Modesto defende fim do Comitê de Gestão do Santos

Há seis meses no cargo, o presidente Modesto Roma Júnior tem se dedicado a recolocar o Santos financeiramente nos trilhos. O dirigente assumiu o clube com sete meses de salários atrasados, jogadores buscando a Justiça para romperem seus contratos e R$ 60 milhões de dívidas. Mesmo com a crise econômica, o time conquistou o título do Campeonato Paulista. Em campo, o desafio agora é manter o Santos forte para a disputa do Brasileirão. Na política, ele quer unir forças para acabar com o Comitê de Gestão, órgão criado com amplo poder por Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, ex-comandante, inclusive vetar decisões tomadas pelo presidente.

Confira a entrevista exclusiva com o presidente do Santos:

Qual é o balanço que o senhor faz dos seis primeiros meses de gestão?

Foram seis meses difíceis. Foi um período para tomar conhecimento da situação do clube. A nossa missão é enquadrar o Santos dentro das suas reais condições, aumentar receitas e cortar despesas. Temos de ter uma administração responsável, que funcione de acordo com a atual realidade do futebol brasileiro.

Como o senhor vê o fato de o Conselho Fiscal ter emitido parecer negativo para o balanço financeiro do clube de 2014 e o Conselho Deliberativo ter referendado esse relatório e não ter aprovado as contas? Qual medida o senhor pretende tomar?

A nossa função é executiva. O assunto foi encaminhado para a Comissão de Inquérito e Sindicância, que vai definir as responsabilidades. A antiga gestão tem direito a uma ampla defesa. O que for recomendado pela comissão, a nossa gestão vai cumprir. A decisão do que fazer pertence aos conselheiros.

No início do ano, o cenário não era dos melhores, com jogadores indo à Justiça para deixar o clube. Conquistar o Campeonato Paulista foi uma surpresa?

Não foi uma surpresa porque a gente tinha um planejamento para isso. No futebol, ganhar ou perder faz parte, por isso ser campeão não é surpresa. Trabalhamos sempre para ganhar. Sabemos que a realidade do Campeonato Brasileiro é mais difícil e que precisamos de um elenco mais numeroso e um grupo mais forte. Estamos trabalhando para isso sabendo das nossas limitações. É preciso ter consciência de que temos limites financeiros e que não dá para fazer um time com os melhores jogadores do mundo. Não temos recursos para isso. O desafio é ter o melhor time dentro das nossas possibilidades.

A sua prioridade é buscar reforços ou segurar os atuais jogadores do elenco?

Trabalhamos para conseguir as duas coisas, mas sem fazer loucuras. No caso do Robinho, por exemplo, fomos até o nosso limite. Não podemos avançar mais. Não adianta dizer que vamos comprar o Messi, porque não temos condições. Existem limites e temos de dividir esforços entre manter atletas e buscar reforços. É uma matemática trabalhosa.

Então a definição se o Robinho vai ficar ou sair está exclusivamente nas mãos do jogador?

Exatamente isso. Segundo a advogada do Robinho, ele tem duas propostas: a nossa e mais uma. Agora ele tem de decidir o que vai fazer. Nós queremos que ele continue.

Qual é a situação do Lucas Lima? Ele vai ficar ou sair?

O estafe do Lucas Lima nos disse que ele tinha vontade de sair. Respeitamos a vontade do atleta e, por isso, ele foi liberado para fazer exames médicos. Mas depois a informação que nos foi passada foi a de que ele gostaria de continuar. Fui conversar com o Lucas Lima e ele me disse que quer ficar. O Santos deseja que ele continue, então está resolvido e não tem mais conversa.

Dentro dessas limitações financeiras a que o senhor se referiu, qual é a realidade do Santos no Campeonato Brasileiro? O time vai brigar para não cair, por vaga na Libertadores ou título?

Vamos brigar pelo título. Se o objetivo não for esse, não tem nenhum sentido disputar o campeonato. A nossa meta é sempre o máximo. Nunca vou entrar em campo para perder. Sabemos que temos inúmeras dificuldades, mas no início do ano também me perguntaram se o Santos ia brigar para não cair no Campeonato Paulista e no final fomos campeões. Já mostramos que temos um time competitivo, assim como Corinthians, São Paulo, Sport, Ponte Preta… Precisamos de reforços, mas temos elenco para brigar em condições de igualdade com qualquer adversário.

Como o senhor pretende resolver a crise com o Comitê de Gestão. Nas últimas semanas, dois membros foram exonerados e dois pediram demissão?

Não há problemas de relacionamento com o Comitê de Gestão. Iniciamos a gestão com um grupo e agora precisamos fazer adaptações com novas pessoas. Isso é absolutamente normal. O Comitê de Gestão é um órgão político, então chega um momento que você precisa trocar os integrantes. Isso acontece também na política partidária, empresarial ou clubística. O nosso entendimento é que o comitê só tem sentido como órgão colegiado e não por causa de indivíduos.

A negociação com o Oswaldo de Oliveira para substituir o Marcelo Fernandes foi tratada de forma equivocada? Causou constrangimento o fato de o Comitê de Gestão ter vetado a contratação?

O problema não foi o Oswaldo. O que eu acho é que as questões internas do clube devem ser tratadas dentro do Santos e não pela imprensa. Isso eu não posso aceitar e concordar.

O senhor, então, defende o fim do Comitê de Gestão?

Sempre defendi isso. Mas não depende de mim, e sim do Conselho Deliberativo. No segundo semestre, o nosso foco será a mudança do estatuto para tratar desta questão do Comitê de Gestão. Há também outros erros que precisam ser corrigidos para melhorar a gestão do clube.

Em reunião de clubes na CBF, o senhor defendeu mudanças no calendário para que os times possam fazer excursões no exterior. A última experiência do Santos foi desastrosa e o time perdeu por 8 a 0 para o Barcelona. Mesmo assim, o senhor defende jogos no exterior?

O fato de ter perdido de 8 a 0 para o Barcelona foi um desastre, mas o Santos ainda tem uma imagem internacional muito forte. Cito o exemplo de uma criança que levou um tombo do balanço. Não é porque caiu uma vez que nunca mais vai brincar no balanço. Não pode ser assim. Você tem de ter maturidade para se preparar e enfrentar adversários do seu porte. O Santos sempre teve porte de primeiro nível, mas o que foi feito naquele amistoso foi um engano. O Santos recebe com frequência convites para jogar no exterior, mas não tem data para fazer isso. Nesta semana mesmo, recebemos um convite para jogar em Boston, nos Estados Unidos, e estamos avaliando se vamos ou não.

O Santos expôs a marca do Museu Pelé na camisa e recentemente homenageou o Zito. Como estão as negociações para conseguir um patrocínio master no uniforme?

As verbas publicitárias das empresas são definidas no planejamento feito em outubro do ano anterior. Querer no meio do ano mudar isso é difícil. Para este ano, estamos trabalhamos em casos pontuais e menores. A nossa ideia é conseguir um patrocínio master fixo só em 2016.

O Santos está com salários atrasados com os jogadores?

O salário deste mês era para ser pago no dia 5 e deve ser acertado nos próximos dias. Recebemos o clube com sete meses de salários atrasados, agora temos só um em aberto.

O comprometimento de receitas feito pela gestão anterior e o pagamento de comissões têm atrapalhado a sua gestão?

Recebemos R$ 60 milhões de contas para pagar e mais R$ 60 milhões de receitas já comprometidas. O orçamento previa R$ 190 milhões de receita, mas com R$ 45 milhões de venda de atleta. Qual é o jogador que vale R$ 45 milhões hoje? A parte financeira continua muito complicada.

O Santos acionou na Fifa o Barcelona, o Neymar, o seu pai e a empresa deles. Quanto o clube espera receber?

O Santos entrou com uma ação na Fifa contra o Barcelona e as outras três partes entram em adição porque você não pode as excluir. Vamos ver o que a Fifa vai dizer. Hoje não dá para falar em valores.

Como fica a relação com o ídolo depois desse processo?

Neymar é meu ídolo também. Mas se o Santos tivesse dívidas com o Neymar, ele poderia processar o clube. Seria um direito dele. O que eu não posso fazer é ser omisso com os direitos do clube.

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