Base forte

Futebol paranaense já fez história no Japão, com título e goleadas

PSTC ganhou um título sub-12 com direito a 68 gols marcados e apenas um sofrido. Foto: Arquivo pessoal

O Athletico está pela primeira vez em seus 95 anos de história no Japão. Nesta quarta-feira (7), o Furacão vai encarar o Shonan Bellmare, em Hiratsuka, pela decisão da Copa Levain. É um grande feito para o futebol paranaense, que nunca teve um time profissional disputando uma competição na Ásia. Porém, ainda que o Rubro-Negro esteja dando um passo gigantesco, levando o nome do Estado para o outro lado do mundo, ele não foi o primeiro time do Paraná que já esteve em solo japonês. Há 20 anos, um grupo de garotos do PSTC, pequenos que carregavam muitos sonhos na bagagem, conquistou um feito: eles saíram de Londrina para se consagrar campeões invictos na terra do Sol Nascente.

Em agosto de 1999 um grupo formado por atletas com até 12 anos do londrinense Paraná Soccer Technical Center – o PSTC -, comandado pelo técnico Jair Almeida Machado, encarou o desafio de enfrentar horas de viagem para uma experiência que mudaria a vida deles. O convite para a ‘aventura’ se deu pelo relacionamento entre os dirigentes do clube na época com instituições japonesas. Após o intercâmbio ser selado entre Brasil e Japão, os garotos selecionados para a viagem passaram por uma imersão completa antes de embarcarem rumo a Nara Ken. A localidade fica a cerca de 460 quilômetros de Tóquio, capital do país.

“Foi feita uma preparação especial pra viagem, uma adaptação para eles saberem mais da cultura e também foram ensinadas palavras básicas em japonês. Em julho, mês que antecedeu a viagem, nos dedicamos muito a treinar. Eram férias escolares e os meninos tinham todo dia atividades no clube”, relembrou o treinador dos garotos, em entrevista à Tribuna do Paraná.

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Machado, inclusive, desenvolveu especialmente uma apostila para determinar o cronograma de treinos e preparação para viagem, que guarda até hoje como relíquia. Ainda que toda dedicação tenha gerado muito esforço, tudo valeu a pena. No dia 13 de agosto, 18 atletas e três membros da comissão técnica seguiram viagem para uma experiência que ficaria marcada na memória deles.

Diego, Jonas, Henrique, Vandinho (aquele mesmo do Paraná Clube, Flamengo e outros clubes) e Léo. Time do PSTC tinha seus destaques. Foto: Arquivo pessoal
Diego, Jonas, Henrique, Vandinho (aquele mesmo do Paraná Clube, Flamengo e outros clubes) e Léo. Time do PSTC tinha seus destaques. Foto: Arquivo pessoal

O PSTC foi campeão invicto da 4ª International Boys Cup Júnior Football Competition, uma disputa para jogadores até 12 anos. A competição reuniu 128 times de diversos locais do mundo, como Ásia, Europa e América do Sul, e o clube londrinense deixou sua marca com 68 gols assinalados e apenas um sofrido em oito partidas. Foram algumas goleadas expressivas no caminho, como o 20×0 no Osaka FC, além do 18×0 no North Star, ambos do Japão, ainda na primeira fase da disputa.

A decisão foi contra o CooperCotia, de São Paulo, o outro representante da América do Sul na disputa e vitória por 3×0. Passando pelos adversários como uma máquina, os meninos do interior chamaram a atenção. O artilheiro da excursão (incluindo amistosos e o torneio) foi Samuel, com 42 gols, mas outros garotos já deixavam claro que levariam a carreira adiante. Entre eles, o atacante Vandinho, que anos depois fez seu nome no mundo da bola com passagens de destaque pelo Paraná Clube, de 2003 a 2007. O jogador chegou a defender a camisa do Flamengo em 2008 e também atuou por Sport, São Caetano, Avaí, Portuguesa, Spartak Vladikavkaz, da Rússia, e outras equipes.

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O atleta, então com 12 anos, foi o craque e artilheiro da competição, mas não foi o único que seguiu carreira. “Além do Vandinho, que teve passagem até pela Europa, o Samuel jogou no Coritiba, o atacante Alisson também atuou no Coritiba e outras equipes do interior São Paulo. O Douglas jogou no Brasil, mas acabou indo jogar futebol de salão na Itália. Lá ele se destacou e chegou a defender a seleção italiana de futsal”, enfatizou o comandante daquele time.

A aventura na terra do Sol Nascente durou 12 dias e em 24 de agosto eles desembarcaram de volta ao Brasil com direito a muita festa de familiares e amigos no aeroporto de Londrina. Na época, o jornal Folha de Londrina registrou o momento e até o entusiasmo da repercussão da campanha do time no Japão. O então médico e chefe da delegação, Aureo Shizuto Cinagawa, disse ao veículo que o presidente da Federação Japonesa de Futebol, Ken Naganuma, envolvido com a organização da Copa do Mundo de 2002, fez muitos elogios ao PSTC e principalmente aos craques Samuel, Vanderson e Fabinho.

Jair Machado (o primeiro da esquerda para a direita) era o comandante da piazada. Na foto, ele está com Aureo Shizuto Cinagawa (chefe e delegação), Ken Naganuma (presidente da federação japonesa na época), Samuel (artilheiro da competição com 42 gols), Fabinho (outro jogador do grupo), e Renato (pai de um dos atletas). Foto: Arquivo pessoal
Jair Machado (o primeiro da esquerda para a direita) era o comandante da piazada. Na foto, ele está com Aureo Shizuto Cinagawa (chefe e delegação), Ken Naganuma (presidente da federação japonesa na época), Samuel (artilheiro da excursão com 42 gols), Fabinho (outro jogador do grupo), e Renato (pai de um dos atletas). Foto: Arquivo pessoal

“Ele disse que espera vê-los na Copa do Mundo de 2006, jogando pelo Brasil”, disse Cinagawa, destacando que a categoria dos atletas brasileiros chamou a atenção da população local.

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A taça da conquista dos garotos em terras orientais está até hoje na sede do PSTC, em Londrina, e o time contou com os seguintes atletas: Douglas, Fabinho, Flávio, Leonardo, Lucas, Luiz Henrique, Rodrigo e Vanderson. Alisson, Bruno, Diego, Henrique, Jonas, Eduardo, Rafael e Samuel, Tiago e Fernando.

Baita susto

Ainda que tivessem sido muito bem acolhidos no Japão, ficando em casas de famílias locais e em alojamentos, os paranaenses passaram por uma situação que exigiu muita atenção. Já nos últimos dias da estadia do grupo, eles foram acordados por um terremoto que atingiu 4,5 pontos na escala Richter. O técnico dos garotos lembrou que todos ficaram muito seguros mesmo diante da situação.

“Não tinha risco de desabamento, mas mesmo assim por serem crianças, ainda mais longe dos pais, se sentiram com medo. Foi uma situação emocionalmente difícil, mas tentamos deixar todos tranquilos e deu tudo certo”, explicou.

Pra vida

Jair Machado contou que a viagem foi um marco para o grupo. Independentemente se os então garotos chegaram a virar atletas profissionais como sonhavam ou não, para sempre vão se recordar dos momentos de fama na cidade e a aventura que tiveram.

“Temos até um grupo no whatsapp e eles sempre lembram de alguma história e falam que vão levar para a vida toda a experiência que tiveram”, contou o técnico, que vive agora em Joinville e depois de 20 anos dedicados ao futebol hoje desenvolve diversas outras atividades, entre elas o ofício de escritor.

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