Joel Santana, campeão com muito jogo de cintura

Rio – Simplório, boêmio, retranqueiro, Joel Santana tem vários rótulos e um conteúdo raro no futebol. Campeão regional, nacional e continental, ele conquistou títulos pelos quatro grandes do Rio. O técnico do Vasco nem gosta de cerveja, como muita gente pensa. Prefere acompanhar seu sanduíche de carne assada com um copo de café com leite.

Ultimamente, a vida anda menos saborosa. Ameaçado de demissão, Joel está engasgado com os ossos do ofício:

? Encheu o copo. Não agüento mais ser motivo de chacota. Tenho uma família, uma história no futebol e peço mais respeito. Fui criado na Leopoldina, morava na Rua Bariri, tive uma vida de sacrifícios e não vou mudar.

Na era das celebridades e das aparências, Joel parece fora de moda. E desfila suas mágoas por ser julgado mais pela forma do que pelo trabalho:

? Estudei em colégio público, esforcei-me para me formar em Educação Física em universidade federal. Passei quatro anos como técnico de juniores, fui crescendo na carreira, mas não posso ser campeão todo ano.

Seus últimos títulos foram o brasileiro e a Copa Mercosul de 2000 pelo Vasco. Joel assumiu o cargo no lugar de Oswaldo de Oliveira já na fase final das competições:

? Diziam que eu só ganhava no Rio, aí tiveram que engolir.

O treinador foi bicampeão estadual pelo Vasco em 92 e 93 e tricampeão por times diferentes: Fluminense (95), Flamengo (96) e Botafogo (97). Conquistou quatro campeonatos baianos, dois pelo Bahia e dois pelo Vitória.

? Se fosse em outro estado, meu reconhecimento seria outro. Fora do Rio, a gente vê treinador ganhar uma Copa do Brasil e virar mito.

Joel também faz parte da mitologia do futebol do Rio. Muitas vezes em tom jocoso.

? Implicam até com a minha carne assada. Num jogo o torcedor me xingou e mandou eu ir tomar café com leite e sanduíche naquele lugar.

Na verdade são dois lugares. Morador de Ipanema, suburbano de origem, tem bases nos dois lados do Rebouças.

? Adoro o sanduíche de uma padaria lá no Leblon, mas tem outro muito bom perto da Igreja de São Januário.

No futebol, carne assada é o adversário fácil de ser engolido e não faz parte do cardápio do Vasco na temporada. Em 10 jogos, foram quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, com 19 gols marcados e 15 sofridos.

? Temos uma das piores defesas e me chamam de retranqueiro ? brincou ele.

Nascido no dia de Natal, há 50 anos, Joel tenta ressuscitar para o cargo quinta-feira contra o Moto Clube, em São Luís, pela Copa do Brasil.

? Estão querendo apagar sua luz, mas não vão conseguir. Você é iluminado ? disse um conselheiro após o treino.

No Vasco, as mudanças são lentas como o preparo de uma boa carne assada. Mas Joel sabe como poucos que as aparências enganam.

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