Futebol se assusta com problemas cardíacos

O número de problemas cardíacos no futebol nos últimos dias tem alarmado o departamento médico dos clubes. Há duas semanas, o mundo assistiu aterrorizado à morte do meia camaronês Marc Vivien Foe, de 28 anos, durante a partida entre Camarões e Colômbia, pela Copa das Confederações, na França. Na última segunda-feira, os resultados dos exames comprovaram problema cardíaco. O mesmo que vitimou, na semana passada, o jovem zagueiro Max, do Botafogo de Ribeirão Preto, durante um treinamento de sua equipe. Max tinha 21 anos e na autópsia foi constatado um problema congênito raro.

O que chama a atenção nesses casos é o fato das vítimas estarem diretamente ligadas à prática desportiva, que remete à saúde. Mais que isso, atletas profissionais são submetidos anualmente a uma bateria de exames longos que, teoricamente, detectariam quaisquer problemas, inclusive os cardíacos.

No entanto, a situação é mais complexa. Problemas como o do garoto Max são difíceis de detectar e raramente têm sintomas. Geralmente, vitimam pessoas com até 30 anos, justamente em uma fase em que as preocupações com a saúde não são muitas.

“A hipertrofia ventricular, um problema congênito que causa a morte súbita, só é detectado pelo ecocardiograma. E geralmente, esse exame não é feito com os demais exames de rotina dos clubes”, explica o cardiologista Costantino Costantini. Por serem submetidos a cargas maiores de exercícios, atletas ficam mais suscetíveis a serem vítimas de ataques cardíacos. “Dependendo do grau do problema, o atleta tem que encerrar a carreira. Se é leve, a única exigência é um controle maior do problema, com exames periódicos”, diz o especialista.

Outros problemas também podem ser controlados mediante exames. O nigeriano Kanu, por exemplo, teve um problema em um válvula cardíaca e após a substituição desta válvula, voltou a jogar normalmente. “Hoje ele defende o Arsenal, da Inglaterra, sem problema algum.” Por isso mesmo, Costantini acredita que o atacante Washington, que teve um entupimento coronário e foi submetido a uma angioplastia quando defendia o Fenerbahce, da Turquia, voltará aos gramados. “Ele volta a ser examinado em dezembro e acredito que ainda possa jogar futebol”. O jogador deve reapresentar-se ao Atlético, clube que pretende contratá-lo, no mês que vem, para dar prosseguimento ao tratamento.

Caro

Apesar de um simples exame poder detectar problemas cardíacos, antecipando um tratamento, os clubes de futebol não costumam realizá-lo, talvez porque a incidência do problema não é tão grande. “Não entendo o porquê. O exame custa R$ 200,00 e pode evitar mortes em campo”, diz Costantini.

No entanto, mesmo os maiores clubes do país não submetem todo elenco ao exame de ecocardiograma. “Na verdade, pelo que temos notícia, apenas alguns esportes de alto rendimento nos Estados Unidos submetem os atletas a esse exame”, diz Edílson Thiele, chefe do departamento médico do Atlético Paranaense. O ecocardiograma só é exigido em casos suspeitos de problemas cardíacos. Foi o que aconteceu com o ex-goleiro do clube, Washington, que apresentou sintomas e foi submetido a exames mais detalhados. Detectado o problema, o jogador foi submetido a uma cirurgia e se recuperou bem, voltando aos gramados.

Para o chefe do departamento médico do Paraná Clube, Mothy Domit, o ecocardiograma não está entre os exames de pré-temporada por se tratar de um exame especializado.

COB promoverá mudanças

Atentos aos problemas constatados dentro dos gramados, médicos do Comitê de Traumatologia e do Comitê Olímpico Brasileiro estão norteando algumas normas de conduta no atendimento de pronto socorro, feito ainda dentro das dependdências dos clubes. A partir de outubro, as determinações que estão em debate devem passar a vigorar em todos os estádios brasileiros.

“Em muitos casos, um pronto atendimento adequado podem salvar o atleta”, defende o chefe do departamento médico do Atlético Paranaense, Edílson Thiele, presente em todas as reuniões do Comitê de Traumatologia. Segundo Thiele, a partir de outubro, serão exigidas algumas mudanças dentro do gramado. As macas, por exemplo, utilizadas para retirar atletas contundidos de campo, terão de ser rígidas, tal qual as usadas pelo Corpo de Bombeiros. “Também será obrigatório o uso de colar cervical, para evitar a movimentação da coluna”, diz.

O pessoal que faz o atendimento dentro de campo, especialmente os massagistas, terá que ter certificado de BLS (Basic Life Suport), um curso de pronto-atendimento ministrado pelo Corpo de Bombeiros, para os pára-médicos. Os médicos dos clubes, geralmente especializados em otropedia, terão que adquirir o certificado ATLS (Advanced Trauma Life Suport), que capacitam os profissionais a usar, por exemplo, um desfibrilador, que mediante choques pode reanimar uma vítima. “Já estamos providenciando esses cursos para os profissionais do Atlético e em breve estaremos dentro das normas, antes mesmo do prazo estipulado”, garantiu Thiele à Tribuna.

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