Orgulho de Pato Branco

Pato Branco acordou cedo, ontem, e não se arrependeu. Além de trazer o terceiro título para o São Paulo, a final do Mundial de Clubes consagrou o filho mais ilustre da cidade do Sudoeste do Paraná. Rogério Ceni, eleito melhor jogador da competição, fechou o gol e encheu de orgulho seus conterrâneos.

?O foguetório foi intenso e não eram só os são-paulinos?, conta Rubens Camargo, proprietário de um jornal pato-branquense especializado em esportes. O título e o feito pessoal do jogador foram festejados com um buzinaço pelas ruas da cidade.

Rogério nasceu em Pato Branco e viveu lá até os 11 anos, quando veio com os irmãos para Curitiba. A temporada na capital durou menos de 12 meses – depois a família toda migrou para Sinop (MT), perto da divisa com Rondônia.

Na escolinha de futebol do Grêmio Industrial Patobranquense, onde se matriculou aos oito anos, ou nas primeiras peladas em Sinop, Rogério jogava na linha. A mudança de posição só veio quando o goleiro do time do Banco do Brasil – instituição onde trabalhou como auxiliar de serviços gerais entre os 13 e os 17 anos – faltou a uma partida. O volante Rogério quebrou o galho e nunca mais saiu da meta. No time profissional do Sinop, foi campeão estadual em 1990 e no mesmo ano transferiu-se para o São Paulo.

A camisa 1, porém, já era uma tradição familiar. O pai Eurydes Ceni foi goleiro profissional e atuou em equipes do interior do Paraná, como o Caramuru de Chopinzinho – cidade próxima a Pato Branco. ?Por uma grande coincidência, o distintivo do Caramuru era bem parecido com o do São Paulo?, recorda o jornalista Rubens.

Hoje, Rogério mantém poucos vínculos com Pato Branco. Alguns primos ainda moram na cidade – o pai ainda vive em Sinop e a mãe, Hertha, faleceu em 1993. ?É difícil o Rogério visitar a cidade. Mesmo assim, todos torcem pelo sucesso dele?, diz Rubens.

Além de levar o troféu de melhor jogador, Rogério Ceni tornou-se o único jogador da história a ganhar três vezes o Mundial de Clubes. Nas conquistas do São Paulo em 1992 e 93, ele era reserva de Zetti.

Outro paranaense que conheceu a glória no Japão foi o preparador físico Carlinhos Neves. Nascido em Curitiba, Carlinhos começou a carreira no Atlético, no início dos anos 80, e passou por vários dos grandes clubes do País.

O Atlético teve mais um motivo para comemorar – este, menos sentimental. O título mundial vai valorizar o atacante Aloísio, emprestado ao São Paulo, e pode render dividendos ao Atlético numa eventual negociação.

?Eu não fui herói?

Yokohama – A festa de Rogério Ceni foi toda em campo. Pulou, gritou, cantou, deu volta olímpica. Fora dele, esteve sereno, quase circunspecto.

Abdicou qualquer glória pessoal, sempre em nome do grupo de jogadores.

?Eu não fui herói desta partida?, disse, respondendo à primeira pergunta. ?Sempre que se trabalha coletivamente, pensando na vitória, há algum destaque individual. Talvez eu tenha tido essa sorte. Nada mais.?

Em seguida, mostrou os dois troféus e a taça. ?Quando o tempo passar, poucos vão se lembrar quem foi o melhor no jogo ou o melhor no campeonato. Mas, nunca vão esquecer que o São Paulo é que ganhou o campeonato mundial?, disse, ora mostrando um troféu e terminando a frase com a taça na mão, e com a voz embargada.

O São Paulo trabalhou muito para ganhar esse jogo. O foco, como gostam de dizer os jogadores, era todo no Mundial. Por isso uma indireta a Gerrard, o capitão do Liverpool, que disse se sentir imbatível, não poderia faltar. ?Nós não somos imbatíveis. Só que ganhamos o jogo que precisávamos ganhar. Isso é que é importante. Por isso, somos campeões.?

O goleiro do São Paulo negou que tenha sido essa a melhor partida de sua vida. E jura ter feito defesas melhores do que a da cobrança de falta de Gerrard, aos seis minutos do segundo tempo, em seu ângulo esquerdo. ?Como faço gols, as pessoas dão muita importância a isso e não olham as defesas. Já houve jogos em que o São Paulo foi muito mais exigido do que hoje (ontem). Só que nada foi tão importante como o jogo de hoje (ontem).?

Ele tem noção exata do que foi conquistado. ?Nós colocamos o São Paulo novamente no cenário mundial, depois das conquistas de 1992 e 1993. Estamos ao lado de outros cinco grandes do mundo, com três conquistas mundiais. Não há ninguém melhor do que nós.?

Rogério não quer, mas poderia dizer também que não há ninguém melhor do que ele na história do clube. São 645 jogos com a camisa do São Paulo, desde a estréia em 1993. Marcou 59 gols. E ontem, ganhou um espaço a mais na história do clube.

Goleiro reativa polêmica

Rio – A participação marcante de Rogério Ceni na conquista do tricampeonato mundial do São Paulo vai reativar uma polêmica. O técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, defende publicamente que Rogério Ceni é um dos grandes da posição no Brasil. Mas sempre ressalta que goleiro é como um ?cargo de confiança?.

A opção para a vaga do número 1 no time que disputará o Mundial de 2006 na Alemanha já está definida: será Dida, do Milan. Ele goza de muito prestígio na seleção, mas tem deixado a desejar no Milan. A ponto de um dirigente do clube ter comentado, semana passada, que um dos motivos pelos quais o Milan não estava tão bem na temporada era por causa da irregularidade de Dida.

A situação de Marcos não é muito diferente. Nos últimos meses, dividiu o tempo entre o gol do Palmeiras e o tratamento de uma lesão. Ficou ausente de vários jogos do clube e por isso não esteve presente em diversas convocações de Carlos Alberto Parreira.

Júlio César esteve cotado para ser o segundo da posição na equipe de Parreira. No entanto, sua transferência para a Inter de Milão lhe custou alguns meses sem disputar uma partida oficial. Perdeu ritmo de jogo. Só mais recentemente, ocupou a vaga no time.

Enquanto seus colegas passavam por problemas, Rogério foi, sem dúvida, um dos melhores do Brasil em 2005. E pelo que mostrou ontem e ao longo do ano, parece mais do que preparado para ocupar uma vaga, de ponta na equipe brasileira da Copa de 2006.

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