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Negociações de jogadores da base ajudam a sustentar clubes brasileiros

A base tem pago boa parte das contas do futebol nacional, e dado um alívio nas gastanças dos clubes. Revelar e vender sempre esteve no DNA dos dirigentes brasileiros. Recentemente, passou a ser uma necessidade. A janela de transferências para o mercado internacional é um dos períodos mais importantes para as diretorias negociarem jovens talentos e, assim, compensarem o excesso de débitos ao longo das temporadas. Apesar de os times diversificarem receitas, negociar atletas ainda é a principal forma de encher os cofres.

Pelo menos nestes sete primeiros meses do ano, o balanço é bastante positivo para as equipes do País. As transferências feitas de jogadores de até 21 anos rumo a times estrangeiros envolveram a cifra aproximada de R$ 810 milhões. O número é do site alemão Transfermarkt, especializado no mercado de contratações. Grande parte desse montante foi investido em garotos como Rodrygo (Santos), Vinicius Junior (Flamengo) e Fernando (Palmeiras). Ou seja, meninos recém-saídos na base.

Como ainda temos mais alguns meses de janela aberta, é possível que 2018 atinja cerca de R$ 1 bilhão injetados no futebol brasileiro – na média, contratações de jovens que tiveram pouco tempo para consolidar seus nomes no País. O atacante Róger Guedes, de 21 anos, partiu para a China quando liderava a artilharia do Brasileirão. Estava no Atlético-MG, que o comprou do Palmeiras meses antes.

Os valores das negociações são significativos principalmente pelo quanto impactam na finança dos clubes. Segundo estudos da agência de marketing esportivo Sports Value, até 20% das receitas dos times dependem da venda de jogadores.

A fatia pode ser ainda maior caso os cartolas brasileiros consigam valores melhores na hora de negociar. “O jogador é a única receita extraordinária para os clubes. Patrocínio e contratos de televisão, por exemplo, são acordos fechados e combinados para serem estendidos por anos ou períodos. Por isso, vender atleta acaba como uma salvação para as equipes”, explica o sócio-diretor da Sports Value, Amir Somoggi, que analisa há 15 anos as finanças dos clubes.

As transferências deste ano mostraram uma diferença em comparação às tradicionais saídas de atletas a cada temporada. Os europeus vieram sedentos por menores de idade. O Real Madrid investiu cerca de R$ 330 milhões em Vinicius Junior e Rodrygo, atacantes que tiveram as contratações fechadas antes de completarem 18 anos. Com Paulinho, ex-Vasco, foi parecido. O Bayer Leverkusen precisou esperar o menino atingir a maioridade, em julho, para fazer o acerto de R$ 85 milhões.

A situação é bem diferente da vivenciada no Brasil na última década. As maiores revelações da época foram vendidas com mais idade. Robinho, por exemplo, deixou o Santos e foi para o Real Madrid em 2005 aos 21 anos, mesma idade da despedida de Kaká do São Paulo rumo ao Milan, dois anos antes. Neymar também saiu aos 21, em 2013, após o time da Vila Belmiro tentar segurá-lo ao máximo.

Os clubes brasileiros se planejam contando com algumas transferências na temporada. Cuidam do assunto com afinco. Na hora de elaborarem as previsões orçamentárias, citam o valor esperado a ser arrecadado com as vendas. O Corinthians trabalha dessa maneira. No fim de 2017, o time estimou arrecadar cerca de R$ 50 milhões com a saída de atletas ao longo deste ano. O São Paulo apresentou uma meta mais ousada: R$ 90 milhões com as negociações.

“Alguns clubes não sobrevivem sem a venda de jogadores, mesmo que a televisão seja a maior fonte de suas receitas. O dinheiro das transferências ajuda a tapar os buracos nas finanças”, diz Somoggi. Mesmo se os times não quiserem negociar, acabam por ceder ao desejo dos atletas que pedem para sair.

“Não queremos vender ninguém, não estamos precisando disso, mas se o jogador quiser ir, não vamos segurar um atleta descontente. Isso acaba com o grupo. Quem quiser ir embora do clube, que bata na minha porta e fale. Aqui só vamos manter quem queira ficar”, disse o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, sobre a perda recente de atletas para o exterior.

MOLDAGEM – Para empresários e dirigentes, essa procura por jogadores brasileiros cada vez mais cedo se justifica pelo planejamento. Clubes da Europa conseguem moldar e adaptar melhor os atletas ao estilo do seu time se já contarem com eles desde cedo. A pressa em contratar um garoto se explica também pela intensa concorrência entre os rivais estrangeiros por bons reforços.

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