Flamengo e Fluminense decidem neste domingo, às 16 horas, a mais bagunçada e desorganizada Taça Guanabara dos 53 anos de história da competição. E, após idas e vindas, ameaças, incertezas, vão jogar com torcidas dos dois clubes nas arquibancadas do Engenhão, como reivindicavam dirigentes e a Federação de Futebol do Rio (Ferj). A expectativa, porém, é para saber se os torcedores, depois de tanta confusão, irão em bom número ao estádio.

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Mesmo porque comprar ingresso tornou-se tarefa complicada. Apenas no final da tarde de sexta-feira começou a preparação para venda dos bilhetes. Por um simples motivo: até por volta das 16h30, ou seja, com menos de 48 horas para o horário marcado para o início da decisão, não se sabia se o acesso das duas torcidas ao Engenhão seria possível.

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Só então o desembargador Gilberto Clóvis Farias de Matos, da 15.ª Câmara Cível, concedeu efeito suspensivo da liminar que determinava torcida única nos clássicos cariocas.

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Pela liminar, expedida pelo juiz Guilherme Schilling, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos em 17 de fevereiro, somente a torcida do clube mandante poderia entrar no estádio. Nesse caso, os torcedores do Fluminense, determinado mandante por sorteio – com amparo do regulamento do torneio -, apesar de o Flamengo ter a melhor campanha até aqui dentro de campo.

Mas, desde o início, os dirigentes de ambos os clubes foram contra a torcida única. Na quinta-feira, tentaram, junto com a Ferj, convencer o juiz Duarte a suspender, ao menos temporariamente, sua decisão. Não conseguiram, apesar de a Polícia Militar ter garantido que daria segurança dos torcedores no estádio e arredores.

Como o Estatuto do Torcedor obrigava o início da venda dos ingressos no máximo 72 horas antes da partida, o Flu colocou bilhetes à disposição do público, para os setores Norte e Oeste. A procura foi diminuta.

Os cartolas, porém, mantiveram a discordância da torcida única, prepararam-se para tentar suspender a liminar, mas, antes da audiência de sexta-feira no Tribunal de Justiça no Rio, tomaram uma decisão. Se a torcida única fosse mantida, o jogo seria realizado com portões fechados, ou seja, sem torcida. O Tribunal de Justiça Desportiva da Ferj, consultado, deu aval.

Mas, três horas depois o desembargador Matos concordou com a suspensão da proibição da torcida única, o que representou uma vitória dos clubes e da federação. O Botafogo, que administra o Engenhão, ainda tentou impedir o jogo no estádio e pediu ao TJD da federação a transferência para o Maracanã, o que foi negado.

Começou, então, uma correria para tentar vender ingressos. Mas os clubes não estavam preparados. Às 17h35 de sexta-feira, o site oficial do Fluminense informava que daria “mais informações em instantes” sobre a disponibilidade dos bilhetes para a decisão. No site do Flamengo, nenhuma referência. O destaque era para a venda das entradas para a estreia do time rubro-negro na Libertadores, na próxima quarta-feira, contra o San Lorenzo, no Maracanã.

Só no início da noite as vendas começaram de fato, com preços entre R$ 60 e R$ 100. Para tentar atrair o público, neste domingo as bilheterias do Engenhão ficarão abertas até o fim do primeiro tempo.

O técnico do Fluminense, Abel Braga, que passou a semana defendendo o acesso da torcida dos dois times ao clássico, falou a favor da torcida única após a definição do imbróglio. “É a maneira do povo aprender a ser educado, a respeitar o próximo”, disse. Zé Ricardo, treinador do Flamengo, criticou toda a confusão. “Acho tudo isso lamentável, muito lamentável mesmo. O que vemos na Europa são as ligas se fortalecendo. Aqui, só vamos chegar a um acordo quando estivermos todos juntos.”

DENTRO DE CAMPO – O Fluminense tem problemas para o clássico. Gustavo Scarpa melhorou bastante da contusão no tornozelo sofrida no jogo com o Madureira, mas ainda não está totalmente garantido na final.

Além disso, a delegação que foi ao Mato Grosso para o jogo com o Sinop, quarta-feira, só conseguiu voltar dois dias depois ao Rio, pois um voo cancelado obrigou o time a encarar viagem de 500 quilômetros de ônibus até Cuiabá, e ainda esperar bastante o embarque para casa. No total, a viagem durou 18 horas.

Abel não deu pistas do time, nem adiantou o substituto do volante Douglas, que está suspenso. Pierre e Marquinhos disputam a posição.

O Fluminense ainda não tomou gol na Taça Guanabara (seis jogos), mas Abel sabe que os riscos contra o Flamengo serão maiores. Diz, porém, que seu time saberá se defender. “O Flamengo tem forma de jogar muito especial, até diferente. Chega a atacar com seis. No mínimo, cinco jogadores. Normalmente, seis ou sete. Ele obriga o adversário ir para trás. Nós sabemos disso”, disse. “Temos a nossa defesa, pois temos ajuda de todo mundo. Começa a marcação pelo ataque. Vamos ver se conseguimos isso. Não ser vazado domingo é um grande passo.”

O treinador entende que a velocidade dos jogadores tricolores será um contraveneno ao estilo ofensivo dos rubro-negros.

No Flamengo, apesar da estreia na Libertadores na quarta-feira, o técnico Zé Ricardo não pretende poupar nenhum jogador. Mas não se pode descartar uma surpresa. “Essa é a ideia (time titular). Mas trabalhamos com algumas opções. A equipe do Fluminense tem característica um pouco diferente da do Vasco (o Fla venceu na semifinal por 1 a 0), principalmente no ataque”, alertou. “Temos que fazer jogo de maneira equilibrada. Não podemos oferecer condição deles nos surpreenderem. A campanha deles é quase irretocável.”