Marta, a primeira jogadora ?global?

Zurique – Cobiçada por clubes de vários países e até para se tornar embaixadora da ONU, Marta e seus assessores montam um plano para transformar a jogadora na nova imagem globalizada do futebol feminino nos diversos mercados.

Na segunda-feira, Marta ganhou o prêmio de melhor jogadora do mundo com apenas 20 anos. Sua situação internacional se contrasta com a realidade brasileira, onde nem mesmo um campeonato nacional consegue ser organizado.

?O Brasil é o país do futebol masculino. Não o país do futebol feminino?, atacou a número 1, que é obrigada a viver literalmente em dois mundos bem diferentes quando se trata de sua profissão.

Marta joga desde os 17 anos no Umea da Suécia, país onde o campeonato nacional é considerado como o mais competitivo do mundo. Lá, vive a vida de uma verdadeira estrela, ainda que dificilmente fosse reconhecida se caminhasse pelas principais ruas das cidades brasileiras. Sua fama chamou a atenção dos agentes de Ronaldo que, há poucos meses, assinaram um contrato com a jogadora. ?Estamos montando um plano para desenvolver a imagem da jogadora?, afirmou Fabiano Farah, seu assessor, que admite a negociação com empresas para que utilizem a imagem de Marta.

Apenas nas últimas semanas, a meia-atacante recebeu quatro propostas diferentes para mudar de clube, inclusive para os Estados Unidos e Alemanha. Na Suécia, um clube ofereceu dobrar seu salário para R$ 600 mil por ano para a próxima temporada.

A jogadora ainda conta com um contrato com a Puma e o objetivo de sua assessoria agora é a de estender esse contrato para a difusão da imagem de Marta em vários mercados, principalmente nos Estados Unidos, país onde o futebol feminino chega a superar o masculino em número de atletas.

?Eles sabem que a Marta é uma grande plataforma de promoção?, afirmou Farah. ?A Marta é uma grande representante para empresas que queiram atuar em mercados para o futebol feminino?, afirmou o assessor, lembrando que ela tem pelo menos mais dez anos de carreira pela frente e que contatos com outras empresas vão começar a ser feitos.

Marta, assim, substituiria a americana Mia Hamm como a principal estrela do futebol feminino. E, da mesma forma que os assessores fizeram de Ronaldo um produto global, a mesma estratégia está sendo pensada para a jogadora.

Para Marta, que saiu de Dois Riachos e que começou jogando debaixo de pontes ou em córregos secos, a transformação ocorreu de forma rápida. ?Esse é mesmo o momento de iniciar essa nova fase?, afirmou. ?Mas sou a mesma pessoa de sempre?, garantiu. Humilde, Marta afirma que fica feliz cada vez que vê, na Suécia, meninas vestidas com a camisa de seu time e seu nome nas costas.

Outro passo que Marta deve seguir de Ronaldo é o de embaixadora da ONU. Os representantes da jogadora estão em negociações com as autoridades das Nações Unidas para encontrar uma função para Marta, seja no combate à pobreza, ou na defesa dos direitos das crianças e das mulheres.

Outro mundo

Se os projetos para Marta no mundo avançam bem, a jogadora admite que não teria o que fazer hoje no Brasil. ?Não tenho planos para voltar para o Brasil agora. O que é que eu vou fazer lá se não nem um campeonato?, afirmou. ?O futuro do futebol feminino a Deus pertence. O Brasil ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas de 2004 e, mesmo assim, nada mudou no País?, criticou a jogadora.

?Espero que o troféu que ganhei como melhor do mundo ajude a conscientizar as pessoas. Se nada for mudado no Brasil, as jogadoras continuarão a não ter nem como mostrar o que sabem. Enquanto não houver clubes e um campeonato, a única solução para uma jogadora será sair do Brasil?, disse. Uma das idéias seria a de pedir que o governo destinasse parte da renda da Timemania para o futebol feminino. Outra proposta é ainda a da criação de um incentivo para empresas que queiram investir no esporte.

Ricardo Teixeira, presidente da CBF, se isenta de qualquer culpa ou responsabilidade. ?O Brasil não tem qualquer estrutura para o futebol feminino?, afirmou. Para ele, a culpa é dos clubes. ?Os times é que precisariam bancar o futebol feminino. Mas isso fica difícil quando pensamos que alguns dos principais clubes do País não contam com dinheiro nem sequer para pagar os salários de seus times principais e que jogam na primeira divisão do Campeonato Brasileiro?, afirmou.

Brasil cai para sexto lugar no ranking da Fifa

Genebra  – Se Marta chegou ao topo e conquistou o título de melhor jogadora de futebol do mundo em 2006, a seleção brasileira não apresenta o mesmo rendimento no ranking da Fifa. Na lista, o Brasil caiu duas posições na classificação, terminando o ano apenas na sexta posição. O ranking de seleções femininas da Fifa é liderado pela Alemanha, que, em 2006, sofreu apenas uma derrota nos 13 jogos disputados. As alemãs são seguidas pelos Estados Unidos e Noruega. A Suécia, país onde Marta joga por uma equipe local, vem na quarta colocação e é considerada com a liga nacional mais competitiva do mundo. Na quinta posição está a Coréia do Sul, superando o Brasil.

A seleção brasileira é mantida pela CBF, mas que já alerta que não terá como continuar com essa situação sem que os clubes ofereçam condições para que o futebol feminino possa se desenvolver. O que a CBF teme é que, quando a atual geração envelhecer, a renovação será difícil e o time poderá cair de produção.

Hoje, o Brasil soma 2.016 pontos, contra 2.229 das alemãs. Entre setembro e dezembro deste ano, o Brasil ainda foi a seleção que mais perdeu pontos, com uma queda de 37 pontos. Afinal, perdeu o título sul-americano para a Argentina, em novembro, na cidade argentina de Mar del Plata – foi a primeira derrota brasileira na história do campeonato, que teve sua quarta edição.

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