Gil de Ferran, um piloto com 18 anos de vitórias

São Paulo – Vencer a última corrida na carreira é algo raro para um piloto. O brasileiro Gil de Ferran conseguiu. Domingo, aos 35 anos, encerrou com chave de ouro sua trajetória de 18 anos nas pistas sem contar os tempos de kart , ganhando no Texas Motors Speedway a Chevy 500, prova que concluiu a temporada da Indy Racing League. Só faltou o título, que ficou com o neozelandês Scott Dixon. Ele foi vice-campeão.

Gil, porém, não reclama. Até porque ganhou uma prova que, para os americanos, representa muito mais do que o título: as 500 Milhas de Indianápolis. Aliás, a foto de Gil estampa os ingressos para a 88.ª edição da prova, em 2004. Além disso, já sabia o que é ser campeão, pois venceu por duas vezes seguidas, em 2000 e 2001, a temporada da cart, entre outras conquistas. “Sinto-me realizado, tive uma carreira fantástica”.

Agência Estado

– Como estão sendo estes seus primeiros dias de ex-piloto?

Gil de Ferran

– Ih, rapaz, está gozado. Na terça-feira, liguei para o meu engenheiro (Tom German) para discutir o que aconteceu na corrida de domingo, os problemas no carro, o que fizemos, o que deixamos de fazer. Aí, desliguei e pensei: “O que que eu fiz? Não tenho mais nada a ver com isso”. É que esse negócio de parar está amadurecendo aos poucos.

AE

– Mas você tomou esta decisão há tempos…

Gil

– É, mas eu estava tão disciplinado, tão determinado a não pensar que a corrida do Texas seria a minha última, para não ficar ansioso, emocionado, que não trabalhei este aspecto.

AE

– Você deixa as pistas num momento positivo.

Gil

– Estes últimos quatro anos foram os melhores de minha carreira. Tive o privilégio de guiar na melhor equipe do automobilismo americano, a Penske. Foram quatro anos fantásticos.

AE

– E daqui para frente, o que pretende fazer?

Gil

– Não sei direito. Só sei que vai ser algo ligado ao automobilismo. Estou me sentindo novamente como quando terminei o colegial e tinha de decidir o que fazer da vida. Sinto ansiedade, medo, mas estou superenergizado.

AE

– Quais são suas opções?

Gil

– Bom, não tenho pressa e primeiro vou estabelecer um leque de possibilidades. Gosto muito da tecnologia no automobilismo, dos negócios (é uma espécie de tutor de Sérgio Jimenez, que este ano disputou a F-Renault inglesa), e das corridas. Tenho bom relacionamento com pessoas e empresas..

AE

– Você já recebeu convites de trabalho?

Gil

– Fiquei até surpreso com tanto interesse, mas vamos com calma.

AE

– Vamos. Mas para que lado que você está pendendo?

Gil

– Gosto muito dessa área técnica. Então, pode-se dizer que tenho uma pequena propensão para este lado. Ter uma oficina de preparação de motores, por exemplo, é algo que vejo com interesse.

AE

– Você vai continuar morando nos EUA ou voltará para o Brasil?

Gil

– Não sei, depende do rumo que tomar meus negócios. Qualquer mudança não significará problemas com minha família, pois sempre norteei minha carreira da seguinte maneira: levo minha família para o lugar onde trabalho (atualmente, mora em Fort Lauderdale, na Flórida).

AE

– Nestes próximos meses, o que pretende fazer?

Gil

– Desacelerar. Passei tantos anos fechadinho, focado na carreira, que agora estou tentando reverter. Neste fim de ano vou ser pai em tempo integral. Quero ficar tranqüilo com a família e os amigos, fazer churrascos na minha casa. Mas a rotina maluca volta logo. Está dentro de mim. Gosto de estar no meio da fogueira.

AE

– Qual foi o melhor momento de sua carreira? A vitória nas 500 Milhas?

Gil

– Vencer em Indianápolis é especial, dá prestígio. Mas tive outros ótimos momentos. E, pode parecer demagogia, mas quem me conhece sabe que não é. O que mais dou valor em toda a minha carreira foram as inúmeras pessoas que conheci, as amizades que fiz.

AE

– Falando em carreira, durante boa parte dela você foi rotulado de azarado. Chegou a pensar assim?

Gil

– Ao contrário, quando olho para trás e vejo tudo o que consegui, não tenho como não me considerar um cara de sorte. O que ocorre é que uma carreira tem altos e baixos, como tudo na vida. Mas mesmo nos piores dias sempre achei que o futuro estava na minha frente, para ser conquistado. Tratei de conquistá-lo.

AE

– O Brasil teve pilotos disputando o título da Indy Racing League nos dois últimos anos. Em 2004, o nível será mantido?

Gil

– Tenho certeza que o Helinho (Hélio Castro Neves), Tony (Kanaan) e o Felipe (Giaffone) vão continua mandando bem. O nível vai ser mantido. E os outros pilotos brasileiros que estiverem no campeonato também. Quanto a isso, podem ficar tranqüilos.

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