Na Tamburello, nada lembra a batida de Senna

Imola, San Marino – Exceto pela estátua de bronze inaugurada em 1997, uma imagem triste de Senna sentado sobre um monolito voltado para a curva Tamburello, o ponto onde o piloto brasileiro perdeu a vida há dez anos, em nada lembra a tragicidade daquele acidente e sua dimensão para a F-1.

Ao contrário do que acontecia nos primeiros aniversários de sua morte, o local deixou de ser um santuário.

A Warm Up esteve ontem na Tamburello, no ponto onde Senna bateu na sexta volta do GP de San Marino de 1994. Diante da estátua, que fica do lado de dentro da pista, no Parque del Minerale, quatro vasos de flores já murchas denunciam um certo abandono do monumento. Poucos torcedores se aventuraram até a escultura. Num período de cerca de uma hora, no final da tarde, por lá passaram não mais do que dez, mais curiosos do que “devotos”, apenas três vestindo algo que lembrasse Ayrton – o inconfundível boné do Banco Nacional.

No alambrado que separa a estátua da pista, nada. Até alguns anos atrás, torcedores de todo o mundo vinham em romaria para depositar ali cartas, coroas de flores, bilhetes, cartazes com mensagens, fotos e lembranças de todos os tipos. O mesmo acontecia alguns metros adiante, em menor proporção, é verdade, na curva Villeneuve, onde morrera Ratzenberger no dia anterior.

Do lado oposto, no muro onde Senna efetivamente bateu, só é possível chegar pelo lado de fora do autódromo, contornando a grade que acompanha a pista. A Tamburello, como se sabe, não existe mais. Virou uma chicane, e o que era traçado em 1994 foi transformado em área de escape. Uma placa publicitária da petroleira Agip domina toda a extensão do muro.

Do lado de trás, na estrutura de cimento do muro e mesmo no metal da placa publicitária, eram comuns, também até alguns anos atrás, mais flores, cartas, bilhetes e mensagens rabiscadas por fãs e admiradores. Não há mais nada. Apenas a trilha ao longo do muro, um barranco e, alguns metros mais para trás, o Rio Santermo, que separa o parque de uma área de camping onde, ontem, alguns torcedores alemães montavam suas barracas ao som de música eletrônica para acompanhar aquele que deve ser o último GP de San Marino da história.

Michael Schumacher lembra a morte de Ratzenberger

Imola

– É inevitável que o nome de Senna seja lembrado de cinco em cinco minutos em Imola, ainda mais perto do décimo aniversário de sua morte no circuito italiano. Mas ontem Michael Schumacher fez questão de recordar que além do brasileiro, outro piloto perdeu a vida naquele trágico fim de semana de 1994. “Infelizmente todos pensam apenas em Ayrton, mas devemos lembrar também de Roland Ratzenberger. Ficamos todos chocados e foi minha primeira experiência com a morte no esporte que eu amo”, disse o alemão na véspera dos primeiros treinos para o GP de San Marino, quarta etapa do Mundial de F-1.

Schumacher venceu aquela prova. No pódio, sabia que a situação de Senna era irreversível e ao contrário do que muita gente prega até hoje, não fez festa nenhuma pela vitória. Ele corria pela Benetton e conquistaria seu primeiro título naquele ano. Apesar da tragédia, o ferrarista vê um consolo no desfecho de Imola/1994. “Depois daquilo, muito se fez pela segurança de carros, pilotos e circuitos. Não justifica nada do que aconteceu, mas se dá para tirar algo positivo daqueles acidentes, que seja isso.”

O hexacampeão disse que se sente “honrado” por ter corrido com Senna, piloto que viu pela primeira vez em 1980 num mundial de kart. “Eu tinha 11 anos. Fiquei impressionado com aquele cara que não conhecia, mas era um piloto fantástico, com habilidade e talento fora do comum. Foi um privilégio correr contra ele. Tivemos algumas lutas, lutas boas, alguns momentos difíceis no nível pessoal, mas outros legais, também. Por isso sempre procuro guardar boas memórias de Ayrton.”

O GP de San Marino, que deve ser o último da história ? o circuito deve perder sua vaga no calendário para a Turquia no ano que vem ? terá seus primeiros treinos hoje a partir das 6h de Brasília. Faz sol na região norte da Itália e a previsão é de uma corrida, domingo, com tempo seco, mas temperaturas baixas, entre 11 e 17 graus. Schumacher, líder do mundial com três vitórias em três corridas, já ganhou em Imola cinco vezes.

Diário de Ímola

Rossi na cabeça

O teste de Valentino Rossi anteontem em Fiorano com uma Ferrari deixou Michael Schumacher impressionado. “Ele demorou um tempinho para se adaptar, mas depois foi muito bem”, disse o alemão. O fenômeno da MotoGP deu cerca de 50 voltas, registrando tempos na casa de 59s, menos de 3s acima do recorde da pista. Rossi usou o capacete de Schumacher, que autografou e deu de presente ao italiano, que adorou tudo.

Brasil na cabeça

Num jogo beneficente entre pilotos de F-1 e jogadores brasileiros que venceram a Copa de 94, anteontem à noite em Forli, 6 mil pessoas viram os boleiros golearem os “motoristas” por 5 a 1. “Eles humilharam a gente”, contou Trulli. “Fazem coisas que nem se eu treinar cem anos vou conseguir. Teve uma hora que achei que seria melhor parar para ficar vendo eles jogarem. A gente corria que nem louco atrás da bola.”

Primeira vítima

Hans Ulrich-Maik, um dos responsáveis pelos motores da Mercedes, perdeu o emprego nesta semana. É a primeira vítima da má fase da montadora alemã, parceira da McLaren. Kimi Raikkonen quebrou o motor nas três primeiras corridas do ano, na Austrália, na Malásia e no Bahrein. Nesta última, David Coulthard também ficou pelo caminho com o motor quebrado. A McLaren tem apenas quatro pontos no mundial.

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