Furacão supera o Coxa e assume a liderança isolada

A cidade vai amanhecer mais vermelha hoje e não é para menos. No primeiro Atletiba do ano, o Coritiba até teve um maior domínio de jogo, mas foi a experiência do Atlético que prevaleceu, para a alegria dos 2,5 mil torcedores rubro-negros que foram ontem ao Couto Pereira. Mesmo sem grandes chances de gol, o primeiro clássico do ano reacendeu a rivalidade entre as equipes, coloriu o Alto da Glória e mostrou que já dá para dizer que o Campeonato Paranaense começou de verdade. Melhor para o Furacão, que venceu por 2 a 0, manteve a liderança e o tabu. A galera coxa, por sua vez, reconheceu o esforço e aplaudiu o time mesmo assim.

Com a passagem do Coritiba pela Segundona os confrontos contra o Atlético ficaram mais raros e a expectativa pelo encontro dos dois aumentava na mesma medida. Da última vez, um empate na Baixada e com o Alviverde apresentando a sua garotada. A mesma garotada que estava em campo ontem, um ano mais velha, mais experiente e mais calejada pelas dificuldades da Série B. Era isso que a torcida acreditava e tratou logo de empurrar o time para cima do Rubro-Negro. Jogando em casa e brigando pela liderança, não restava outra solução ao Coxa.

Só faltou traduzir o domínio em chute a gol. Quando os ataques produziam e chegavam na frente, a finalização saia mascada, fraca ou passava longe. E isso também valia para o Furacão, que demorou a levantar a própria torcida, que chegou a pedir ?raça, raça?. No entanto, enquanto o Coritiba reclamava de uma carga de Danilo em Pedro Ken dentro da área e via Careca perder uma oportunidade debaixo do gol, o presente para os atleticanos estava guardado para o segundo tempo e sempre vindo dos pés de Netinho.

Quando não cobrava faltas perigosas deixando o goleiro Edson Bastos arrepiado, cobrava escanteios e foi de um deles que Ferreira achou o espaço necessário para abrir o placar. Após a cobrança, o arqueiro afastou de soco, mas o meia colombiano aparou, ajeitou e mandou no canto, para delírio da torcida. Perdendo, o Coxa foi para cima com o gás novo de Marlos e Henrique Dias, mas este perdeu uma chance preciosa na grande área. A pressão continuou e até o último minuto o Alviverde lutou para conseguir o empate e a chance até que veio.

Já nos acréscimos, Pedro Ken sofreu uma falta dentro da meia lua, cometida por Antônio Carlos, e deixou o estádio em suspense. Era a chance ideal para empatar e não deixar o arquiimimigo comemorar no Couto. Só faltou a pontaria. O próprio Pedro cobrou em meia altura e propiciou o contra-ataque mortal. Ferreira viu Clayton pela direta, que curtiu uma de ponta-direita até cruzar na medida para Alan Bahia meter a cabeça, decretar a vitória atleticana em pleno Alto da Glória e manter o tabu de mais de mil dias sem perder para o Coritiba.

PARANAENSE – 2008

4.ª rodada -1.ª fase

Coritiba 0 x 2 Atlético

Coritiba

Edson Bastos; Henrique, Jéci e Rodrigo Mancha; Gilberto Flores (Dinei, 32? do 2.º), Careca, Pedro Ken, Renatinho (Marlos, 17? do 2.º) e Ricardinho; Keirrison e Hugo (Henrique Dias, 12? do 2.º).

Técnico: Dorival Júnior

Atlético

Vinícius; Rhodolfo, Antônio Carlos e Danilo; Jancarlos, Valencia, Calyton, Netinho (Alan Bahia, 33? do 2.º) e Michel (Nei, 1? do 2.º); Ferreira e Rodrigão (Marcelo Ramos, 16? do 2.º).

Técnico: Ney Franco

Local: Couto Pereira

Árbitro: Maurício Batista dos Santos

Assistentes: Rogério Carlos Rolim e Moisés Aparecido de Souza

Gol: Ferreira aos 21 minutos e Alan Bahia, 48? do 2.º tempo

Cartão amarelo: Pedro Ken (C), Michel, Danilo,Clayton, Nei (A)

Renda: R$ 411.210

Público pagante: 26.446

Público total: 28.496

Técnico e jogadores assumem a culpa pela derrota do Coxa

Valquir Aureliano
Despedida de Henrique da torcida foi triste. Zagueiro está a caminho do Palmeiras.

Para o técnico Dorival Júnior, a falta de tempo para treinar e o meia Ferreira fizeram a diferença na derrota de ontem, para o Atlético, por 2 a 0. Mas ele assumiu a responsabilidade pelo resultado. ?Você sai de uma partida como essa tendo a consciência de que a equipe procurou fazer da maneira correta e o Atlético teve a competência de aproveitar?, analisou. E aproveitou para elogiar o craque colombiano. ?O Ferreira não é um jogador qualquer, é um jogador diferenciado. No momento em que ele recebeu o rebote, deu um tapa, saiu da marcação e teve muita felicidade na batida?, elogiou.

De qualquer forma, ele foi ponderado ao comentar o Atletiba. ?Se no jogo do meio da semana tivemos uma vitória, mas eu saí insatisfeito com aquilo que eu vi, no jogo de hoje (ontem), foi o contrário. Todos querem vencer, mas a coerência tem que ser colocada e o Coritiba procurou jogar?, avaliou. No entanto, a falta de tempo do calendário paranaense voltou a ser criticada. ?O período de treinamento é muito curto, a necessidade que uma equipe em formação tem de trabalhar é maior ainda. Algumas jogadas que estão sendo desenhadas ainda não têm aquela sintonia natural de uma equipe que vive 15 dias tentando se refazer?, lamentou.

Para Dorival Júnior, não é questão de ficar chorando por ter perdido o clássico contra o rival. ?Ainda é cedo para se cobrar. Chegamos no dia 4 e são 16 dias de trabalho. Os períodos de trabalho são curtos. Jogamos hoje (ontem) e jogaremos na quarta. Não é lamentação, é a realidade do futebol e quem elabora as datas não tem a consciência da importância de se fazer uma boa pré-temporada?, disse. Mas, ele assumiu a responsabilidade. ?Eu comando a equipe, eu decido a escalação, as substituições e os jogadores estão aí porque têm a nossa confiança?, finalizou.

No jogo de quarta-feira contra o Real Brasil (às 16 horas no Pinhão), o treinador já poderá contar com o volante Veiga e com o lateral-direito Dick. Hoje, os atletas que atuaram contra o Furacão fazem apenas um trabalho regenerativo. Para amanhã, está programado um trabalho apronto para a partida contra o time de Aurélio Almeida.

?Pagamos pelos próprios erros?

Capitão do Coritiba, o zagueiro Jéci resumiu em uma frase o que aconteceu para a derrota de ontem por 2 a 0 para o Atlético. ?Erramos e pagamos pelo erro?, apontou. Para ele, faltou fazer a lição de casa e o resultado foi o gol marcado por Ferreira. ?O Atlético se defendeu muito bem. Veio e jogou bastante fechado e no nosso erro. O professor tinha nos alertado da bola parada, do rebote e acabamos tomando o gol onde ele tinha nos alertado. Mas a equipe não vai se entregar não?, avisa o defensor.

Os companheiros de linha defensiva concordaram com o capitão. ?Nosso time tomou um gol que não era para acontecer, teve que sair para o jogo e acabamos tomando o segundo no finalzinho?, analisou o volante/zagueiro Rodrigo Mancha.

Já o ídolo Henrique, que fez sua despedida com a camisa do Coxa antes de ir para o Palmeiras, garante que não faltou empenho. ?A gente tentou, teve raça, teve vontade, mas perdemos em erros nossos. Não fizemos os gols, mas agora é trabalhar, porque tem mais jogos pela frente?, projetou o zagueiro, que segue seu rumo e fica na torcida pelos companheiros.

Ney Franco destaca obediência tática e ?tempo certo? pra vencer o clássico

Clewerson Bregenski

Valquir Aureliano
Treinador atleticano cumprimentou Ferreira e Alan Bahia pelos gols marcados.

O primeiro clássico do ano, se não foi tão bom tecnicamente, valeu pela disposição das duas equipes. Atleticanos e coxas lutaram muito e não se entregaram até o último minuto de jogo. Mas o placar de 2 a 0, conquistado na casa do adversário, mostrou a maior eficiência do Furacão. De acordo com o treinador Ney Franco, o jogo foi muito difícil, com os dois times buscando o gol, mas sua equipe soube se portar melhor em campo e teve ?uma noite feliz?. ?O Atlético soube marcar e sair no tempo certo. No conjunto, a equipe foi bem e todos cumpriram o que foi pedido. Claro que houve erros de posicionamento, mas temos que lembrar que não estamos nem com 70% de nossas forças físicas?, explicou.

Depois que abriu o placar, com um bonito gol do colombiano Ferreira, o Atlético jogou como gosta, dando prioridade à marcação forte no meio-campo e explorando o contra-ataque. Para isso, Franco substituiu Netinho por Alan Bahia. Jogando assim, novas oportunidades surgiram até o segundo gol ser assinalado. ?Tivemos chances com Danilo e depois num contra-ataque, onde os dois volantes estavam na área para completar o cruzamento. Fico feliz que um defensor e um atacante tenham marcado desta vez?, finalizou.

A vitória e a liderança do Paranaense estão dentro do planejamento do treinador, que quer assegurar a classificação à 2.ª fase da competição antes da estréia do Furacão na Copa do Brasil, dia 27 de fevereiro.

Sobre o próximo compromisso, na quarta-feira, contra o Cascavel, Ney Franco preferiu não adiantar quem vai jogar. ?Estou satisfeito com o rendimento. Vou rever o teipe do jogo e decidir quem vai jogar ou não?, disse.

Após a vitória no Atletiba, os jogadores atleticanos ganharam folga. Um presente após a importante vitória, já que eles estão em concentração no CT do Caju, para a pré-temporada, desde o último dia 3. Mas o tempo para comemorar é curto. Hoje à tarde já tem reapresentação.

Colombianos Ferreira e Valencia fizeram a diferença

Walter Alves
Henrique tenta, mas Valencia não dá moleza pro jogador do Coxa..

O time todo do Atlético honrou as cores rubro-negras, com muita vontade e garra durante os 90 minutos. No entanto, para vencer um clássico é preciso mais do que isso. E no Furacão, dois colombianos foram decisivos na vitória de ontem. Ferreira e Valencia, cada um em sua posição, fizeram a diferença para o Atlético conquistar mais uma vitória no Couto Pereira e calar a torcida adversária.

Ferreira marcou seu segundo gol no campeonato e provou que é craque. Bem marcado e aparecendo pouco na partida, em um único lance de maestria, o ?Baixinho? decidiu o confronto. Aos 21 minutos da etapa final, Ferreira aproveitou uma bola rebatida do goleiro Edson Bastos e mostrou porque é aquele jogador diferenciado. Numa jogada em que qualquer jogador chutaria de primeira, com grande probabilidade de ?isolar a bola?, Ferreira, com um toque de classe, adiantou a bola e deixou dois marcadores pra trás. Ao abrir espaço, teve a certeza para finalizar e balançar a rede adversária. Aos 40, novamente Ferreira demonstrou sua qualidade ao fazer um lançamento perfeito para Danilo, que foi infeliz na finalização.

Outro

Se o ?Baixinho? foi determinante na vitória atleticana, o seu compatriota também foi quase perfeito. Valencia é o pulmão do time e desarma como ninguém. Ocupa espaços e dificilmente perde a viagem no encalço do adversário. Caso isso aconteça, recorre para a falta simples, parando o jogo. Ontem, Valencia foi um gigante. Cobriu espaços deixados por companheiros, impediu o avanço dos armadores coxas e, com fôlego de gato, quase marcou seu primeiro gol no Atlético aos 48 do 2.º tempo. Teria assinalado se Claiton tivesse cruzado a bola um pouco mais baixo. Mas o importante é que estava lá na área, pronto pra completar a jogada.

Os colombianos se destacaram no Atletiba e, no final do jogo, fizeram questão de correr para a torcida e comemorar a boa atuação.

Jogadores vibram com vitória sobre o arquirival e liderança do campeonato

Walter Alves
O volante Claiton na disputa com Henrique Dias. Xerifão rubro-negro deu o tom da vitória contra o eterno rival Coritiba.

Jogadores também comemoraram bastante a vitória no Atletiba, pois mais da metade do grupo não havia sequer participado deste clássico regional. Após o apito final, todo o time correu em direção à torcida rubro-negra e vibraram bastante. Um dos mais entusiasmados era o capitão Claiton, que fez uma boa partida e deu a assistência para o segundo gol. ?A equipe toda está de parabéns. Temos projeto de crescer a cada jogo e é isso que está acontecendo. No meio da semana fomos criticados (devido a apresentação diante do Engenheiro Beltrão), mas descansamos para o Atletiba e está aí?, desabafou.

Claiton ressaltou que o ponto forte do Atlético tem sido o grupo. ?Estou feliz pelo grupo. Pela vitória no meu primeiro Atletiba e pela liderança no campeonato?, afirmou.

O zagueiro Antônio Carlos também parabenizou a equipe pelo resultado. ?Hoje (ontem) mostramos que o Atlético é uma grande equipe e que o grupo está unido para a conquista do estadual. Tinha total confiança de um bom jogo e conseguimos o placar?, disse.

Autor de um dos gol, o volante Alan Bahia enfatizou a importância de o Atlético possuir um elenco com qualidade. ?Nossa equipe está encaixando e agora é dar seqüência ao trabalho. O time tem qualidade técnica e quando for precisar do banco, o treinador sabe que pode contar?, finalizou.

?A torcida é que nos deu esse gás?

Walter Alves
Alan Bahia divide com a torcida seu gol.

Num jogo muito equilibrado, o Atlético conseguiu manter o tabu de não perder para o Coritiba no Couto Pereira. A última vez que o Coxa triunfou sobre o Atlético em seus domínios foi em 2004. Desde lá foram três partidas e, em todas elas, os atleticanos puderam fazer a festa no estádio do rival.

Ontem mais uma vez a torcida rubro-negra se fez presente e empurrou o time durante toda a partida. Como não puderam levar suas bandeiras e bateria, o incentivo veio no grito mesmo e as vozes de pouco mais de dois mil atleticanos ecoaram forte no Alto da Glória. A festa realizada pelo torcedor foi, inclusive, enaltecida pelo capitão Claiton, logo após dar o passe decisivo para o segundo gol rubro-negro. ?Esse pique que eu dei, o gás veio graças ao incentivo do nosso torcedor. A torcida me deu forças?, comentou.

Lembranças

Dentre as inúmeras cantorias da torcida rubro-negra, duas delas chamaram atenção e relacionavam o nome do ex-presidente Coxa, Giovani Gionédis. Devido ao bom retrospecto do Furacão contra o Coxa sob a direção do ex-mandatário, os rubro-negros pediam a volta de ?GG? ao comando do clube alviverde. E satirizam o adversário com os gritos ?Volta Gionédis? e ?Gionédis, cadê você. Eu vim aqui só pra te ver?.

Couto Pereira ficou colorido

Cahuê Miranda

Valquir Aureliano/Walter Alves
Depois de quase um ano, as duas principais torcidas do Estado voltaram a se encontrar.

O Coritiba bem que tentou, mas não conseguiu evitar mais uma festa rubro-negra no Couto Pereira. Mesmo em minoria e impedida de levar faixas, bandeiras e bateria, a torcida atleticana equilibrou o jogo das arquibancadas no grito e foi ao delírio com a terceira vitória seguida na casa do rival.

Antes do jogo, um mar verde e branco tomou conta das ruas do Alto da Glória. Em peso, a galera coxa-branca chegava confiante na vitória e disposta a perder a voz para incentivar o Alviverde. Enquanto isso, milhares de atleticanos se reuniam na Baixada e, escoltados pela polícia, seguiam a pé para o estádio.

Apesar do clima de tensão que envolve todo clássico, poucos problemas foram registrados na chegada das torcidas. Cerca de uma hora antes de a bola rolar, um pequeno confronto nas esquinas das Ruas Mauá e Floriano Essenfender assustou quem passava por ali. Mas a polícia agiu rápido e logo dispersou os brigões.

Dentro do Couto, a massa alviverde dominava 90% das arquibancadas. E mais uma vez o concreto balançar quando o Coxa pisou o gramado, com mais de 25 mil pessoas pulando ao mesmo tempo ao som de ?sai do chão, sai do chão. É a torcida do Verdão!?.

O clima não era nada favorável a quem foi torcer pelo Atlético. Como se fazer ouvir em ambiente tão inóspito? ?Só eu sei, porque eu não fico em casa!?, respondia o povão rubro-negro. Assim como os jogadores do Furacão, ele parecia ignorar o barulho que vinha do outro lado e não parava um minuto sequer.

A raça dos atleticanos foi correspondida pelo time, que fez a disputa das torcidas virar no segundo tempo. Depois que Ferreira balançou as redes pela primeira vez, parecia que eram os vestidos de vermelho e preto quem estava em maioria. Parte dos coxas ainda insistiu em empurrar o time para uma reação. Esforço que se revelou em vão depois que Alan Bahia colocou números finais no clássico.

A desilusão tomou conta da torcida alviverde, que antes mesmo do apito final já se dirigia, em silêncio, para as saídas do Couto. Do lado rubro-negro, euforia total. ?Um, dois, três, o Coxa é freguês!? Já são quase três anos sem derrota para o maior rival.

A história do Atletiba deveria terminar por aí. Mas sempre existe uma minoria disposta a estragar a festa. Na Rua Ubaldino do Amaral, correria e tumulto. No terminal do Guadalupe mais pancadaria. Testemunhas relatam até tiroteio na central dos ônibus que fazem a ligação com os municípios da Região Metropolitana.

Felizmente, até a noite de ontem não havia registro de feridos com gravidade. Apenas alguns coxas de cabeça inchada e atleticanos afônicos.

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