Mãe de Arouca diz que racismo no futebol não vai acabar

A mãe do jogador Arouca, dona Iolane Aparecida Arouca, teve um pressentimento ruim quando o volante Tinga, do Cruzeiro, sofreu ofensas racistas no Peru, quase um mês atrás. “Na hora, pensei que ia acontecer com meu filho. Tive um estalo e cheguei a comentar isso com ele. Foi um pressentimento de mãe. E acabou acontecendo. Infelizmente. Eu e ele achamos que o racismo não vai acabar”, disse.

No final da goleada do Santos sobre o Mogi Mirim por 5 a 2, em Mogi Mirim (SP), na última quinta-feira, quando concedia entrevistas no gramado, o volante do Santos foi chamado de “macaco” por alguns torcedores do time da casa. Também disseram que ele deveria procurar uma seleção da África e não jogar na seleção brasileira.

Na hora, Arouca disse que não precisava responder às provocações, mas na madrugada desta sexta divulgou uma nota oficial de repúdio e ainda participou de um vídeo divulgado pela emissora de tevê do Santos em que reafirma o orgulho de ser negro. Antes de gravá-lo, pediu conselhos à mãe sobre a mensagem que deveria transmitir. Ouviu da matriarca que não deveria criticar as pessoas, nem mostrar raiva.

“Antes de ser atleta, sou ser humano, pai, marido, cidadão, carioca de origem e santista de coração. Tenho a pele negra, cabelo afro e visto o manto branco que vestiu o Rei Pelé. Carrego orgulho no peito e sou grato a Deus por tudo isso”, disse Arouca, no vídeo.

PUNIÇÃO – Embora o episódio tenha tido enorme repercussão – o Santos encaminhou pedido de abertura de inquérito à Federação Paulista de Futebol (FPF) e o estádio do Mogi Mirim foi interditado -, a mãe de Arouca garante que o filho não vai se abater com o episódio. Ela conta que o jogador não chorou depois das ofensas.

“Ele falou que precisamos estar preparados para isso por que o racismo não vai acabar tão cedo no Brasil. Ele não deu ouvido para isso. Não vai botar na cabeça”, disse a mãe do jogador, dona de casa que mora na cidade de Duas Barras, no Rio de Janeiro, terra natal do volante.

Apesar de acreditar que o caso não terá reflexos na continuidade da carreira, a mãe cobra punições não só para os torcedores que ofenderam o jogador, mas também para o clube. “Tem de haver punição para quem falou isso, mas também para o clube. A diretoria também é responsável por aquilo que acontece no seu estádio. Eles não podem tolerar esse tipo de comportamento”.

PRIMEIRA VEZ – Esse foi o primeiro caso de racismo da vida de Arouca, incluindo a fase difícil no interior do Rio de Janeiro e a vitoriosa carreira de profissional. Longe de casa desde os 11 anos, correndo atrás da carreira de jogador, o menino deve ter escondido as situações difíceis. “A gente sabe que sempre acontece discriminação, principalmente entre as crianças, mas acho que ele quis me poupar e nunca contou nada”. Sua esposa e sua filha são negras.

No Santos, o período mais vitorioso, foi tricampeão paulista e levantou a taça da Copa Libertadores em 2011. “Em todos esses clubes, o Arouca foi respeitado, nunca implicaram com a cor da pele. Será que os torcedores do Mogi Mirim querem que apenas que os brancos joguem futebol? Também pode ser raiva. Eles levaram cinco gols e o Arouca fez um golaço”, avaliou dona Iolane. “Não tem problema. Ele vai superar tudo isso e responder com outros gols”.

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