Intolerância religiosa ameaça o esporte

Olímpíada de Munique, 1972. Onze atletas da equipe israelense são assassinados pelo grupo terrorista palestino denominado ?Setembro Negro?. Mauritânia, dezembro de 2007. A morte de quatro turistas franceses na mão de fundamentalistas islâmicos e as constantes ameaças de grupos ligados à Al-Qaeda fizeram o Ministro de Assuntos Exteriores da França, Bernard Kouchner, pedir a proibição da passagem do Rally Dakar 2008 nesse país.

O medo não só na Mauritânia como em outros países africanos resultou no primeiro cancelamento do rali mais famoso do mundo, no início desse ano, após 28 edições ininterruptas. A história parece se repetir e agora é a vez do futebol ser alvo dessa incompreensível mistura de fé e fanatismo.

O mal-estar do momento são os escudos estampados nas camisas de grandes clubes europeus. Na edição de 8 de janeiro, o diário esportivo francês ?L?Équipe? destacou reportagem com esta nova polêmica. O centro da tensão parece vir da Arábia Saudita e da sua polícia religiosa conhecida como mutawa.

Para eles, os símbolos de clubes centenários como Barcelona, Milan, Sevilla e Inter de Milão representam uma provocação aos islamistas. A loucura é tanta que em alguns países muçulmanos estão retocando o escudo do Barça. Nesse caso, borra-se a linha horizontal da famosa cruz de Sant Jordi (São Jorge, em catalão) até que ela se converta numa única linha vertical. Assim evitam ferir a sensibilidade naquela zona.

?Não nos consta ter visto nenhum retoque nas nossas camisas em países islâmicos. Só quero deixar claro que o FC Barcelona não realizará nenhuma modificação em qualquer produto oficial do clube?, declarou o chefe de imprensa do FC Barcelona, Toni Ruiz, com exclusividade à reportagem da Tribuna na Europa. Mas por se tratar de um tema complexo e delicado, Ruiz preferiu dar a questão por encerrada. ?Sinto muito, mas não nos interessa falar sobre isso?, finalizou.

Camisa da Inter deu rebu

A polêmica ecoa por toda a Europa e o diário esportivo espanhol ?Marca? publicou na semana passada casos que mostram a repulsa em alguns países com os símbolos religiosos cristãos. O mais marcante ocorreu com a Inter de Milão, que enfrentou o Fenerbahçe no final de 2007 pela Liga dos Campeões da Europa. Após a partida em Istambul, um advogado turco pediu castigo para o clube italiano por ter atuado com uma grande cruz de São Jorge na camisa. A Inter jogava com um uniforme comemorativo relacionado ao seu centenário. Nada estranho já que a cruz é o símbolo também da cidade de Milão.

Só que para o advogado Baris Kaska a exibição dessa camisa faz lembrar os templários e as cruzadas. ?Manifesta de forma explícita a superioridade racista de uma religião?, afirmou. Durante o jogo, a torcida turca se mostrava mais agressiva que o normal, algo que os jogadores da Inter não entendiam. Quem está assustado com esse problema é o Sevilha. O clube espanhol enfrenta o Fenerbahçe nas oitavas-de-final da Champions no mês que vem, e teme algum tipo de violência por culpa de seu escudo que tem nada menos que a imagem de três santos da cidade: Isidoro, Leandro e Fernando.

Muçulmano do Barça não liga

Quem preferiu pôr um pouco de equilíbrio no atual conflito foi o meia Yaya Touré, do Barcelona. Segundo o meia de Costa do Marfim, que também prega a fé muçulmana, não existe incompatibilidade entre a sua crença e o escudo do Barça. ?Minha fé está no interior e o escudo não me incomoda em nada?, revelou o atleta, que não deixa de cumprir suas obrigações religiosas.

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