Maioria absoluta dos atuais técnicos é de ex-defensores

Dentro de campo, os jogadores de defesa têm uma visão mais ampla da formação tática da equipe e da movimentação geral da partida. Talvez por isso, a maioria dos capitães das equipes joguem do meio para trás – há algumas exceções, certamente, principalmente se há um jogador de frente mais experiente. A verdade é que essa tendência acaba se transportando para o comando técnico. Não por acaso, nada menos que 83,3% dos técnicos em atividade na primeira divisão do futebol brasileiro, foram jogadores de defesa. Destes, 37,5% eram zagueiros, verdadeiros “xerifões”, que tinham liderança forte sobre suas equipes.

O técnico Abel Braga, do Flamengo, é um desses exemplos e traz na ponta da língua a explicação para a tendência. “Tudo tem relação com a liderança. Na maioria das vezes, jogadores de defesa são capitães e quando não, mesmo assim têm espírito de liderança”, diz o treinador, que já comandou os três times da capital paranaense. A questão da visão ampla de jogo também é destacada por Abelão. “Ficando atrás, temos uma visão total da distribuição dos jogadores no gramado. Se tiver inteligência, o jogador de defesa tem boas chances de se tornar treinador, mesmo que não seja planejado, como aconteceu comigo”.

Exceção

Na contabilidade, apenas três técnicos brasileiros da primeira divisão jogavam do meio para frente: Cuca, do São Paulo, Muricy Ramalho, do São Caetano, e Antônio Lopes, que foi um discreto atacante do Olaria.

O técnico coxa-branca vai contra a teoria e diz que tudo não passa de uma coincidência, apesar dos números. E vai ao passado para defender “a classe”. “Alguns dos maiores técnicos do futebol brasileiro jogavam na frente, como Telê, Evaristo de Macedo e Zagallo. Acredito que o comando tenha mais a ver com inteligência do que posição”, conclui.

Goleiro tem facilidade de iniciar “estágio” jogando

Para Geninho, a questão da ampla visão de jogo é importante, especialmente para atletas que, como ele, jogavam no gol. “Todo goleiro é um pouco de treinador dentro de campo. Tem que ajudar a orientar a defesa e acaba dando uma mão ao técnico”, diz. Daí a importância do goleiro falar bastante durante o jogo. “Eles, quando não são capitães, geralmente exercem liderança. Foi assim comigo na época do Santos. Fui capitão poucas vezes, mas tinha um respeito muito grande do grupo. A característica da liderança é fundamental, já que o cargo de treinador nada mais é do que de grande comandante.”

O novato Zetti, que estréia na primeira divisão sob o comando do Guarani, aponta outra característica do jogador de defesa que conta pontos na hora em que ele troca o gramado pelo banco de reservas: a frieza. “É claro que há exceções, mas jogadores de defesa, especialmente goleiros, tendem a ser mais controlados. Do meio para frente, os jogadores são mais emocionais que racionais”, acredita. Capitão do time do São Paulo por muitos anos, o goleiro também acredita que essa função de liderança tem o ajudado. “Se um jogador é ouvido pelos companheiros, tem boas chances de ser técnico. Caso contrário, dificilmente terá o respeito de seu grupo”. Ao contrário do se possa pensar, Zetti discorda que os ex-jogadores de defesa prefiram jogar na retranca. “Isso é lenda. Eu prezo um time equilibrado e creio que o entrosamento seja o grande diferencial defensivo”.

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