Lúcio Flávio com um pé no Coritiba

A diretoria do Coritiba tenta negar, mas Lúcio Flávio, ídolo da torcida do Paraná Clube, está cada vez mais perto do Alto da Glória. Ontem, fontes ligadas aos dois clubes confirmaram à Tribuna que o meio-campista, que defendeu o São Paulo no primeiro semestre, já acertou todos os detalhes de seu contrato com o Cori. Resta apenas o aval do Tricolor, que é dono do passe do jogador, para que o negócio seja fechado hoje de manhã.

As negociações começaram justamente entre as diretorias de Coritiba e Paraná. As conversas teriam acontecido na semana passada, reunindo o presidente coxa, Giovani Gionédis, e o assessor da presidência tricolor, Aramis Tissot. Perguntado sobre o assunto, Tissot negou a reunião, mas disse que o assunto Lúcio Flávio deverá ser resolvido até o final da semana. “Não está descartada a sua permanência no clube”, afirmou.

Mas essa situação é remota. Além das divergências salariais, o retorno de Lúcio após seis meses no futebol paulista seria um “retrocesso” em sua carreira. O procurador do atleta, Ney Santos, disse que uma das prioridades é encontrar um clube onde o jogador possa ter uma seqüência de jogos e voltar a ser ídolo, como foi na Vila Capanema. No Coritiba, onde seria comandado por Paulo Bonamigo, isso seria certo. Além disso, conta o interesse de Lúcio, que preferiria ficar em Curitiba.

Enquanto isso, a diretoria coxa continua sem falar nada. O secretário Domingos Moro, incumbido pelo Conselho Administrativo a cuidar do futebol, disse que só fala sobre negociações consumadas. Apesar disso, fala-se até no salário pedido pelo jogador, que inicialmente passaria do patamar planejado pelo Cori, mas que já teria sido acertado.

Geninho na parada

A negativa dada à diretoria do Botafogo, que garante ter atendido a todos os pedidos feitos pelo procurador do jogador, é mais uma pista de que o caminho pode estar livre para o Alviverde. Segundo o diretor de futebol do Fogão, Orlando Ribeiro, a diretoria paranista não concordou com a negociação. “Não sei os motivos exatos. A única justificativa que recebi foi a de que Lúcio havia assinado com outro clube”, lamentou.

Outro interessado é o Atlético Mineiro, ora comandado pelo técnico Geninho, admirador confesso do futebol de Lúcio. O Galo, inclusive, foi a primeira equipe a tentar levar o jogador quando ele retornou de São Paulo. Nos bastidores do futebol mineiro, o nome do meia circula há algum tempo e o fracasso do alvinegro na Copa dos Campeões pode forçar o presidente Alexandre Kalil a oferecer um lance alto para ter Lucio.

Coritiba aposta na manutenção do 3-5-2

Ele chegou por acaso, em uma noite de quarta-feira. Aos trancos e barrancos, acabou se firmando no Coritiba e agora é um dos principais pontos de apoio do técnico Paulo Bonamigo. Não está se falando de nenhum jogador ou dirigente, mas sim de um esquema tático que já é comum no Alto da Glória, antes mesmo de sua utilização na seleção brasileira. Em alta depois do pentacampeonato, o sistema 3-5-2 hoje é normal no Coritiba.

A gênese do esquema tático não é particularmente conhecida – sua árvore genealógica tem vários ramos, e não se pode apontar um único pai da ?criança?. Alguns dizem que a origem do sistema está no futebol total da seleção holandesa de 74, outros apontam a Itália de 82 como um exemplo clássico. Mas o fenômeno mundial aconteceu mesmo na Copa de 86, quando a Dinamarca usou o esquema e assombrou o mundo.

Na prática, não havia muitas novidades – a função do líbero, com outras atribuições, já era normal na Itália (Scirea era um grande exemplo), e Beckenbauer e o holandês Krol também jogavam de forma semelahnte. Mas o fator revolucionário daquela seleção era a utilização de meio-campistas pelas laterais, aumentando a ofensividade e equilibrando a equipe. O sistema foi aperfeiçoado em grandes equipes, como o Milan do final dos anos 80.

Depois da tentativa frustrada de Sebastião Lazaroni na Copa de 90, o 3-5-2 ficara esquecido no Brasil, mas o Mogi-Mirim, treinado à época por Oswaldo Alvarez, começou a usar o esquema e revelou uma série de jogadores, entre eles Rivaldo. Aos poucos os times foram se adaptando, apesar da falta de treinamento. E foi assim que o Coritiba começou a jogar, numa tacada arriscada de Ivo Wortmann. Deu certo e há mais de um ano o sistema alviverde tem três zagueiros -tirando algumas recaídas táticas de Ricardo Gomes e Joel Santana.

Paulo Bonamigo gosta do sistema, e o recuperou quando assumiu o Cori. “É uma formação já conhecida dos atletas, e que acaba sendo assimilada mais facilmente”, explica. “A base às vezes acaba mudando, mas você precisa ter um sistema de jogo definido, e isso o Coritiba tem”, completa. Os jogadores também aprovam. “Os nossos melhores momentos no ano passado foram jogando assim, e é bom que isso continue”, diz o zagueiro Picolli.

O treinador coxa também quer aproveitar um dos achados de Ivo Wortmann, que usava Juliano e Fabinho nas alas. “Era um esquema de força pelo lado que confundia os adversários”, relembra. Ele já colocou Sérgio Manoel na função, chamada por ele de ?médio-ala?. “Assim a equipe fica forte no meio-campo sem perder apoio pelas laterais”, resume.

Variando

Apesar do esquema já ser característico do Coritiba, Bonamigo não quer uma equipe previsível. “Não podemos ficar jogando apenas de uma forma, porque isso fez o Coritiba perder várias partidas no ano passado”, diz o treinador. Ele quer usar algumas variações durante o Brasileiro e até mesmo durante as partidas. “Temos jogadores que conseguem cumprir outras funções, e assim poderemos modificar a forma do time jogar rapidamente”, finaliza.

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