Linha dura no Corinthians

São Paulo – O delegado aposentado Antônio Lopes mostrou logo no seu primeiro dia como treinador do Corinthians o motivo pelo qual foi contratado. ?Comigo eu dou um beijinho para quem merecer. E um tapa para quem não merecer.? As diretorias da MSI e do Corinthians estavam cansados da amizade exagerada de Márcio Bittencourt com o grupo, considerado pelos dirigentes excelente em termos técnicos, mas mimado.

Lopes foi enfático: ?Aqui, vai ter vida boa quem for responsável e se comportar como jogador do Corinthians, dentro e fora do campo. Não me importo em me tornar inimigo de quem não respeitar as normas e o grupo. Falei isso para os jogadores no nosso primeiro contato. As coisa estão claras?.

Esse comportamento rígido foi o que mais empolgou Kia Joorabchian e Alberto Dualib para contratar o técnico de 64 anos. Ele foi a segunda opção. O treinador Nelsinho Batista, procurado em primeiro lugar, pedira R$ 300 mil livres e mais R$ 80 mil R$ 40 mil para cada um dos dois auxiliares com quem desejava formar a Comissão Técnica.

Lopes aceitou receber R$ 100 mil livres, R$ 10 mil a mais que recebia no Atlético Paranaense. Seu contrato vai até o final de dezembro de 2006. A multa contratual prevê o pagamento do que o técnico deveria receber até o final do compromisso. E bônus por conquista de campeonatos.

Lopes teve três passagens frustrantes no futebol paulista: duas vezes na Portuguesa (em 1990 e 1993) e no Santos (também em 1993). Mesmo assim, o treinador não mostrou modéstia ao analisar o seu trabalho.

?Estou chegando, sim, para ser campeão brasileiro e brigar pela Copa Libertadores da América. Eu já ganhei tudo quanto é título: campeão carioca, gaúcho, brasileiro, da Libertadores da América. Fui pentacampeão do mundo no Japão (como coordenador, mesmo assim, mereceu o apelido de ?arroz? entre os jornalistas: por só acompanhar Luiz Felipe Scolari que tomava todas as decisões na Copa). Sei avaliar um grupo e o potencial técnico do Corinthians é excelente. Isso me fez aceitar esse desafio de trabalhar aqui. Foi sempre um sonho que eu tive: ser o treinador corintiano.?

O técnico foi direto em relação à Copa Sul-Americana. Disse que vai colocar o time titular contra o River Plate, amanhã em Buenos Aires. Não valoriza, porém, a competição, e deve passar a imitar Márcio Bittencourt e poupar seus jogadores. ?A Sul-Americana atrapalha. Os nossos atletas se desgastam. O grupo precisa ser preservado para o Campeonato Brasileiro, esse, sim, que é o nosso objetivo.?

Da antiga geração de treinadores, Lopes assume ser supersticioso. Mas, esperto. ?Comecei a usar a minha camisa verde de linho em 1997. Ela me deu sorte, porque fui campeão brasileiro. Mas sei respeitar rivalidades. Por causa do Coritiba que tem verde no uniforme, usava vermelho no Atlético Paranaense. Aqui vou usar camisas brancas ou pretas. Não vou usar verde, não (por causa do Palmeiras).?

Lopes aceitou a exigência de Kia. Veio trabalhar sozinho sem auxiliares de confiança. ?Vou usar os do Corinthians. Está tudo bem.?

Broncas da MSI com a lei não assustam

São Paulo – Defensor da ?legalidade?, Antônio Lopes ficou assustado durante a coletiva, ao saber que o Ministério Público continua investigando a origem do dinheiro da MSI. Perguntado se temia ter sua imagem ligada a eventuais problemas legais do fundo de investimento, o delegado foi claro: ?Eu não tenho nada a ver com isso. Meu negócio é no campo. Não tenho nada a ver com a empresa. Sou técnico de futebol?, como que se resguardando.

O novo técnico corintiano afirmou que Tevez está certo ao defender a permanência do demitido Márcio. ?O Tevez e o restante do grupo estavam muito apegados ao Márcio. Ele foi meu jogador em 1992 quando ganhamos a Copa do Brasil pelo Internacional. O Márcio é uma figura dócil e fácil de se apegar. Eu entendo perfeitamente o comportamento do Tevez.?

Lopes fez questão de afirmar que irá dirigir um time normal. ?Não existe essa história de galáctico no Corinthians. Pelo contrário. O elenco é forte, tem perfil vencedor, mas não é galáctico.?

Lopes tem a preocupação de se modernizar. Mantém seu cabelo pintado de caju. E agora distribui cartões com uma foto com a jaqueta da CBF, mostrando a mão direita aberta, em alusão ao pentacampeonato mundial. No cartão está o endereço do seu site pessoal: www.antoniolopes.com.br.

Convidado para ficar, Márcio pede um tempo

São Paulo – Márcio não aceitou ?por enquanto? o convite para ser novamente auxiliar técnico do Corinthians. De maneira inteligente, ele pediu ?dez dias? para pensar e esperar o convite de algum clube. Se não for procurado, volta como auxilar só que recebendo menos que os R$ 27 mil que ganhava como técnico. ?Nunca vi auxiliar virar técnico e depois querer retornar a auxiliar?, disse Lopes.

Foi emocionante a sua despedida como técnico dos jogadores. Depois de fumar para se acalmar ele fumava após todas as partidas longe da imprensa abraçou seus atletas. Apesar de saber ter perdido o cargo no sábado, às 14h, não agüentou. Vários jogadores disseram ter visto lágrimas furtivas.

Depois, recomposto, conversou bastante com Kia e o vice-presidente Andres Sanchez. Agradeceu pela ?oportunidade?. Os dois dirigentes ficaram bem impressionados com a atitude e conversaram sobre o convite para que voltasse a ser auxiliar.

O rendimento de Márcio foi muito melhor do que Lopes no Brasileiro.

Nas 25 partidas à frente do Corinthians, conseguiu 15 vitórias, quatro empates e seis derrotas, aproveitamento de 65,3%. O de Lopes: 23 partidas, nove vitórias, seis empates e oito derrotas, acumulou 47,3% de aproveitamento.

Os jogadores queriam que ele permanecesse, mas não estranharam a demissão de Márcio. ?A pressão estava muito grande. Não tinha como ele se segurar?, disse Carlos Alberto.

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