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Osaka supera timidez e discrição para se tornar a nova estrela do tênis feminino

Esqueça as roupas chamativas de Serena Williams e as poses de Maria Sharapova em quadra. A nova estrela do tênis mundial é tímida e faz o maior esforço para não chamar a atenção. Naomi Osaka prefere se destacar apenas pela sua performance esportiva em quadra e preza pela discrição até na comemoração de grandes títulos, como aconteceu ao levantar o troféu do Aberto da Austrália, no fim de semana.

“Eu esqueci de sorrir. Me falaram para eu sorrir, mas eu me esqueci”, diz a japonesa, agora entre risadas, horas depois da consagração. A tenista de apenas 21 anos admite o incômodo diante dos holofotes: “eu estava entrando em pânico”. Mas ela não terá muito tempo para se acostumar com a atenção do público e da imprensa. Ao levantar o troféu em Melbourne, tornou-se a primeira tenista asiática, tanto no feminino quanto no masculino, a ocupar a liderança do ranking.

A rápida ascensão na lista da WTA é resultado também da conquista do US Open, seu primeiro grande título da carreira, em setembro do ano passado. Ela venceu, portanto, dois Grand Slams seguidos, o que não acontecia há quase 18 anos no circuito feminino.

O primeiro triunfo ficou marcado pelos arroubos verbais de Serena Williams, o que acabou mobilizando a torcida norte-americana contra Osaka na cerimônia de premiação em Nova York. Constrangida, a japonesa chorava de vergonha diante do microfone e das câmeras. Desta vez, na Austrália, ela pôde usufruir dos aplausos e da comemoração pela vitória.

Mas não muito. “Eu liguei para a minha mãe depois das entrevistas. Ela nem me deu os parabéns. Só gritou comigo para eu dormir logo porque estava tarde”, disse Osaka, novamente entre os risos que demoraram a aflorar na Austrália. “Então, eu me senti muito amada.”

A mãe e o pai de Osaka são figuras centrais em seu sucesso. E determinação não falta ao casal. A japonesa Tamaki Osaka precisou romper com a família e deixar o seu país para poder se casar com o haitiano Leonard François. Ele, por sua vez, admite se inspirar em Richard Williams, pai das irmãs Serena e Venus Williams, na formação das duas filhas tenistas – Mari Osaka, irmã de Naomi, é a atual 332ª do mundo.

A nova número 1 do mundo nasceu no Japão, coincidentemente na cidade que carrega no sobrenome. Mas foi morar nos Estados Unidos, com seus pais e a irmã, aos três anos. Tem dupla nacionalidade, porém se sente mais à vontade falando inglês do que japonês. Foi ideia do pai fazer a tenista representar o Japão, apesar disso, em razão da menor concorrência, em comparação às norte-americanas.

As misturas culturais e étnicas tornaram Osaka a nova aposta de sucesso no tênis também fora das quadras. Os traços asiáticos e negros e os cabelos escuros levemente tingidos de loiro fazem sucesso entre os fãs mais jovens de tênis. Apesar da voz baixa e do olhar tímido, quase sempre olhando para o chão, a japonesa tem potencial para se tornar uma das tenistas mais populares do mundo.

A dificuldade agora será aprender a lidar com a fama. “Sempre fui uma jogadora simples, que nunca gostei da fama. Claro que, quando pequena, meu objetivo era me tornar uma das melhores do mundo, mas apenas porque gosto do tênis. A fama não me atrai, mas sei que acaba vindo junto com os resultados”, diz a japonesa.

Outro desafio será conviver com a pressão de ser a número 1 do mundo. “Estar nesta posição agora é algo irreal para mim”, admite Osaka – ela chegou para o Aberto da Austrália do ano passado apenas na 72ª colocação do ranking.

A japonesa já enfrentou e superou as primeiras cobranças no ano passado, após despontar no circuito, no Torneio de Indian Wells, em março. Sem conseguir repetir o resultado nas competições seguintes, ela admite que encarou até sintomas de depressão. “Depois de ganhar em Indian Wells, tive uma grande depressão porque os resultados não me acompanharam como eu queria. Precisei fazer um trabalho mental forte depois do US Open para acreditar que também poderia vencer na Austrália”, revela.

Sua força mental será testada mais uma vez nos próximos meses, quando terá pela frente Roland Garros e Wimbledon, os outros dois Grand Slams do circuito. E onde não tem resultados de expressão. Sua melhor campanha nas duas competições é alcançar a terceira rodada.

“Mentalmente eu não gosto do saibro porque não se encaixa com o meu estilo de jogo. O mesmo acontece com a grama porque vejo o pessoal deslizando sobre ela e isso me dá um pouco de medo. Vou ter que mudar a minha mentalidade”, projeta a nova estrela do tênis feminino.

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