O tri e um penta, bons consolos

Se o ano esteve longe de ser aquilo que a torcida esperava, com fracassos seguidos, pelo menos um jogador irá lembrar para sempre a passagem de 2002. O volante Kléberson foi, jogou e venceu a Copa do Mundo e gravou o nome do Atlético como o primeiro clube paranaense a ceder um jogador do Estado para a seleção brasileira na competição máxima do esporte. Uma façanha do garoto de Ibiporã, que encantou o técnico Luís Felipe Scolari e foi, aos poucos, conquistando seu espaço entre os melhores do mundo.

Desde a primeira convocação, para um amistoso diante da Bolívia, o jogador mostrou que estava chegando na seleção para ficar. Com um futebol inversamente proporcional à sua timidez, encantou a todos no grupo. Com sua humildade e simplicidade, está construindo uma carreira sólida que deverá se concretizar nas próximas convocações. Inclusive, já é especulado como um dos três nomes acima de 23 anos para ir às Olimpíadas de 2004, em Atenas.

Mesmo não tendo ido bem no campeonato brasileiro, continua sendo alvo de especulações e tem tudo para entrar em 2003 emplacando em uma equipe européia. Interesses há vários, mas propostas concretas até agora só a do Celtic. O clube escocês está oferecendo cerca de US$ 8 milhões para ter os direitos federativos do jogador, mais US$ 1,5 milhão para o próprio atleta. Este mês as conversas serão retomadas e a expectativa é de que a novela envolvendo sua transferência acabe com final feliz.

Toulon

Mas não foi só Kléberson que levou as cores rubro-negras mundo afora. O atacante Dagoberto brilhou na seleção brasileira de novos na disputa do Torneio de Toulon, na França. Atuando como armador, o atleticano se transformou num dos principais jogadores na conquista do título. Além disso, sempre esteve presente nas convocações da categoria sub-20 e irá disputar (o lateral-esquerdo Jean também está na seleção) o Sul-americano, em janeiro, no Uruguai. O jogador é também a principal aposta do Furacão para as Olimpíadas de 2004. Um trabalho já está em andamento para levar o jogador a representar o clube em Atenas.

Tricampeonato

Apesar de todos os problemas internos, a torcida atleticana teve pelo menos um título para comemorar. O inédito tricampeonato estadual veio de maneira inusitada pela forma de disputa da competição e pelos resultados das finais, mas valeu por manter a hegemonia rubro-negra no Estado. A festa acabou servindo de consolo para quem fez papelão na Libertadores e ficou apenas com um vice-campeonato na Copa Sul-Minas.

Cinco comissões e um time perdido em campo

O maior erro do Atlético em 2002 foi não ter sabido o que fazer após a conquista do título de campeão brasileiro no ano anterior. Todas as mazelas internas acabaram vindo a público e o que era para ser um ano de consagração entrou para a história do clube apenas como 365 dias a mais. Erros comuns voltaram a acontecer enquanto a vaidade de alguns dirigentes se sobressaíram em detrimento das cores rubro-negras. A falta de (ou o mau) planejamento permeou toda a temporada e ninguém soube para que direção seguia o Furacão.

Desde o início do ano, ficou claro que a disputa do título havia bagunçado a preparação atleticana para as competições a serem disputadas. O que ninguém não sabia, ou não esperava, era que o que estava começando errado terminaria errado ao final do ano. Das cinco competições disputadas, o time só foi bem quando a concorrência facilitou as coisas. No nível local (superparanaense) e regional (Copa Sul-Minas). Quando foi requisitado um pouco mais de competitividade, o time foi um desastre.

Embalado pela estrela dourada no peito, o clube foi levando o ano como deu. Não teve um presidente eleito até o começo de abril devido a problemas burocráticos e a agenda de alguns candidatos. A promessa de pagamento de R$ 1 milhão pela conquista do nacional não foi cumprida e nem havia alguém para dar uma satisfação aos jogadores. O clima de descontentamento afetou o trabalho e alguns ex-dirigentes foram chamados para dar uma força. No entanto, o rumo que o clube seguia já fazia supor tempos difíceis para o Furacão.

Finalmente, com novos conselheiros, a eleição foi marcada, mas acabou não acontecendo devido a ausência de candidatos. Ninguém quis bater chapa com Mário Celso Petraglia, que renunciou à candidatura para voltar nos “braços do povo”. Um movimento “Fica Petraglia” foi formado para pedir a volta do dirigente. Nos bastidores, a manobra foi considerada suja. Aclamado (e não eleito) como presidente, Petraglia garantiu algumas facilidades que não teria se tivesse passado por um pleito. Entre as vantagens, estão o mandato maleável de até dois anos e uma maior liberdade para tomar decisões.

Com a volta do dirigente, a parte administrativa passou por uma reformulação geral e centralizadora. O famoso comitê gestor passou a ser formado por assessores diretos do presidente e sua força se multiplicou dentro do clube, alijando outras forças de atuação. O “isolamento” acabou levando o clube a fechar o ano com um rombo de R$ 6 milhões, já que não havia ninguém para ajudar Petraglia a segurar o rojão (leia-se botar dinheiro do próprio bolso).

O orçamento apertado, aliás, foi (pelo menos alegado) o principal problema do clube durante a temporada. A falta de recursos foi usada para a liberação do técnico Geninho. Em seu lugar, várias opções foram testadas sem sucesso. Sem dinheiro, os prêmios foram atrasando e os direitos de imagem também. O meia Adriano chegou atrasado na reapresentação e não teve medo de punição. “Se eles pagarem o que me devem podem multar”, atirou.

Com esse clima, assumiu o time Riva Carli, uma solução caseira em tempos de contenção de despesas. A passagem da preparação física para o comando técnico era um sonho do profissional, que pegou um grupo em turbulência. O título do estadual o manteve no comando durante a Copa dos Campeões, mas o vexame nordestino trouxe o clube de volta à velha prática de demitir treinadores.

Os próximos eleitos para dirigir o time vieram do Rio de Janeiro e voltaram quase tão rápido que nem deixaram saudades. O primeiro deles, Valdyr Espinosa, foi “demitido” pela torcida para fora da Arena. Depois, o fraco Gílson Nunes e, por fim, o bombeiro Abel Braga. Todos eles também sucumbiram ao estado de coisas por qual passava o clube.

Do planejamento ruim (que vinha desde o início do ano) até a troca de filosofia de trabalho no futebol foram minando as chances de êxito na defesa do escudeto na camisa rubro-negra. Alguns jogadores não se falavam e a falta de fôlego ficou evidente. O risco de rebaixamento foi afastado, mas a modesta 14.ª colocação alcançada no Brasileirão deixou a torcida decepcionada e torcendo para que 2003 não seja pior do que foi o ano passado.

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