Foi incrível!

‘Gambiarra’ de luz e cor surpreende na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio

Simplicidade e emoção marcaram a cerimônia da Olimpíada do Rio, na noite desta sexta-feira (5), no estádio do Maracanã. Como anteciparam os organizadores, a festa teve menos efeitos especiais, apostando mais na gambiarra para divulgar uma mensagem de diversidade social e na necessidade de se preservar a natureza. Cerca de 50 mil pessoas assistiram ao espetáculo, alternando aplausos emocionados (para a atacante Marta, o cestinha Oscar e os carregadores da tocha olímpica, Gustavo Kuerten, Hortência e Vanderlei Cordeiro de Lima) com vaias vigorosas (para a delegação da Argentina e o presidente em exercício Michel Temer).

A diversidade cultural e social do Brasil foi lembrada já no início, quando uma estampa do artista Athos Bulcão foi projetada no palco, símbolo da reinvenção das tradições de arte geométrica indígena, dos padrões de estampas africanas e da azulejaria portuguesa. A proposta era clara: as diferenças devem estimular a união e não provocar guerras.

O tom de preservação pacífica foi traduzido logo no início da cerimônia quando, depois da contagem regressiva, o palco do Maracanã foi tomado por cerca de mil pessoas, que formaram uma enorme figura com o formato do símbolo da paz. Suspenso, o objeto foi girado até se transformar na representação de uma árvore. A mensagem foi clara: ao transformar o símbolo da paz no de uma árvore, o Brasil concilia dois elementos essenciais para a preservação da vida.

Simplicidade e talento, marcas que acompanham a carreira do cantor e compositor Paulinho da Viola, responsável pela belíssima execução do Hino do Brasil, ao som apenas de cordas. Foi a deixa para começar a representação da história do País, inicialmente habitado apenas por índios e, com a chegada dos portugueses, introduzido no chamado mundo conhecido. Novamente, os recursos de gambiarra permitiram uma encenação de forte apelo visual, com as naus dos europeus representados por aparelhos formados apenas por ferro.

A transformação das florestas em campos de cultivo de agricultura foi o motivo para a coreógrafa Deborah Colker, diretora de movimento da cerimônia, exercitar seu talento em coreografias que desafiam a gravidade – dançarinos ocuparam o palco em rodas gigantes movimentadas apenas pelo peso de seus corpos, simbolizando os escravos africanos. Era o momento de começar a mostrar a diversidade que marca a sociedade brasileira, com bandeiras vermelhas representando a onda de imigração vindas do Oriente Médio e Ásia.

A cerimônia de abertura de uma Olimpíada é essencialmente um espetáculo criado para a televisão, que não apenas tem a vantagem do foco como dos efeitos especiais. Foi o que aconteceu no segmento seguinte, quando é retratada a grande urbanização nacional: a imagem dos bailarinos saltando de um prédio para outro só foi visível no telão do Maracanã. Também momento seguinte, um dos mais emocionantes da cerimônia, contou com o uso da tecnologia: quando o avião 14-Bis, comandando por Santos Dumont deixou o palco do Maracanã para, em belas imagens, sobrevoar o Rio.

O Rio que foi delineado, então, em curvas físicas, como as da modelo Gisele Bündchen, que desfilou pelo palco (e não foi alvo de uma tentativa de assalto) e também curvas melódicas, na apresentação do clássico Garota de Ipanema, tocante momento para se lembrar (e homenagear) do maestro mestre Tom Jobim. E, como o Rio não é formado apenas pela Zona Sul, o morro surge na voz do samba de Zeca Pagodinho assim como no funk de Cristian do Passinho, verdadeira febre no Rio.

Morro e Zona Sul se uniram, em seguida, no carnaval, a mais autêntica festa coletiva do Brasil, personalizada em Jorge Ben Jor interpretando seu clássico País Tropical. A festa se espalhou pelas arquibancadas com os voluntários fantasiados saindo pelas laterais.

A diversidade estava bem revelada, mas faltava reforçar o outro pilar da cerimônia: a preocupação com o futuro do planeta com a extinção de rios e florestas. No telão, o adensamento de cidades tão distintas como Rio e Amsterdã revelou a extensão da problema em todo o mundo. Um problema tão grave revelado por imagens de destruição exibidas no telão. A trilha sonora, porém, era conhecida: a que marcou o filme Central do Brasil, de Walter Salles. Era a senha para se ouvir a voz poderosa de Fernanda Montenegro que, em parceria com também poderosa atriz Judi Dench, declamou os versos de A Flor e a Náusea, de Carlos Drummond de Andrade, anunciando caminhos da esperança por meio do reflorestamento.

Caminhos formados pelos atletas que vieram ao Brasil e que, naquele instante, iniciavam seu alegre desfile, iniciado, como de costume, pela Grécia, país onde nasceram os jogos olímpicos, e encerrado pelos anfitriões nacionais. Causou enorme comoção a chegada de atletas refugiados de seu país, um exemplo da força do esporte acima das diferenças políticas. Também emocionante foi a ovação que recebeu o grupo de países independentes. E a pregação da tolerância sofreu apenas um revés, com a poderosa vaia dirigida ao atletas argentinos. Apupos que incomodaram o presidente Mauricio Macri, em imagem exibida pelo telão.

Pela primeira vez em uma abertura olímpica, os competidores receberam uma semente e um recipiente para colocá-la. Torres de espelho foram montadas com espaços onde cada recipiente foi guardado, somando cerca de 2 mil sementes que formarão a Floresta dos Atletas, no Parque Radical, em Deodoro.

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