Futebol de cegos estréia em 2004 na Paraolimpíadas

Pela primeira vez na história, o futebol para cegos (chamado futebol de cinco), vai integrar o programa paraolímpico. Atenas vai acompanhar o torneio que conta com seis países em ação na modalidade, num esporte que foi introduzido no paradesporto pelo paranaense Mário Sérgio Fontes, que em 1984, nos Jogos de Nova York, onde o Brasil teve a primeira participação paraolímpica.

Mário foi aos EUA para correr os 100m, os 800m e o salto em distância, mas na bagagem levou uma bola para mostrar aos atletas de outros países e, numa pesquisa informal, acabou criando as condições para que, oito anos depois, o esporte fosse regulamentado pela IBSA (associação internacional de desportos para deficientes visuais).

O curitibano Mário, de 47 anos, é hoje um dos membros do subcomitê da IBSA para o futebol de cinco; é o coordenador nacional do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) para o futebol para cegos, e acumula ainda a coordenação da seleção brasileira que irá se apresentar em Atenas, nas Paraolimpíadas.

Outra curiosidade que mostra a importância de Mário Sérgio para o desenvolvimento da modalidade, é que ele é o consultor para a fabricação das bolas com guiso, que serão utilizadas nos Jogos de Atenas, e que são fabricadas pelo projeto “Pintando a Liberdade” da unidade prisional da Bahia.

As bolas a serem utilizadas nas Paraolimpíadas, seriam as fabricadas no Paraná, mas como o projeto que é desenvolvido no Paraná não manteve a evolução técnica necessária, o CPB e a IBSA optaram pela bola desenvolvida no projeto baiano.

Mário pondera ainda que o futebol está arraigado na cultura do brasileiro, e que os deficientes não são exceção para a regra. Para o coordenador da seleção brasileira, o Brasil entra como favorito na Paraolimpíada, pois é o líder do ranking.

Metade da seleção é da Paraíba: os goleiros Andreoni e Fábio. Na linha, são paraibanos ainda Marcos Felipe, Róbson Damião e Gabriel Severino, além do técnico Antônio de Pádua. Os outros jogadores são Misael Conrado (SP), João Batista (MT), Nílson Silva (PR), Sandro Soares (RJ) e Anderson Dias (RJ). Completam a comissão técnica, o paranaense Roderlei Ferreira, e o paulista Luiz Carlos dos Santos.

“Com este time tenho plena convicção que vamos à Atenas em busca da medalha de ouro”, pondera Mário. Em chave única, o Brasil estréia na competição contra a Coréia (dia 18 de setembro). Depois enfrenta, na seqüência, França (dia 20), Espanha (dia 22), Argentina (dia 24) e Grécia (dia 26). A final está marcada para o dia 28.

Como se joga

A modalidade pode ser praticada tanto na quadra como no campo. Em Atenas será jogado no campo. As dimensões são as mesmas da quadra de futsal 40mx20. Porém, há uma mudança na área do goleiro, visto que a do futebol de 5 é retangular, e no futsal é semi-circular e bem maior. Esta mudança serve para reduzir o espaço de ação dos goleiros. Os times têm oito jogadores e dois goleiros. Em quadra, jogam quatro na linha e um no gol. O goleiro é vidente e ele não pode ter atuado em competições da FIFA nos últimos cinco anos. As partidas duram 50 minutos, com dois tempos de 25.

Atletas com diferentes graus de deficiência visual podem competir. Os jogadores B1 jogam entre si e são vendados. Os B2/B3 jogam juntos e não é necessário o uso da venda e a bola é do futsal convencional. Tocar a venda constitui uma falta. Depois de cinco infrações, o atleta é expulso, e pode ser substituído por outro. A bola do futebol de 5 praticado por cegos tem uma diferença em relação às convencionais: em seu interior existe um guizo que emite sons que ajudam na orientação dos jogadores. A modalidade exige um grau de respeito muito grande por parte da torcida, pois os jogadores se orientam pelos sons da quadra. O silêncio só pode ser quebrado do momento do gol até o reinício da partida.

Nílson é destaque do time

“Futebol está no sangue”. Com esta frase, Nilson Pereira da Silva, de 33 anos, afirma o porquê da escolha pelo Futebol de 5 para Cegos e não por outra modalidade. Aos quatro anos, o paranaense teve retinoblastoma, o que ocasionou na perda total da visão nos dois olhos. Nove anos depois, ele resolveu tornar real o seu desejo de jogar futebol.

De segunda a sexta-feira, o atleta dedica-se exclusivamente aos treinos, que são encarados como uma profissão. Para o atacante da seleção brasileira, mais importante do que uma medalha em Atenas é a união e a força de vontade da equipe.

Talentoso, Nilson foi o artilheiro da Copa América de 2001, em Paulínia-SP. Sonhos, o paranaense tem vários. Um deles é gravar um CD de música sertaneja, rock e MPB. Ele segue o exemplo de Zico, ex-jogador de futebol. Seu filho de quatro anos, Nilson Júnior, também adora bater uma bolinha, apesar de tenra idade. O coordenador da modalidade, Mário Sérgio, foi a pessoa que mais influenciou na sua carreira.

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