Oldemar Kramer, uma lenda do plantão esportivo

Ele é provavelmente o mais antigo plantonista do rádio esportivo brasileiro. Mas, golpeado pelo fim das transmissões locais da Clube-B2, emissora à qual emprestou a voz por 46 anos, o curitibano Oldemar Kramer espera desde setembro de 2007 para voltar à atividade que o consagrou.

Com a voz e a saúde firmes aos 73 anos de idade, o coxa-branca Kramer quer estar na ativa até 1.º de novembro, data em completará nada menos que 50 anos de rádio. E desde o primeiro dia como plantonista – aquele profissional responsável por informar os resultados da rodada.

A prova desta disposição está nas pastinhas surradas onde guarda os resultados dos principais campeonatos nacionais e internacionais, atualizados a caneta. “Se precisarem de mim hoje, estou pronto”, diz o “Professor”, como ficou conhecido pelos amigos pela mania de sempre corrigir o que julga incorreto.

Kramer recebeu a reportagem do Paraná-Online no escritório da empresa de terraplenagem que mantém com os filhos Fernando e Fabiano, no bairro Água Verde, e contou histórias sobre a longa carreira, o problema da Rádio Clube, que agora transmite em rede com a Eldorado de São Paulo, e os planos para o futuro.

O começo de tudo

“Nos anos 50s, tinha um equipamento de som e apresentava eventos culturais e esportivos. Fiz um teste na Rádio Colombo, e justo naquele dia o plantonista Edmar Baroni faltou. Era uma transmissão de Ferroviário x Britânia e me colocaram na fogueira. Fui bem e me fixaram no lugar do Baroni.”

Dedicação ao plantonismo

“A maioria começa no plantão e depois migra para outras áreas. Mas fiquei na função quando vi que seria o melhor. Diversifiquei a atividade do plantonista. Estudei regras do futebol, me envolvi com arbitragem, briguei com FPF, CBF, enchi o saco de todos (risos).”

O plantão dos bons tempos

“A equipe da Clube tinha cinco ou seis pessoas, era um timaço. E ainda desenvolvi um sistema em que cada um escutava duas rádios ao mesmo tempo. Na época, só se sabia dos resultados de momento por rádio de ondas curtas ou telefone. Acabamos até aprendendo um pouco de outras línguas. Tínhamos alguns informantes no interior que ligavam a cobrar. Também chegamos a usar o rádio da polícia, que ficava meio ocioso aos domingos, para falar com outras cidades.”

O plantão atual

“Tenho pena do ouvinte, hoje. Mesmo com a facilidade da internet, nossas rádios apostaram numa gurizada fraca. O único bom é o (Carlos) Kleina, mas não o colocam no plantão.”

Histórias

“O Coritiba fazia jogo sem importância em Bandeirantes. Só uma rádio concorrente enviou repórter, mas faltavam 10 minutos pro fim e ele dizia que estava 0 a 0. Achei estranho. Descobrimos que já estava 1 a 0 para o Coxa desde o começo do 2.º tempo. Anunciamos o gol e imediatamente o repórter repetiu –  quer dizer, ele não tinha ido pra Bandeirantes. Pregamos uma peça: anunciei renda e público, chutando um número qualquer. E bucha! – o repórter repetiu o mesmo número. Virou piada por muito tempo.”

O fim da Rádio Clube

“Foi por pura incompetência da nova direção. Não eram do ramo. O último bom diretor-geral foi o Euclides Cardoso, que saiu em 95. De lá pra cá a Clube só decaiu. O Dom Pedro Fedalto (ex-arcebispo de Curitiba) ainda fez um força e não deixou a rádio ser incorporada pela Jovem Pan de São Paulo. O governo do Estado poderia ajudar e trocar a concessão, mas também foi omisso.”

O futuro

“Ainda tenho pique e vontade. Mas quero ir para uma rádio grande, e séria. A Bandeirantes e a Record de São Paulo me convidaram, mas eu e a família decidimos não sair de Curitiba. E continuo por dentro, passo horas do domingo atualizand,o todos os resultados à mão. Minha mulher diz que estou ficando maluco… (risos).”