Londrina faz 50 anos em meio à crise

Um gigante adormecido. Nada resume melhor a situação do Londrina Esporte Clube que esta frase tão surrada, mas que se aplica perfeitamente ao Tubarão, que hoje completa 50 anos de história. O mais tradicional time de futebol do interior do Paraná faz festa sem ter ao menos uma razão para comemorar nos últimos anos. O objetivo atual é remontar a estrutura básica do clube para, daqui a cinco anos, começar a ?colheita?.

A última nota triste envolvendo o Londrina explodiu na noite de segunda, dois dias antes do cinqüentenário. A Justiça, por causa das dívidas com o INSS, mandou para leilão a sede campestre do clube – que só não saiu das mãos do LEC porque ninguém se interessou em comprá-la. Foi marcado novo leilão para o dia 17, e enquanto isso os advogados vão tentar recuperar o terreno.

A alegação do Londrina é que o espaço foi doado em 1960 pelo então governador Moysés Lupion para o clube – em nome de Carlos Alberto Franchello, à época presidente e o maior dirigente da história do Tubarão, uma espécie de Evangelino da Costa Neves do LEC. Mas há um ponto que pode prejudicar: a Justiça já leiloou parte do terreno, que também não teve interessados e acabou parando na mão do ex-jogador Jackson Gonçalves, que tinha dívidas trabalhistas a receber.

Este é mais um fato que complica a atual direção, que está no meio de um fogo cruzado. Semana passada, o presidente Peter Silva chegou a falar até em entregar o cargo. ?Não é fácil remar para frente enquanto muita gente rema para trás?, atirou o dirigente.

Ele reclama de políticos, ex-dirigentes, empresários e até da imprensa.

Peter assumiu o Londrina em momento complicadíssimo -rebaixado para a Série C, sem patrocínio e sem time.

A expectativa dele para este 2006 era modesta. No máximo, uma classificação para a 3.ª Divisão através do Paranaense. Quem sabe uma vaga para a Copa do Brasil. Mas a 7.ª colocação no Estadual foi um golpe duro para o Tubarão, que ficou sem calendário para o resto do ano. Só entrará em campo porque inscreveu uma equipe B na Divisão de Acesso, a 2.ª Divisão do futebol paranaense. Ficou complicado, então, o plano de revitalização do clube, que venceu três campeonatos paranaenses (1962, 81 e 92), a Taça de Prata em 1980 e chegou às semifinais do Brasileiro de 77.

Mesmo assim, a diretoria do Tubarão não muda os planos.

A primeira idéia é reformular e reforçar as categorias de base, adotando parcerias para garimpar jogadores – e voltar a revelar craques, como acontecia nos anos 70s e 80s. Naquele período, apareceram no clube Marinho, Paulinho e Éverton, que depois se destacaram no eixo Rio-São Paulo. Mais tarde, Élber, que fez fama na Europa e hoje está no Cruzeiro.

Para atrair os jovens, o Londrina quer explorar a força da região norte do Paraná e a marca do Tubarão. O clube encomendou uma pesquisa de retorno de mídia, que mostrou que apenas em janeiro o clube apareceu em 534 reportagens de TV e 173 matérias em jornais, gerando exatos R$ 685.158,76 de retorno. ?O Londrina não está morto?, disse Peter Silva ao apresentar os dados. Neste momento, manter o clube vivo é o maior presente que ele pode receber neste 50.º aniversário.

No início, nome pomposo: Londrina Futebol e Regatas

A história do Londrina começa em 5 de abril de 1956, quando quatro entusiastas do futebol (Pietro Caloni, José Luciano Andrade, Wallid Kauss e Doan Álvares Gomes) resolvem criar o primeiro time da Capital Mundial do Café – o Londrina Futebol e Regatas. Dezenove dias depois, o primeiro jogo: 1 a 1 com o Coríntians de Presidente Prudente, com o primeiro gol do Tubarão sendo marcado por Alaor – mais tarde, um jogador com o mesmo nome seria artilheiro no clube.

O primeiro grande time foi montado em 1962, já sob o comando do presidente Carlos Alberto Franchello. Dois anos antes, o Tubarão perdera a final do Paranaense para o Coritiba, mas daquela vez seria diferente. Em um triangular com Coxa e Cambaraense, o Londrina não tomou conhecimento dos adversários e levou o título.

A equipe-base tinha Zuza; Juvenal, Gabiroba e Lelo; Luiz Santos e Berto; Chinesinho, Paulo Vecchio, Gauchinho, Paulinho e Adamastor.

Em 1969, uma fusão com o São Paulo cria, enfim, o Londrina Esporte Clube, que aparece no cenário nacional em 1977. Com uma equipe que vive na memória dos torcedores, e com o Estádio do Café recém-inaugurado, o Tubarão foi eliminando grandes times, como o Vasco (derrotado em pleno São Januário), e chegou às semifinais do Brasileiro, sendo eliminado pelo Atlético-MG.

O título nacional tão esperado veio em 1980, com Jair Bala como treinador e uma equipe experiente, mas com revelações como Paulinho e Éverton. Uma campanha perfeita levou o LEC ao título da primeira edição da Taça de Prata, equivalente à 2.ª Divisão do Brasileiro.

No ano seguinte, um título com gosto especial.

O Paranaense foi conquistado em cima do maior rival, o Grêmio Maringá, em uma decisão que parou o norte do Estado. Dois jogos e duas vitórias do time de Neneca, Zé Luís, Carlos Henrique, Nivaldo e principalmente de Carlos Alberto Garcia, principal jogador da história do clube e que chegou até a ser presidente do Londrina.

Glórias do passado, folclore e a dura realidade

O último grande título do Londrina aconteceu no Campeonato Paranaense de 1992. Após eliminar os grandes da capital pelo caminho, o Tubarão venceu o União Bandeirante em três partidas. O principal destaque daquele time era o zagueiro Márcio Alcântara, que, depois de ser revelado pelo clube nos anos 80s, foi ser titular de Sport e Palmeiras. E voltou para conquistar o estadual.

De lá para cá, apenas sucessos passageiros. Por dois anos, o Londrina esteve muito perto de voltar à 1.ª Divisão do Brasileiro. Em outras temporadas, ficou perto do título estadual, e vez por outra participa rapidamente da Copa do Brasil.

Mas os últimos 14 anos do Londrina não condizem com a tradição do maior time do interior do Estado. O clube chegou a ser motivo de chacota quando o folclórico dirigente Marcelo Caldarelli começou a dar bicho ?em espécie? (bois, por exemplo) aos jogadores e contratar Nuno Leal Maia para treinador e Romeu Evaristo – o Saci-Pererê da primeira versão do ?Sítio do Picapau Amarelo? -para auxiliar.

Além disso, o clube vive com problemas financeiros, oriundos de más administrações. O leilão da sede campestre é um exemplo da crise de gestão do Londrina – são os frutos de anos sem pagar o INSS. A torcida do futebol paranaense é que, agora cinqüentão, o Tubarão volte a ser o time temido de seus anos de glória.

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