Palmeiras decide futuro nas urnas

O dia 6 de janeiro de 2003 certamente ficará na história do Palmeiras como um dia “turbulento”. O clima nunca foi tão tenso como agora, na eleição do presidente para 2003 e 2004: o favorito Mustafá Contursi Mazjoub, 62 anos, há 10 no poder, ou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, 60, que, inconformado com o “continuísmo” do rival e o “retrocesso na administração”, decidiu ser candidato.

O duelo, esperado há meses, é só mais um capítulo da história palmeirense, que começou em 1914 e quase acabou no mesmo ano, com o início da 1.ª Guerra Mundial. Os oriundos da Itália, que fariam doações para a fundação e o crescimento do clube, tiveram de mandar os recursos para a Cruz Vermelha Italiana.

O rebaixamento do time para a Série B do Campeonato Brasileiro em 2002 fez da eleição um evento importantíssimo para boa parte da torcida. Para muitos palmeirenses revoltados, só a mudança de comando pode fazer o Palmeiras voltar a brilhar. Os maus resultados foram um duro golpe em Mustafá, que em outras eras, apoiado pela Parmalat, viveu momentos de glória. Como na conquista da Libertadores em 99 ou no fim do jejum de 17 anos sem título no Paulista de 93. “Há conselheiros chateados, mas, apesar dos péssimos resultados, o clube se projetou para o futuro.”

Mustafá dedica parte de sua vida ao Palmeiras há mais de três décadas. Em 78, já ocupava cargo importante no Departamento de Futebol, na gestão de Brício Pompeu de Toledo. Em 93, foi eleito presidente. Em 96, prometera apoiar o então vice-presidente Seraphim Del Grande – acabou mudando o estatuto do clube para poder ser reeleito. Hoje, Seraphim é um dos principais articuladores da campanha de Belluzzo e candidato a vice.

Por que o contestado dirigente é sempre favorito nas eleições? Mustafá conseguiu ter “nas mãos” grande parte do Conselho – indica os nomes a cada renovação e ganha o apoio dos escolhidos. Como bom descendente de árabes, sabe negociar e agradar às pessoas do clube. Oberdan Catani, ex-goleiro e atualmente conselheiro, é grato a Mustafá pelo tratamento que recebe no Palmeiras. Por isso, não poderia traí-lo. “Mustafá sempre me ajudou. Quando viajo para promover o nome do clube, ele me dá ajuda de custo, nunca me negou nada.”

O grupo de Belluzzo – preferido da torcida – acha que pode vencer o rival. O economista tem grande experiência administrativa. É sócio da revista Carta Capital, foi secretário no governo Quércia e um dos principais responsáveis pela entrada da Parmalat no Palmeiras, em 92, na gestão de Carlos Bernardo Facchina Nunes. Trazer parceiros para montar um time forte, apesar da retração do mercado, é a principal promessa de campanha. E não apoiará a virada de mesa, hipótese que Mustafá não afasta.

A eleição começará por volta das 20h. Têm direito a voto 287 conselheiros, mas a estimativa é que não mais de 250 apareçam no Parque Antártica. A diretoria pediu à Polícia Militar reforço na segurança, por causa das ameaças de torcedores que vêm ocorrendo ultimamente. A torcida uniformizada TUP vai organizar uma manifestação contra Mustafá a partir das 17h, na frente do estádio. O resultado da eleição deve sair no máximo, no início da madrugada de amanhã.

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