que você fez pela gente. Muito obrigado”, disse um deles ao lateral-esquerdo Lúcio.

A festa continuou no ônibus que levou a delegação à Academia. Na Marginal do Tietê, a torcida organizada interrompeu a pista expressa para festejar com os jogadores, o que resultou num grande congestionamento. Eufóricos, alguns atletas, como Vágner Love e Muñoz, tomaram uma atitude arriscada e imprudente: surfaram no teto do ônibus em que estavam. Thiago Gentil, inclusive, sofreu ferimentos por encostar num fio elétrico.

Pouco depois, os jogadores pararam na sede da Mancha Alviverde para confraternizar com as centenas de torcedores que os esperavam. Alguns desses palmeirenses já haviam passado durante a madrugada pela Avenida Paulista, onde também aconteceu uma animada comemoração com cerca de mil pessoas, segundo a Polícia Militar.

Mesmo com sono – os campeões festejaram no hotel em que se concentraram, em Maceió, e também durante o vôo até São Paulo e muitos sequer dormiram -, os jogadores não se deixaram vencer pelo cansaço.

Marcos pegou um bumbo, Lúcio distribuiu autógrafos e Vágner Love dançou junto com a galera. Todo mundo soltou a alegria contida durante um ano, tempo em que o Palmeiras amargou a disputa da segunda divisão. E que, para a aumentar a euforia dos palmeirenses, foi superada dentro de campo.

Hoje também promete festa. Afinal, vai ser fácil encontrar torcedores palmeirenses vestindo com orgulho a camisa do clube pelas ruas de São Paulo.

Magrão vira símbolo da equipe

São Paulo –

Não foi por acaso que Magrão foi o primeiro a aceitar subir no ônibus do Palmeiras para comemorar com os torcedores da Mancha Verde. Ele assume ser o representante da torcida dentro de campo. Compensa a técnica não muito refinada com luta. Os palmeirenses perceberam a devoção e retribuíram com abraços, agradecimentos e cerveja.

“A torcida gosta muito de mim porque entendi como ela se sentiu com o rebaixamento no ano passado. E por isso lutei tanto. Dei tudo para o Palmeiras subir”, desabafava o volante. “Tinha sido mandado embora do clube, não estava na equipe que caiu. Mas fiz a minha parte agora nesta volta por cima. Por isso chorei tanto de felicidade quando acabou o jogo contra o Sport. Só palmeirense de verdade para entender”, disse, depois de, por educação, aceitar tomar um gole de cerveja oferecido por um torcedor, na manhã de ontem.

Magrão relembrava das lágrimas em Garanhuns. “Eu tinha muita coisa guardada no meu coração. Havia sido injustiçado no Palmeiras (quando foi afastado por Vanderlei Luxemburgo, em 2002 e emprestado ao São Caetano). Eu tinha de dar a volta por cima. Era muita injustiça com a minha carreira.”

No início do ano, quando o Palmeiras contratou Jair Picerni, terminou o empréstimo de Magrão ao São Caetano. Foi a coincidência com que o jogador sonhava. “Eu e o Jair temos uma ligação que vai muito além do futebol. Somos amigos de verdade. Ele decidiu me aproveitar no Palmeiras porque sabia como poderia ajudar o time. Foi muita sorte ter o Jair como técnico na luta para devolver a dignidade ao Palmeiras.”

Magrão lamentou demais o fato de sua avó ter morrido em 1997 e não ter podido acompanhar o sucesso do neto. “Este é um dos momentos mais felizes da minha vida. Queria demais que ela visse. Mas reparto essa alegria com minha mulher grávida e meu filho.”

Os comentários são insistentes de que o jogador tem uma proposta irrecusável para atuar no futebol japonês. Mas ele não parece estar decidido a sair justo agora que o clube voltou à divisão de elite.

“Sei o quanto sofremos para conseguir ganhar a segunda divisão. Quero viver esse momento feliz com o Palmeiras. Acabou a vergonha de usar a camisa do clube. Todos podem desfilar com orgulho novamente. Não devemos nada a corintianos e são-paulinos. É hora de mostrar amor pelo Palmeiras”, avisou Magrão.

Diretoria está empenhada para manter elenco

AE

São Paulo – A diretoria do Palmeiras vai deixar de lado a festa pelo acesso à primeira divisão e pelo título da série B para começar a definir, a partir de hoje, o futuro da equipe. “Primeiro vamos comemorar a volta à primeira divisão. Vamos pensar nisso a partir de segunda-feira”, disse ontem o diretor de futebol Mário Giannini, no desembarque no Aeroporto de Cumbica. Agora, começa a luta para reforçar o elenco que disputará o campeonato paulista de 2004.

O primeiro nome da lista, sem dúvida, é Jair Picerni. Ele tem contrato até dezembro, mas há comentários de que tem uma proposta do futebol do Japão. Ele nega, mas é certo que, por sua conquista a partir de uma situação adversa, o treinador não deve escapar do assédio de outros clubes.

No time, o setor mais “vulnerável” ao ataque de outros clubes é a defesa, pois só o zagueiro Leonardo tem contrato longo. Os laterais Baiano e Lúcio e zagueiro Daniel têm acordos com o Palmeiras até o fim do ano.

Lúcio deve ser uma das prioridades da diretoria, pois o Corinthians já manifestou interesse. “Mas só saio do Palmeiras se não me quiserem”, avisou o jogador.

Baiano não esconde que vê com bons olhos a possibilidade de renovar contrato. Ele quer ficar como forma de retribuir a oportunidade que teve, pois passava por momentos difíceis no Las Palmas, da Espanha, quando o Palmeiras foi buscá-lo.

O último da lista de renovações urgentes é o meia Elson. O jogador, que veio do Ituano por empréstimo, tem contrato até o fim do ano.

Fico

Mas o torcedor poderá respirar aliviado quando o assunto é o atacante Vágner Love. “Eu não vou sair do time em 2004”, adiantou o jogador, que já renovou seu contrato até 2006. Segundo ele, seu objetivo é permanecer no Palmeiras no ano que vem para ganhar experiência. “Sou bem novo e tenho bastante tempo de futebol pela frente. Não preciso ter pressa de sair ou ir para o exterior.”

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