Na fila há 24 anos, Itália encara Austrália e o peso do favoritismo

Kaiserslautern – O favoritismo absoluto e a pressão de não jogar fora a chance de superar adversários sem tradição nas oitavas e quartas-de-final parece estar pesando nos ombros do técnico italiano Marcello Lippi. Ontem, em sua última entrevista antes da partida de hoje contra a Austrália, em Kaiserslautern (às 12 horas de Brasília), ele se irritou com uma pergunta banal, fez um discurso furioso contra a imprensa, soltou um palavrão e se levantou para ir embora.

O que tirou o treinador do sério foi a pergunta sobre a mudança de postura do time, que começou a Copa mais ofensivo e contra a República Tcheca foi mais cauteloso, fiel ao estilo italiano. Lippi disse que não responderia e deu início a um debate que foi esquentando até se tornar um bate-boca que deixou pesado o clima na sala.

Antes disso, ele já havia dado sinais de irritação. Quando lhe disseram que os australianos consideram a Itália favorita, ele reagiu com uma alfinetada em Guus Hiddink, o holandês que dirige o rival nesta segunda-feira e eliminou a Itália na Copa de 2002. ?Isso é uma esperteza da parte deles. A Coréia usou esse discurso há quatro anos e agora querem repeti-lo.? Depois, questionado se fisicamente a Itália é inferior à Austrália, respondeu: ?Vamos jogar futebol, não correr uma maratona.?

O técnico sabe que toda a Itália espera ver o time pelo menos nas semifinais diante do caminho pouco espinhoso reservado aos seus comandados. Escapar do confronto com o Brasil e pegar a Austrália nas oitavas-de-final é uma bênção. E em seguida enfrentar Suíça ou Ucrânia nas quartas é melhor do que a encomenda. Não tirar proveito disso seria uma tragédia para um país que não vence a Copa desde 1982. ?Quanto mais pensarmos que nosso caminho é fácil, mais difícil ele será. Não existe mais Davi contra Golias no futebol?, filosofou.

Outro nervoso era o meia Totti, a estrela da equipe, bastante criticado pela forma física e as atuações pouco inspiradas. ?Tenho uma lista com os nomes de todos os que me criticaram?, disse ontem, em tom de ameaça.

No treino tático, o treinador deu mostras de que pode voltar ao modelo com o qual começou a Copa – com Toni e Gilardino na frente e Totti encostando neles. Nesse caso, Camoranesi, que foi titular em lugar de Toni contra a República Tcheca, ficaria no banco.

A única mudança confirmada é a presença de Materazzi na zaga ao lado de Cannavaro. Nesta, com uma lesão muscular na coxa direita, corre o risco de não jogar mais na Copa.

Americanos viram modelo para ?cangurus?

Kaiserslautern – O jogo que foi um pesadelo para os italianos na primeira fase é o modelo que os australianos tentarão seguir no duelo de hoje. Os jogadores deixaram claro que a tática empregada pelos Estados Unidos pode ser o caminho para uma grande surpresa no Estádio Fritz Walter. ?Os norte-americanos pressionaram a saída de bola da Itália e criaram muitos problemas para eles. Podemos fazer o mesmo?, disse o zagueiro Neill.

Já o técnico holandês Guus Hiddink, que há quatro anos eliminou a Itália nas oitavas-de-final do Mundial, comandando a Coréia do Sul, repete o discurso daquela ocasião e diz que o rival é favorito. E vai além, dizendo que a equipe dirigida por Marcello Lippi é muito melhor do que aquela. ?A Itália hoje é mais ofensiva, tem mais recursos. Vamos tentar dificultar o máximo que pudermos?, disse o treinador, que chegou às semifinais nas duas últimas Copas (em 1998, com a Holanda) Hiddink, porém, tem um problema para o jogo de hoje. O atacante Kewell sofreu uma uma lesão na coxa e é dúvida.

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