Gomyde comanda o esporte no Paraná

Luiz Augusto Xavier ? Como você está se sentindo, lidando diretamente com o esporte?

Ricardo Gomyde ? Pra mim é um desafio, porque só tive experiência no Legislativo. Fui vereador, deputado federal, e nas duas vezes tratei das questões do esporte, mas somente do ponto de vista legislativo. Em Brasília, fui vice-presidente da Comissão de Desporto e Cultura, e participei da elaboração da Lei Pelé, da discussão da Lei Zico, da CPI do Bingo, e agora estou tendo pela primeira vez, a participação no Executivo. Estou achando extremamente interessante. Se no legislativo você conversa muito, e faz pouco, no executivo ocorre o contrário. O grande problema que encontrei nesse começo de gestão na Paraná Esporte foi exatamente filtrar essa grande quantidade de idéias, porque eram muitas, e tínhamos que escolher apenas algumas para realizar. Um exemplo são os Jogos Colegiais.

Xavier ? Mas como foi escolher as idéias a serem realizadas?

Gomyde – Já imaginava que fosse assim. Quando cheguei na PR Esporte, uma das primeiras coisas que fiz foi um planejamento estratégico, para definir os projetos. A Paraná Esportes tem um corpo técnico qualificado, mas que estava desmotivado. Então esse planejamento também visava incentivá-lo. Eles estavam sem motivação por causa do horário de trabalho do funcionalismo público, das 12h às 19h. E em função do ambiente, que abria espaço para aceitar novas idéias. Com esse planejamento, tudo foi resgatado, pois todos participaram. Desde o presidente até a moça do cafezinho. Todo mundo pode participar, e isso nunca havia acontecido. Com isso, identificamos novidades que poderiam ser aplicadas, e sem grandes despesas, que resultariam em melhoria para a Paraná Esporte. Isso foi feito no começo de janeiro e a gente vem melhorando a cada dia.

Cristian Toledo ? Você foi eleito deputado muito jovem, e talvez faça parte da primeira geração politizada pós-abertura, pós Diretas Já. Para situar o leitor, fale sobre sua trajetória.

Gomyde ? Participei do movimento estudantil. Fui fundador do Centro Acadêmico de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Depois fui para o DCE (Diretório Central dos Estudantes), para a UNE (União Nacional dos Estudantes) e daí me elegi deputado federal. Em 96 fui candidato a vice-prefeito de Curitiba junto com o Vanhoni, dois anos depois fui candidato à reeleição de deputado e perdi. Depois fui eleito vereador por Curitiba, e desde janeiro, o governador Roberto Requião me convidou para assumir para a Paraná Esporte.

Gisele Krodel Rech ? E como surgiu essa idéia de entrar na política?

Gomyde ? Foi meio natural. Apesar da minha família nunca ter se envolvido com a política, eu sempre vivi em um ambiente politizado e, quando entrei para o movimento estudantil, aconteceram as manifestações pró impeachment do Collor, com passeatas contra o aumento de mensalidades, que ainda é um problema grave, mas naquele tempo era maior ainda por causa da inflação. A UNE organizou manifestações e o movimento estudantil brasileiro, nos diversos fóruns, decidiu que deveria lançar candidatos a deputado federal porque era em Brasília que se decidia e discutia o reajuste da mensalidade. Vários líderes estudantis se candidataram, eu fui eleito pelo Paraná e o Lindberg Faria foi eleito pelo Rio.

Xavier ? E acabou sendo uma zebra?

Gomyde ? Sim. Ninguém acreditava e foi difícil dar credibilidade à nossa campanha. Passei em salas de aula do Paraná inteiro na campanha, buscando apoio de estudantes. E fui o deputado de esquerda mais votado. Posso assegurar que antes da apuração, 90% das pessoas não acreditava na gente. Nós mesmos tínhamos dúvida sobre a eleição. Tinha 23 anos de idade.

Em Brasília, para entrar nas comissões eu tinha que apresentar a carteira de identidade, senão a segurança me barrava.

Xavier ? Como foram esses quatro anos em Brasília?

Gomyde ? Acho que tive um bom aproveitamento. Consegui atuar na área da educação. Durante os quatro anos em que tive em Brasília, fui o primeiro vice do Conselho de Educação e Desporto. E além da educação, tive o contato com a legislação esportiva. Fui vice-presidente da CPI do Bingo, e isso foi um grande aprendizado.

Xavier ? E qual era a sua aproximação com o esporte?

Gomyde ? Sempre fiz esporte, gostei do esporte. Fiz judô, karatê, joguei basquete e futebol. Mas logo que cheguei em Brasília fui vice da CPI do Bingo, tinha apenas 24 anos, primeira experiência parlamentar caí numa comissão que tinha Eurico Miranda, Marcos Chedi, bancada evangélica que queriam segurar o bingo só para a Igreja. O Eurico era relator. Por sorte o presidente era uma deputada séria, Zulaiê Cobra (Ribeiro ? PSDB/SP), e nós resistimos. Eles apresentaram um relatório deles, e nós apresentamos um relatório derrotado, que naquela época propunha acabar com o bingo. Porque na verdade o bingo surgiu na legislação brasileira como proposta do Onaireves Moura, no artigo 147 da Lei Zico, como forma de formentar o esporte. O bingo funcionou como bengala na Lei Zico, bengala na Lei Pelé, e agora por sorte, se ele quiser existir tem uma lei própria, específica. Além da CPI do Bingo, também participei da elaboração da subcomissão de futebol, que apurava os escândalos de designar árbitros para determinados clubes de futebol. E essa subcomissão resultou posteriormente na CPI do futebol, e depois foi reapresentada, mas não conseguiu aprovação. Ia atrás dos deputados mas não conseguia aprovar no plenário a CPI do futebol. Na verdade peguei algumas assinaturas de deputados para conseguir a aprovação da CPI, mas no dia da votação, os líderes dos partidos corriam atrás dos deputados que já tinham assinado para eles retirarem a assinatura. E aí foi uma luta para colocar no plenário para ser votado, e quando consegui, acabou perdendo. Logo depois o Aldo Rebelo conseguiu aprovar na Câmara e o Álvaro Dias aprovou no Senado.

Marcelo Fachinello ? Você falou da Zulaiê, que era uma deputada séria. Os outros não eram?

Gomyde ? Se houve essa dificuldade na CPI da Bancada da Bola, em que o Brasil inteiro já conhece o assunto, imagine naquele tempo. Era um problema danado. Tinha sido eleito com uma grande votação e eles não admitiam o menor recuo. Para se ter uma idéia, essa subcomissão que montamos tinha cinco deputados. Era eu, o Lindberg, o Carlinhos Santana, o Alexandre e o Eurico Miranda. Nós começamos a desempenhar as atividades da subcomissão, e o Eurico era minoritário. Ele deu um golpe na comissão de educação para inchar a subcomissão botar a bancada da bola. Foi aí que eu, o Carlinhos e o Lindberg renunciamos. Então imagine a ardilosidade dessa turma. Depois nós pedimos a cassação do mandato do Eurico, quando ficou comprovado que a gente fechava os bingos, e ele vendia facilidades para os bingos reabrirem. Mas foi um aprendizado. São 513 deputados e 81 senadores, e em qualquer assunto que você vai ver já tem muitos deputados se envolvidos. Foi uma forma de aprender que dos 513 deputados o presidente Lula dizia que tinha trezentos e poucos picaretas, posso dizer que tinha mais.

Gisele ? Com relação aos bingos, não teria como viabilizar esse auxílio ao esporte amador?

Gomyde ? O problema é que o bingo foi criado para fomentar o esporte amador, mas nunca fez isso. Há exceções, mas na maioria das vezes os bingos não repassam às federações o que era de direito delas. Ou repassava parte desse recurso para um ou outro dirigente e mesmo dentro do esporte se desenvolvia uma relação de corrupção. Então o esporte não precisa ficar escorado em uma atividade que segundo o Ministério Público serve para lavar dinheiro. Deve ser financiado pelos governos estaduais, pela iniciativa privada. O esporte tem que ser um espelho para os jovens. Se envolvendo com bingo, não se resolve o problema. Acaba atrapalhando.

Gisele ? Então como incentivar o esporte amador?

Gomyde ? Aí entra o papel do Estado; pois o esporte de alto rendimento, profissionalizado, tem retorno de mídia, tem presença de público e tem mais facilidade de captar patrocínio privado. O Estado deve se dedicar ao esporte amador, que é praticado em escolas, porque dificilmente esse esporte vai conseguir apoio privado. A não ser em raras oportunidades, como no caso do Rexona, onde a Unilever tem um investimento em comunidades carentes, como numa favela de São Paulo. E nós estamos tentando fazer a mesma coisa aqui, através do financiamento público. E essa foi a dificuldade que encontramos aqui. O financiamento para o esporte é muito limitado. Nesse ano, o orçamento que o governo Requião recebeu da administração passada, era muito pequeno.

Xavier ? Falando sobre a CPI. Te frustrou o resultado da CPI da Câmara, da qual você participou?

Gomyde ? Completamente. O Aldo Rebelo é sério, e o relator também que era o Sílvio Torres, só que a maioria dos deputados que compunham a CPI era da bancada da bola, e então o relatório produzido pelo Sílvio foi derrotado, e eles acabaram seguindo o relatório aprovado pelo Eurico Miranda. Então embora a CPI da Câmara tenha investigado muito, tenha se aprofundado, o resultado aprovado pela CPI acabou não sendo bom. Como solução legislativa não serviu para nada, mas teve um papel fundamental: levantar a questão. Questionando os contratos da CBF, que antes era intocada. Nesse ponto de vista foi positivo. E boa parte do que foi discutido na CPI da Câmara foi importante para a formação do Estatuto do Torcedor.

Marcelo ? Você é favorável a decisão do governador de fechar os bingos, e no que isso influenciou o código do esporte amador no Paraná?

Gomyde ? Concordo com a decisão do Requião. Primeiro porque bingo é bingo, e esporte é esporte. Segundo, porque o bingo estava funcionando de maneira ilegal, uma vez que a legislação que permitia seu funcionamento foi revogada dia 31 de dezembro de 2002. Então do dia 1.º de janeiro para cá, os bingos estavam funcionando com base em uma resolução de um secretário de Estado. É uma coisa absolutamente questionável juridicamente e do ponto de vista ético.

Em alguns estados, como São Paulo, o bingo funciona com base em liminares. No Paraná não há esse embasamento, então o Requião acabou com isso, e foi bom principalmente para o esporte. O bingo nunca funcionou para amparar o esporte amador. No caso da Federação Paranaense de Vôlei, ela fez um contrato com um bingo, e esse bingo deixou apenas dívidas trabalhistas, que até hoje eles estão tentando resolver o problema, pois foi condenada como ré solidária ao bingo. Então hoje, a federação de vôlei está falida. Nós temos outros exemplos de federações no nosso estado que acabaram falindo, deixaram de existir, e hoje o esporte funciona através de ligas, justamente por conta dos problemas que existiam com o bingo. Pode ter um ou outro lugar em que o bingo repassasse os recursos, mas acho que o esporte não precisa ficar mendigando para o bingo. Não estou dizendo efetivamente que os bingos sejam isso, mas sim que nós não podemos quebrar esse aspecto positivo, esse bom paradigma que o esporte tem com a juventude, se envolvendo com o bingo, que hoje parece ruim, e dessa maneira macular o bom exemplo.

Borba Filho ? Como você vislumbra uma situação imperativa como os Jogos Abertos, que é a essência de muitos jovens?

Gomyde ? O Paraná quando assumi tinha dois jogos oficiais ? os Jogos Abertos do Paraná e os Jogos da Juventude. Nós implementamos os Jogos Colegiais, que voltam a fazer parte do calendário oficial do Estado. Os Jogos Abertos deixaram de ser jogos do Paraná, pois Curitiba não participava desde 85. Mas retorna esse ano. Nós fizemos nesse ano seis regionais dos Jogos Abertos, e essas regionais já classificaram as equipes que irão participar da fase final dos jogos em 10 de outubro, em Pato Branco. E é importante que essa competição é a de maior nível no Estado. Estamos investindo para fazer um grande evento em Pato Branco.

Os Jogos da Juventude acontecem agora em julho, também com regionais e em setembro a fase final será em Campo Mourão. Nesse ano a comunidade esportiva já vai sentir a melhora nas competições. Ano que vem a melhora será ainda maior.

A gente espera poder crescer ainda mais. Não é possível a gente esconder a cerimônia de abertura dos jogos, ou um confronto entre grandes cidades. Isso tem que ser mostrado. Vamos ter uma política de comunicação ousada para divulgar os jogos e até mesmo viabilizar um acordo com parceiros privados para não depender somente do investimento público.

Xavier ? E o caso de atletas emprestados? Cidades que trazem atletas de outros locais para competir?

Gomyde ? Hoje para participar dos Jogos Abertos e o que foi decidido no congresso técnico, é que o atleta tem que estar no mínimo um ano federado no Estado. Principalmente para impedir o que aconteceu no ano passado, onde um atleta que vinha competir por uma cidade do Paraná, pegava um avião, participava da competição, ganhava a medalha de ouro e voltava para casa sem ao menos conhecer a cidade que representava. Agora precisa ser pelo menos um ano federado. E a idéia é poder mostrar as principais competições dos jogos, para o Estado poder ver a diversidade de atletas.

Borba ? E aqueles que não se classificarem para as fases finais dos jogos, terão um calendário para o ano todo?

Gomyde ? Vão ter porque nós estamos estimulando os jogos micro-regionais, que já existem no Paraná, como por exemplo os jogos do Vale do Ivaí, jogos da Região Metropolitana de Curitiba, e em outras regiões do Estado, justamente para que haja uma competição permanente. Porque daí se fecha o processo, com o esporte escolar que são os jogos colegiais, que são crianças até 14 anos; de 14 aos 17 os jogos da Juventude, com as seleções municipais; e as seleções municipais que disputam os Jogos Abertos.

Gisele ? A Paraná Esporte desenvolve projetos para atender comunidades carentes?

Gomyde ? No caso dos Jogos Abertos e dos Jogos da Juventude, o esporte é de alto rendimento. Entretanto, os Jogos Colegiais são a base de tudo. É o esporte comunitário, escolar, que apresenta novos talentos, é um celeiro. Nós temos a caravana do lazer, que é um projeto social, que leva lazer, esporte, cultura e qualidade de vida para comunidades carentes. E é aí que você mata a chave do esporte, que é o grande desafio do esporte, fugir da afirmação de que a atividade esportiva é somente para os jovens. Um grande projeto esportivo é levar esporte para todas a sociedade, não apenas para jovens. Através do esporte pode-se melhorar o convívio social. E projetos estão sendo desenvolvidos para atingir a terceira idade. Para o ano que vem nós vamos organizar os Jogos da Melhor Idade, para os portadores de atividades especiais também tem as categorias exclusivas nos Jogos Abertos, em parceria com as Apaes. Nós temos que buscar os sedentários, os que não praticam esporte, e trazê-los para a prática. Primeiro para melhorar na qualidade de vida, depois para a própria auto-estima, e também até para o Estado, porque com mais pessoas fazendo atividade física, há redução nos problemas de saúde. E já está comprovado que quem pratica esportes também fica longe das drogas e da criminalidade, ajudando a segurança pública. Então até do ponto de vista pragmático, é importante investir no esporte, porque ele representa uma economia para o Estado.

Cristian ? Você falou que conta com apoio financeiro da Secretaria de Educação. Qual é a sua autonomia para tocar projetos?

Gomyde – O nosso vínculo com a secretaria foi muito importante, porque através disso que os jogos colegiais deram certo e foi através desse vínculo que a gente buscou os recursos orçamentários, porque a Paraná Esporte tem orçamento reduzido. Caso contrário não estaríamos com esses projetos. A autonomia é total.

Marcelo ? Entre apoio da iniciativa privada e um orçamento baixo para este primeiro ano, heranda da gestão passada, como ficam os centros de excelência e os projetos que já tinham apoio privado? É verdade que nem contratos existiam em alguns deles? É o caso do Piá Bom de Bola.

Gomyde ? A situação desse projeto me causou uma estranheza danada, porque a gente procurava e não achava o processo. Faz seis meses que a gente vem conversando com o parceiro e ele vai manter a ligação, ajudando em projetos vinculados ao futebol. E no projeto Pia de Bom de Bola nós vamos corrigir, dando a ele um caráter muito mais social. Temos um projeto aqui no Paraná muito bom, que vem do governo anterior que é o projeto Rexona. E esse projeto serve de modelo para outras modalidades. A população de Curitiba está acostumada a torcer pelo time do Rexona, então nós vamos mantê-lo e ampliar. Conversamos com diretores da Unilever, que detém a marca Rexona, e a idéia é a gente investir em um perfil mais social. Mantém o time de voleibol, e os núcleos do projeto serão ampliados. A Unilever concorda que o maior retorno que eles podem ter através do marketing é o perfil social do projeto. Então eles vão disponibilizar mais recursos para a gente ampliar esse projeto no interior. Quem paga o salário do time e de toda a comissão técnica é a Unilever. O caráter social também será bancado pela empresa. O Estado entra exclusivamente nesse perfil social do projeto.

Marcelo ? E tem a possibilidade de esse projeto ser tocado com outros esportes?

Gomyde ? Acho que esse projeto do Rexona é modelo. Se a gente conseguir outros parceiros privados para atender outras modalidades será uma saída. Ainda falta um parceiro, mas estamos tentando com o Gustavo Borges para atender a natação. Acredito que logo após o pan vai sair. Um projeto grande para a natação, porque o Estado tem tradição nesse esporte, com expoentes como o Rogério Romero, Renato Ramalho, entre outros.

No caso do atletismo, temos cinco pistas maravilhosas no Paraná que não estão sendo utilizadas. Então nós estamos finalizando um projeto junto com a Confederação Brasileira de Atletismo e com a Federação Paranaense de Atletismo, e as coisas vão acontecer. No atletismo a parceira é a Caixa Econômica, que já patrocina a CBAt. Onde encontrarmos parceiros, tocamos projetos, onde não encontrarmos, criamos os centros esportivos de inclusão social, porque fundamentalmente esses centros não precisam ter um caráter de formação de atletas, mas sim de participação da população. E assim, aos poucos surge um atleta que se destaque. O importante é evitar o contato do jovem com a marginalidade. Esse é o pensamento do pessoal do voleibol. Juntar todos os jovens, sem distinção, se ele serve ou não como atleta, não existe uma diferença, eles podem ser altos, baixos, gordinhos ou não, todo mundo participa.

Borba ? Reconheço a importância do Bernardinho como ícone. Mas, porque não aproveitamos nossos ícones do futebol?

Gomyde ? Converso com vários ex-jogadores, e que são queridos pela população e hoje estão com dificuldades financeiras, que poderiam ser utilizados. Dentro de projetos sociais poderiam ter a participação desses jogadores nas escolinhas de futebol para estimular as crianças.

Irapitan Costa ? Qual é o custo de uma escolinha de futebol?

Gomyde ? Muito pequeno. Do futebol de campo tem uma dificuldade, porque está se elitizando. A grande maioria de nossos craques tem origem humilde, jogam nos campinhos de terra, ou na várzea. Agora, o futebol está se tornando em um esporte de elite, porque um cara tem que pagar para jogar na grama sintética. Ninguém mais tem acesso a um campo de futebol. Então essa elitização do futebol preocupa. Como que vai ser a molecada que vai chegar a seleção brasileira? Mas dá para desenvolver projetos com futebol. Em praças públicas e campinhos. Temos um projeto em parceria com o Mauro Madureira e a Federação Paranaense de Futebol de Areia, para todo o Estado. No caso do futebol de campo é mais caro. Na areia é praticamente de graça, pois não precisa de tênis, e tem quadras em todo o lugar, o custo é baixo. Assim que aprimorarmos esse projeto, vamos lançá-lo.

Cristian ? Você falou dos Jogos Colegiais. O maior exemplo de esporte escolar para chegar ao profissional são os EUA. Como você pensa o esporte universitário pois, em tese, ele fornece ao esporte amador. A gente consegue fazer isso aqui?

Gomyde ? Porque que o esporte universitário nos EUA é muito forte? Porque tem investimento pesado das instituições de ensino. Acho importante que tivesse isso aqui. Nós temos alguns exemplos no Paraná, como a Unopar de Londrina, que financia a equipe da ginástica rítmica, que é orgulho nacional. Nós temos algumas universidades no Rio Grande do Sul, e no interior de São Paulo, que também investem no esporte. O grande problema é que essa cultura ainda não está disseminada, é uma aqui, outra ali. O importante é que as universidades investissem, mesmo as públicas, porque o retorno é enorme, como uma instituição do Rio Grande do Sul. O esporte tem que deixar de ser visto por alguns empresários como caridade. Ao contrário, eles tem um ganho muito forte. A Confederação Brasileira de Desporto Universitário vai organizar agora em julho os Jogos Universitários Brasileiros aqui em Curitiba. Podem até ficar bravos comigo, mas o desporto universitário ainda está muito mal organizado. Precisa ser reorganizado.

Xavier ? E isso tem que partir de baixo, ou do próprio núcleo estudantil?

Gomyde ? Do núcleo estudantil, eles tem que se reorganizar. Tem que ter uma competição que junte todas as universidades, isso pode ser feito com pouco investimento. A exemplo dos Jogos Colegiais, pode ser realizada uma competição entre as universidades.

Cristian ? Até que ponto a Paraná Esporte pode encaixar um esportista de talento em uma universidade? Com bolsas de estudo?

Gomyde ? Quando eu jogava, isso existia. Nos jogos colegiais o pessoal recrutava os melhores atletas com bolsas de estudo.

Cristian ? Mas havia um campeonato…

Gomyde ? Daí a importância da volta dos jogos colegiais. As escolas queriam montar bons times, atraíam os melhores com bolsas de estudos e com ajuda de custo. Porque era importante para um grupo privado, como o Positivo ou o Bardal, vencer competições. Aquilo tinha retorno de matrículas de novos estudantes, inscrições nos cursinhos, entre outras vantagens. Como acabou a competição, eles pararam de fazer o investimento. Com a retomada dos jogos colegiais, a gente vai conseguir voltar a fomentar este tipo de investimento. Não ainda nas universidades, mas nos colégios de primeiro e segundo grau.

Xavier ? E como está essa retomada?

Gomyde ? Os jogos colegiais eram um espetáculo. Agora, dividimos o Estado em 32 regionais, e em cada uma delas teve uma cerimônia de abertura. A que menos público reuniu, teve comparecimento de 3 mil pessoas. Aqui na região metropolitana, nós realizamos regionais em Colombo e Campo Largo, e é muito legal ver o brilho no olho de uma criança participando. De todas as escolas que participaram da fase municipal, a campeã indo para regional, e os campeões regionais vão participar da fase final que será realizada em Curitiba a partir do dia 20 de agosto. Então esse celeiro todo é que vai fazer com que uma cidade tenha um grande número de bons atletas para participar de jogos abertos e da juventude. Só nesse ano, em que retomamos os jogos, nós teremos aproximadamente 200 mil novos atletas participando da competição.

Marcelo ? E qual o cuidado para que essa retomada ela não seja momentânea?

Gomyde ? Esse ano os jogos voltam a integrar o calendário do Paraná, e isso não é um compromisso só meu, mas também do governador. Os jogos voltam e vão acontecer em todos os anos. E não só os colegiais, mas no ano que vem, também os universitários, organizados pelo Governo do Estado. Vamos unir toda a comunidade universitária esportiva em um evento onde haverá fases regionais e final.

Marcelo – E como as prefeituras estão recebendo essas mudanças?

Gomyde – Fizemos em abril um seminário estadual de esporte e lazer, no Canal da Música, onde convidamos todos os secretários de esporte, todos os dirigentes de federações, acadêmicos de educação física, para que todos participassem com idéias. E nesse evento a gente divulgou aquilo que iria fazer, e a partir daí nós criamos uma parceria com a comunidade esportiva. Hoje a coisa está acontecendo. O pessoal reclama muito que no governo passado, nada era feito. Eles pegavam um evento e investiam para a realização dessa competição, não apoiando as demais. Como no caso dos Jogos da Natureza. Um orçamento fantástico, e esses jogos a comunidade do Paraná nem participava. Enquanto um atleta do Estado estava em dificuldades e projetos esportivos vetados, ao mesmo tempo aconteciam eventos megalômanos. A partir da conversa que a gente teve no Canal da Música, a gente percebeu o ânimo de todo mundo, por algo que está acontecendo. E aproveitando esse ânimo, resgatei o conselho estadual de esportes, que vai congregar todas as forças da sociedade. Ainda no segundo semestre nós vamos realizar uma solenidade no Palácio Iguaçu onde o governador Roberto Requião vai empossar todos os conselheiros, e aí todos os assuntos relacionados ao esporte vão ser debatidos nesse conselho. No conselho vão estar representantes dos atletas, dos paratletas, da crônica esportiva, da justiça desportiva, do conselho regional de educação física. Porque quando você chama todos, e realiza um debate, acaba tendo um compromisso de cada um com o projeto. O pessoal está animado para realizar um trabalho conjunto.

Marcelo – Como ficou a estrutura física e de material nos municípios durante todo esse tempo, bolas, redes, ginásios?

Gomyde – O Paraná tem uma estrutura física esportiva muito boa. Nós temos ginásios com capacidade para 5 mil pessoas em vários municípios, temos uma infinidade de boas praças esportivas. Estádios de futebol nem é preciso falar, são muitos. No atletismo por exemplo, a melhor estrutura se encontra aqui no Paraná, por isso que digo que é um crime nós não termos atletas treinando no Estado. Então a estrutura esportiva nós temos que manter, não entrar na necessidade de alguns prefeitos, em tentar construir mais ginásios. Nós temos que investir em projetos sociais através do esporte, aproveitando a estrutura já existente. No caso da Paraná Esporte nós temos um prédio alugado. Não entendo como que foi preciso alugar um prédio, se já temos uma boa estrutura. Está tramitando na Assembléia Legislativa que toda aquela área da Universidade do Esporte volte para o controle do Estado, e que seja comandada pela Paraná Esporte.

Xavier – E como o Estado perdeu a Universidade do Esporte?

Gomyde – Essa é uma história não tão clara para mim, que na verdade uma área do Estado, que recebeu um forte investimento do Estado via Fundepar, acabou sendo digerido por um grupo privado. O Requião desde que assumiu o governo não se conforma com essa história e pediu para a procuradoria do Estado uma solução jurídica e a procuradoria disse que a solução era tramitar uma lei na Assembléia. A lei já tramitou, e deve ser aprovado em segundo turno que área vai exclusivamente para o Paraná Esportes. Não sei se vai haver algum tipo de batalha jurídica, acredito que não, mas vai ser um ganho para o Estado porque, em primeiro lugar nós vamos deixar de ter que alugar um prédio onde funciona hoje a autarquia e, em segundo que vai dar para a gente uma capacidade de desenvolver cursos de formação para os nossos agentes esportivos, como secretários de esportes, dirigentes de clubes, e outros. Nós vamos poder tornar o Paraná como referência na área de esportes. Marketing no esporte, medicina do esporte, enfim as inúmeras áreas em que o esporte está envolvido vamos trazer para discutir no local. Dá para criar ali um grande alojamento esportivo, onde os atletas do interior e dos outros Estados vão poder se instalar e participar de competições.

Marcelo ? Curitiba ainda conta com o Projeto Pintando a Liberdade, no qual presidiários fabricam bolas?

Gomyde ? Sim. E esse projeto foi criado no Paraná. E quando o Rafael Greca foi Ministro do Esporte ele nacionalizou o projeto, que é maravilhoso. O preso fabrica a bola, recebe um determinado rendimento, se mantém dentro do sistema prisional e consegue repassar os ganhos para a sua família, e produz um material de alta qualidade. A cada três dias trabalhados na fabricação, eles reduzem a pena em um dia, e esse material é repassado ao Estado, que promove atividades de inclusão social através do esporte em escolas e comunidades carentes. Esse projeto começou em 94 no primeiro governo Requião, hoje vamos ampliá-lo projeto. O Agnelo Queiroz, ministro do esporte está entrando em com a gente para poder não só manter esse projeto no sistema prisional, como também levá-lo a comunidades carentes. Se o preso tem essa oportunidade, porque não podemos levar para quem está desempregado? Um desempregado pode conseguir o trabalho, aumentando a produção destes materiais e assim criamos novos empregos.

Cristian – Essa relação próxima com o ministro ajuda o esporte no Paraná?

Xavier – O Agnelo foi deputado comigo, e da mesma bancada (PC do B), e como é médico, gostava mais das questões de saúde. Eu cuidava de educação e desporto. E hoje ele é Ministro do Esporte. Mas o orçamento ainda não é compatível, pois o ministério não existia. Mas para o ano que vem, haverá um orçamento maior. Mas é no ano que vem, com o orçamento próprio, que vai ser fundamental para desenvolver projetos juntos.

Xavier ? Como você vê a aplicação do estatuto do torcedor e de que forma a Parará Esporte pode ajudar nisso?

Gomyde – O estatuto do torcedor era criticado, dizendo que ele era inexeqüível, e teve até uma reunião que tentou armar um boicote na rodada do Campeonato Brasileiro. A história mostrou que de inexeqüível não tem nada. Ele está sendo cumprido e inclusive foi cumprido no Atletiba, vi que estavam sendo cumpridas as regras. Sempre fui no Atletiba, e foi o primeiro em que não vi as brigas, vandalismo. Dessa vez houve não só a conscientização dos clubes de futebol, mas principalmente do próprio torcedor, que também sofre sanções. Portanto, o estatuto está sendo cumprido.

Está tramitando na Câmara o estatuto do esporte, porque o do torcedor ficou muito restrito ao futebol. O relator é o deputado Gilmar Machado (PT-MG). E qualquer erro que possa vir a ser encontrado no estatuto do torcedor, apesar de ser positivo, pode ser corrigido no estatuto do esporte. Sem dúvida ele é uma melhoria para o futebol brasileiro, e vai resgatar a saúde financeira dos clubes.

Cristian – Como foi a ação para dar segurança ao Atletiba, em relação ao Estatuto?

Gomyde – O Atletiba era a prova de fogo do estatuto do torcedor porque até então no Paraná a gente não tinha presenciado um jogo de duas torcidas. Então, aproveitei que havia uma comissão que foi criada por advogados dos três clubes para discutir a adequação do estatuto no Estado, para não só prestigiar uma comissão que estava tentando modernizar os clubes, mas também para tornar público aos torcedores que seria viável a execução dos artigos da nova lei aqui no Estado. Não aconteceu nada de sério no clássico.

Irapitan – No blefe da CBF e dos clubes, antes da Sexta rodada do brasileiro, o comentário geral foi de que era uma articulação dos clubes para “empurrar com a barriga” o estatuto do torcedor. Você acredita que esse estatuto do esporte ainda pode sofrer modificações que favoreça ainda mais o desporto?

Gomyde – Acredito que sim. E se a comunidade esportiva, a sociedade, a crônica esportiva, protestarem cai o estatuto do torcedor. Nessa discussão legislativa a gente pode retroagir na questão do estatuto. E é exatamente por isso que inclusive na reunião com os secretários estaduais de esporte, nós definimos uma comissão para conversar com as bancadas estaduais e mostrar os ganhos para a sociedade com o estatuto do torcedor, e que não sejam revistos para a discussão do estatuto do esporte. Antes parecia que tudo era impossível, mas o estatuto veio provar que não. Que é possível divulgar renda de jogos, e controlar o estádio e o público que vai assistir aos jogos. E o campeonato brasileiro continuou tranqüilamente. Essa transparência, a saúde financeira dos clubes, isso só trouxe vantagens.

Cristian – Antes de assumir a Paraná Esporte, além de ser vereador, você era vice-presidente do conselho deliberativo do Coritiba. Como você chegou lá?

Gomyde – Eu sou conselheiro do Coritiba há muito tempo. Sempre fui ao estádio, adoro futebol, e a minha entrada foi natural.

Cristian – E lá você chegou a ter autorização para ter contado com o clube, ou não teve como se aproximar do dia-a-dia dos jogadores?

Gomyde – Teve. Digo que, sinceramente, nos clubes aqui do Paraná estão um passo à frente dos demais, com relação à administração esportiva. O Atlético deu um salto de qualidade do ponto de vista da infra-estrutura, com um belo estádio, um ótimo centro de treinamento. O Coritiba deu esse salto agora, e está tentando emitir ações no mercado e fazer uma campanha de mobilização da torcida para que compre essas ações e ganhe prêmios através disso. E até o Paraná Clube, que oxigenou a diretoria e está procurando uma visão empresarial para dar ao clube uma situação financeira estável, equilibrada. Se a gente comparar as gestões dos clubes paranaenses com outros clubes do futebol brasileiro, estamos numa situação privilegiada.

Xavier – O que poderia ser aplicado ao esporte amador no Estado? Algo que se aproximasse da Lei Rouanet ou à Lei Municipal de Incentivo? Há alguma coisa a caminho?

Gomide – Esse é o antídoto politicamente correto do dinheiro do bingo. É criar uma lei de incentivo ao esporte estadual, que possa financiar projetos de interesse esportivo e que tragam junto o vínculo social. A primeira missão do conselho estadual do esporte, e que eu vou provocar é discutir uma lei de incentivo ao esporte. Esse conselho que até então não existia, tem como prioridade a formulação dessa lei de incentivo. A partir daí a gente vai ter uma receita sadia para financiar esse tipo de projeto. Uma outra questão que apresentei ao ministro do esporte e que pode ajudar a situação do esporte no Brasil, e sem confrontar os agentes culturais e os produtores culturais do país, mas que a Lei Rouanet me permita também captar recursos para o esporte. Porque hoje, do total permitido para captação deste benefício fiscal, apenas 40% vai para a cultura, e sobra 60%. Então acho, que sem contrariar a equipe econômica de Lula, você pode destinar 30% dessa captação principal e ainda ficam 30% de potencial para a cultura.

Marcelo ? E esse é o seu objetivo principal, tratar o esporte no Paraná como meio de inclusão social?

Gomide ? Acho que esse é o desafio do esporte. Porque sempre se diz que o esporte tirava e ainda tira crianças da rua, que o esporte sempre afasta da droga e que é um paradigma positivo e sempre foi, só que a gestão tradicional do esporte foi para o atleta e para o jovem. Nós temos que ter projeto de esportes de alto rendimento, porque é daí que saem os ídolos e isso é importante para a sociedade. É um ídolo que lá na frente vai motivar o estudante a praticar determinado esporte. Esse paradigma é importante. Agora, fundamentalmente, nós temos que investir no esporte com esse motivador, principalmente na situação econômica na qual vivemos. É por isso que voltaram os jogos colegiais, que a gente está investindo na caravana do lazer, por isso que nós vamos criar os centros esportivos de inclusão social, não somente centros de excelência, mas a nossa prioridade é o social, aonde não só aquele que já está preparado para competir vai poder participar, mas qualquer pessoa. A prioridade do Governo do Estado é investir no esporte como agente de inclusão social, e ajudar o esporte de alto rendimento, para trazer um parceiro privado. Os recursos do Estado para o esporte tem que estar fundamentalmente à disposição de um projeto social.

Xavier ? Você mencionou o centro de excelência, e já falou sobre o Rexona, e sobre o governo anterior. É estranho para nós observar um governo elogiando alguns feitos da administração passada. Como você vê isto? O Paraná está mudando, o país está mudando?

Gomyde ? Olha, eu sou um crítico da política esportiva da gestão anterior. Acho que acabar com os jogos escolares foi um crime, investir em jogos mundiais da natureza em detrimento de outros projetos esportivos para o Estado foi muito ruim. Já tenho uma vivência política para saber que a contestação de tudo é errada e também é condenada pela população, então é evidente que tem coisas que estão corretas e que devem haver continuidade, como o projeto do Rexona tem que ter continuidade. Nós vamos dar um novo perfil ao projeto, investindo no social, e não no time em si. Mas é um projeto importante. Então você tem que aproveitar o que foi feito de bom no governo anterior. O caso do Pintando a Liberdade é outro bom exemplo. Veio do governo anterior, mas como é bom, vamos aproveitar e até aperfeiçoar.

Márcio Rodrigues – Você já falou que é um crítico dos Jogos Mundiais da Natureza. Você realizaria uma segunda edição desta competição?

Gomyde – Os jogos da natureza como concepção, fazer uma competição que aproveite a biodiversidade da Costa Oeste, como produto de propaganda do potencial turístico daquela região é uma bela idéia. Com relação a execução do projeto, sou um crítico radical. O custo destes jogos, segundo a CPI, em torno de U$ 90 milhões, hoje R$ 270 milhões. Nós estamos desenvolvendo um projeto como os jogos colegiais, que movimenta mais de 200 mil atletas com menos de R$ 3 milhões, envolvendo toda a comunidade esportiva do Estado. Então quando penso no benefício que os jogos colegiais em contraposição ao jogos mundiais da natureza, sou um crítico muito severo. Bases náuticas foram construídas e hoje estão abandonadas. Uma área de terra foi desapropriada e hoje perdeu sua vocação. Na época tinha-se a idéia de construir um complexo hoteleiro gigantesco. Acho que esse projeto é falido. Já era antes de acontecer, e serve de referencial para que a gente fuja deste tipo de idéia.

Cristian – O Estado então não entra em disputa de competições nacionais? Não coloca dinheiro nisso?

Gomyde – Ele pode sim colocar, não tem problema nenhum. Aquilo que for importante para o Estado, competições nacionais. Agora, a ordem de recursos despejada nos jogos mundiais da natureza, segundo o que dizem na CPI da Assembléia e que leio na imprensa, para mim foi um absurdo. E o que escuto da comunidade esportiva do Paraná, que foi alijada da competição, me faz ter certeza que aquilo foi um erro brutal. Evidentemente que sou a favor de trazer competições de alto nível para o Estado, mas projetos megalomaníacos não.

Marcelo – Nos projetos dos centros de excelência sempre foi colocado um ícone do esporte. Vocês pensam em manter isso? Ter um atleta de nível para incentivar a prática do esporte fica fora dos padrões financeiros?

Gomyde – Aonde puder é só ganho para a comunidade. Bernardinho no voleibol, só ajuda. Gustavo Borges, se conseguirmos viabilizar o projeto da natação, tudo bem. Agora o que não pode é o Estado atrair atletas a custa de altos salários, e alguns projetos não forem desenvolvidos por causa de falta de apoio financeiro. Esse tipo de programa não vai nos seduzir. Nós temos um projeto da natação, que desde março estamos tentando viabilizar, e aproveitando que o Gustavo Borges possui uma academia na cidade, o Renato Ramalho desenvolveu um projeto. Nós e o Gustavo estamos correndo atrás de patrocínio para que se possa realizar esse projeto social. Assim é muito bem vindo. Nós ganhamos, ele também ganha, tendo o retorno do marketing pessoal e social. Agora pagar salários altíssimos para atrair um atleta de alto nível, nós não faremos.

Márcio – Qual é a rubrica da altarquia que você preside?

Gomide – A Paraná Esporte tem hoje um orçamento de aproximadamente R$ 7 milhões. Quando assumi, o orçamento não dava para realizar os jogos abertos e os jogos da juventude.

Márcio ? Sobre jogos abertos, e olha para os jogos de São Paulo, ou o exemplo de Santa Catarina, onde este tipo de competição tem resultados e retorno de mídia não te instiga a buscar um resultado, de pelo menos fazer no seu último ano, parecido?

Gomyde – Vou ter dizer o seguinte: não tem no Brasil uma competição como os jogos colegiais. Fui em uma reunião dos gestores estaduais de esportes, e não existe nada parecido no Brasil inteiro. A competição é o celeiro de tudo. Santa Catarina tem hoje os jogos abertos, tem investimento federal, e até agora o Paraná não captou recurso para realizar jogos. Mas esse ano nós vamos trazer. E os nossos jogos não têm cobertura da mídia. Apesar disso, esse ano vai mudar. Mas mesmo assim nas competições nacionais, nos jogos abertos brasileiros, na região sul, nós somos hegemônicos, ganhamos de Santa Catarina e de Rio Grande do Sul. Vamos melhorar ainda mais, não tenho dúvida nenhuma. Nosso povo tem uma vocação esportiva muito forte. Em qualquer região, tem um esporte que se destaca. Nós vamos tentar incentivar todos, de alguma maneira. Então a nossa situação, apesar do orçamento que ficou, a realidade esportiva nossa não é pequena, é maior do que a deles. Em São Paulo eles trazem atletas de outros países para os jogos abertos, mas isso é um erro. E esse ano nós vamos introduzir Curitiba a participar dos jogos abertos. E não tenho dúvida de que em dois anos a gente tenha a maior competição deste tipo no Paraná. Os jogos colegiais paranaenses já são os maiores do Brasil e os jogos da juventude ainda tem que se aprimorar um pouco para se tornar uma referência.

Cristian – Você falou da mídia. Está garantida a transmissão pela TV Educativa dos jogos abertos?

Gomide – Sim, vai ser transmitido. A cerimônia de abertura e as principais competições, e os jogos colegiais nós estamos tentando também.

Márcio – Você falou que dispõe de R$ 7 milhões. Você já tem uma estratégia para que em 2004 possa melhorar esse número? Qual a sua estratégia? Vai buscar na Assembléia? Até onde vai sua interlocução neste sentido?

Gomyde – Já melhorou bastante. Esse orçamento inclui o projeto Pintando a Liberdade e outros projetos. Então o que sobrava não dava nem para pagar os jogos colegiais e nem os jogos abertos e os da juventude. Nós arrumamos dinheiro para completar os jogos abertos e os jogos da juventude, já fizemos os repasses para as prefeituras para elas se organizarem. Inventamos os jogos colegiais com um orçamento que não estava na Paraná Esporte e também a caravana do lazer, que é outro projeto. Vamos fazer uma competição que junte todo o futebol profissional e amador do Estado (Copa Sesquicentenário). O que importa é que o Requião está disponibilizando os recursos. Do ponto de vista orçamentário para o esporte, ele tem liberado os recursos para todas as idéias que a gente propõe. Ainda não teve uma vez, em que tive uma idéia esportiva, que ele tenha negado.

Marcelo – A sua função no conselho nacional de secretários é de articulação legislativa. O papel que você fez aqui, está realizando em todo o Brasil, é isso?

Gomide – É, porque existem 27 gestores estaduais de esporte e lazer e o gestor de São Paulo (Lars Grael) pediu para que eu cuidasse de todas as questões legislativas. Por isso que cuidei da elaboração do estatuto do torcedor, e agora também do estatuto do esporte, porque, por incrível que pareça, os outros 26 gestores, nenhum foi deputado estadual ou federal. Então acho que é uma oportunidade.

Carlos Henrique Bório – Tem algum projeto para incentivar o esporte radical?

Gomyde – A grande vantagem do esporte radical é que existe uma grande parte dos jovens que praticam. E isso é interessante porque como tem um grande número de praticantes, atrai a cobertura da mídia. A caravana do lazer, inclui alguns esportes radicais. Nós estamos preparando para o Projeto Verão, não somente no litoral, mas no interior do Estado, com abertura para este tipo de esporte. E estamos vendo com o Peterson Rosa, um centro esportivo de surfe, que contemple a inclusão social, e vai contar com a presença de grandes surfistas. No skate nós temos o exemplo do Ferrugem, que ganha de todo mundo. Porque não aproveitar esse potencial? Tem também as trilhas de aventura, pára-quedismo, e tudo pode ser beneficiado. Uma das muitas idéias que nós tivemos era a realização dos Jogos Radicais aqui no Paraná. Mas nós temos que trabalhar com prioridades. Primeiro com os jogos colegiais, depois os jogos abertos e da juventude, para assim desenvolvermos novas idéias.

Márcio – Você entende que o gestor estadual do esporte pode ser um interventor junto a iniciativa privada para conseguir recursos para novos projetos?

Gomyde – Pode sim. Através do Governo do Estado, dá mais credibilidade ao projeto para conseguir apoio financeiro. E principalmente através da lei de incentivo estadual ao esporte, que é um projeto embrionário, que esse sim vai poder custear projetos. Dinheiro no esporte tem no mundo inteiro. O que falta são pessoas capacitadas para trabalhar com isso.

Xavier – Ricardo Gomyde por Ricardo Gomyde?

Gomide – Sou um entusiasta do esporte. Sempre gostei muito do esporte. Quero aproveitar muito essa oportunidade no Governo do Estado, e melhorar a sociedade através de projetos esportivos.

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