Gaviões pressiona mosqueteiros

O treino do Corinthians na tarde de ontem reservou fortes emoções e uma boa dose de constrangimento, com a presença da diretoria da torcida Gaviões da Fiel no hotel onde a equipe está hospedada, em Extrema, Sul de Minas Gerais. Ao fim do treinamento, vários jogadores foram surpreendidos com a aproximação do grupo, que a princípio só deveria estar ali para estender faixas, e tiveram de ouvir uma “palestra” ministrada por um dos diretores da torcida, Wellington Rocha.

Entre palavras de apoio aos jogadores, que já conquistaram dois títulos para o time este ano, os Gaviões também cobraram garra e determinação para que o time “não tome bolas entre as pernas” dos jogadores do Santos. A “aula” do diretor da torcida pôde ser ouvida por todos que estavam perto do campo de treinamento. Depois de instruírem os atletas sobre como jogar no domingo, os torcedores, que puderam circular pelo campo com muito mais liberdade do que a imprensa, saíram entoando cantos e fazendo um buzinaço para marcar a despedida.

Os jogadores, que não conseguiram disfarçar a surpresa pelo “apoio” recebido, tentaram contornar a situação encarando a presença da torcida como normal. “Eles querem a mesma coisa que a gente quer, que é vencer e conquistar este título”, disse o zagueiro Fábio Luciano. O atacante Guilherme afirmou que a ida da torcida ao hotel “era o que estava faltando” para o time. “Nós queremos esta vitória, a comissão técnica também e só estava faltando a torcida para dar o seu apoio neste momento importante”.

Ressentido

O atacante Deivid voltou a treinar ontem, depois de ter sido poupado por três dias para se recuperar de uma contusão no tornozelo direito, e não escondeu seu ressentimento contra algumas pessoas que não quis identificar. “Essas pessoas que falaram que a gente vai perder este título vão queimar a língua”, afirmou. Segundo o jogador, muitas besteiras foram ditas a seu respeito. “Vamos mostrar que aqui é lugar de homens e pais de família. E vamos provar que somos capazes não fora, mas dentro de campo”, disse Deivid, que fez uma promessa: “Só vamos parar de atacar quando acabar o jogo”.

Deivid não quis revelar se o seu desafeto é o meia Diego mas confirmou as declarações do técnico Emerson Leão de que suas relações com o jogador não são boas desde os tempos em que ambos atuavam no Santos. “Eu não me dou com ele. Ele não se dá comigo e cada um fica para o seu lado”, afirmou o atacante corintiano, reafirmando sua intenção de resolver as diferenças na bola, sem violência. Ao mesmo tempo que tornou pública sua revolta, Deivid também fez questão de esclarecer que seu sentimento não se estende a todo o grupo adversário. “Ainda tenho muitos amigos lá.”

“Anônimos” do Peixe mostram humildade

Diego e Robinho estão nas páginas dos jornais, nos programas de televisão e nos noticiários das rádios. São os mais elogiados pelos comentaristas e os principais ídolos da torcida. Mas será que os dois levaram o Santos sozinho à final do campeonato brasileiro? Não, mas são eles que fazem gols e aparecem. E os chamados “carregadores de piano” não ficam frustrados com a falta de prestígio? Paulo Almeida, o capitão do time, Renato e Elano garantem não estar nem aí para isso.

Pelo contrário, são simples e humildes, falam como se fossem anônimos e não têm nenhuma vaidade. Quem está acostumado a lidar com atletas dos grandes clubes, seguramente fica surpreso positivamente com a receptividade desse eficiente trio santista. “É natural que o Robinho e o Diego apareçam mais, mas nós sabemos da nossa importância”, declarou Paulo Almeida. “Eles vão bem na frente, fazem gol, porque têm tranqüilidade e confiança no nosso trabalho”. Elano concorda com o companheiro e acha que todos saem ganhando com o desempenho acima da média da jovem dupla.

E Renato acha suficiente o reconhecimento da comissão técnica. No primeiro jogo da final, porém, ele teve seu dia de glória, ao fazer o segundo gol da vitória sobre o Corinthians por 2 a 0. Agora, sua maior preocupação é deixar o futuro sogro de cabeça inchada. Seu Levi, pai da namorada, Lilian, é corintiano. “Mas ele vai torcer por mim”, contou Renato. “Ele disse que já tinha ficado feliz demais com o rebaixamento do Palmeiras para a segunda divisão”. Renato faz questão de dizer que seu nome é Levi e não Levir, como o do técnico do Palmeiras. “Pelo amor de Deus, não ponha errado no jornal. Ele vai ficar bravo se aparecer Levir.”

Capitão Nalbert faz escola

O zagueiro Fábio Luciano fez uma promessa pela conquista do título brasileiro, inédito em sua carreira, domingo contra o Santos. “Estou confiante de que a gente pode ganhar e, se isso acontecer, vou fazer como o Nalbert: vou pegar a taça e levar ela para casa para ficar comigo por uns dias”, disse o jogador do Corinthians, lembrando do gesto do capitão da seleção brasileira de vôlei, que ficou com o troféu do campeonato mundial durante alguns dias em seu apartamento, no Rio.

Fábio Luciano ainda não ergueu uma taça do Corinthians como capitão do time. Nas duas conquistas do primeiro semestre, o Torneio Rio-São Paulo e a Copa do Brasil, o comandante do grupo era Scheidt. Ele garante, no entanto, que mais importante do que a honra de erguer a taça é conquistar um título que ainda não possui. “Não tenho a intenção de fazer do título uma conquista pessoal. Ela é o resultado do trabalho de todo um grupo e, se possível, não quero que seja só eu a levantar a taça, mas o Parreira e meus outros companheiros também”.

O zagueiro ainda não sabe com quem fará dupla na defesa do Corinthians, domingo, contra o Santos. No treino coletivo da tarde de ontem, o técnico Carlos Alberto Parreira fez experiências no time e colocou o meia Marcinho no lugar de Renato e Anderson no de Scheidt. Resultado: vitória por 3 a 1 dos titulares sobre os reservas.

Mesmo com o treino satisfatório, Fábio Luciano afirmou que, apesar da posição de capitão, não quer saber de opinar sobre a escalação do time, mesmo se for consultado por Parreira. “Acho que esta escolha deve ser só do treinador. Pessoalmente não gostaria de ter de escolher entre um companheiro de equipe ou outro e ficaria ofendido se algum deles desse esse tipo de opinião.”

Polícia prende dez cambistas

A Polícia Civil de São Paulo resolveu enfim travar uma briga com os cambistas. Ontem, cerca de 50 policiais da Seccional Oeste e do Grupo de Operações Especiais (GOE) detiveram 10 pessoas que estavam vendendo ingressos nas imediações do Morumbi – por preços até 4 vezes mais caros que o valor de bilheteria – para a final do campeonato brasileiro, domingo, entre Corinthians e Santos. Com os cambistas foram encontrados 93 ingressos e R$ 2.639 em dinheiro. Dos dez autuados em flagrante, nove foram indiciados e liberados em seguida – vão aguardar em casa o julgamento. Um deles, o ambulante Jorge Alves de Oliveira, procurado pela Justiça por tráfico de entorpecentes, continua preso.

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