Zurique – Com punições tanto ao francês Zinedine Zidane quanto ao italiano Marco Materazzi, a Fifa espera ter colocado um fim ao lance mais polêmico da Copa da Alemanha. Os dois jogadores protagonizaram um dos momentos mais negativos da história das finais de mundiais, quando o astro da França deu uma cabeçada no peito do zagueiro da Itália para revidar as provocações que sofreu, durante a prorrogação do jogo do dia 9 de julho, em Berlim. Zidane, que fazia o último jogo de sua carreira, acabou expulso e seu time foi derrotado. Mas o título de melhor jogador da Copa será mantido ao francês.
Ontem, em Zurique, Zidane foi explicar o caso diante de cinco juízes do comitê disciplinar da Fifa. Ele deu sua versão do fato, pedindo desculpas pelo que aconteceu. Como de costume, a Fifa optou por impor uma multa de cerca de US$ 6 mil (R$ 13 mil), o que seria equivalente a 2h de trabalho do astro na temporada passada, e uma suspensão de três partidas. Mas como Zidane já anunciou que deixa o futebol, a opção foi transformar a pena do ex-jogador em trabalhos humanitários.
Tratamento diferenciado
A Fifa deixou claro que esse tipo de punição não está nem sequer previsto nas leis e que a decisão de ontem não abre uma brecha para futuros casos, insinuando que o status de Zidane exigiu um tratamento diferenciado.
?O problema é que o comitê passou um bom momento discutindo como punir Zidane se ele não jogará mais?, explicou Andréas Herren, porta-voz da entidade. Assim, teria sido o próprio francês quem sugeriu transformar a suspensão em três dias de trabalhos comunitários em programas da Fifa com crianças pobres.
A Fifa ainda decidiu manter o título recebido por Zidane como melhor jogador do mundial – conseqüência de uma votação entre os jornalistas que fizeram a cobertura na Alemanha.
Pela primeira vez, a Fifa ainda sancionou atos de provocação e Materazzi acabou pegando dois jogos de suspensão e uma multa de US$ 4 mil (R$ 9 mil). O italiano também teria pedido desculpas pelo incidente – Zidane alegou que o zagueiro teria ofendido sua mãe e irmã de uma forma dura e pediu punições.
Insultos de italiano não foram racistas
Zurique – A Fifa fez questão de enfatizar que os insultos ?não foram de cunho racista?, mas não revelou o conteúdo das provocações. Segundo o presidente do comitê disciplinar e milionário do setor de imóveis, Marcel Mathier, existem leis que de fato permitem que insultos à honra sejam punidos. Mas isso nunca tinha ocorrido pela dificuldade de se comprovar os insultos. ?Tivemos a sorte de que ambos os jogadores revelaram praticamente os mesmos fatos no incidente e ficou claro que a agressão de Zidane foi uma resposta a uma provocação?, disse Mathier.
Árbitros
Ontem, os árbitros da final da Copa também foram convocados à audiência na Fifa. O argentino Horacio Elizondo, que apitou a partida, e o quarto árbitro, o espanhol Luis Medina Cantalejo, confirmaram que não recorreram ao vídeo para identificar a agressão de Zidane. Os cartolas franceses alegaram que isso teria ocorrido, o que seria ilegal.
?O quarto árbitro viu com seus próprios olhos e informou a Elizondo?, garantiu Andréas Herren.
Final feliz
A Fifa fez ainda de tudo para minimizar o incidente que deve entrar para a história. A entidade, com a decisão, evitou que os dois jogadores se enfrentassem numa acareação, impôs sanções contra Materazzi, agradando aos franceses, e ainda garantiu que tudo isso ocorreu sem a ajuda do vídeo. Para completar, acatou a idéia de transformar a punição em ajuda às comunidades mais pobres, contribuindo inclusive para a imagem de Zidane.