Felipão paga promessa e elogia esquema do Brasil

Farroupilha (AE) – O técnico Luiz Felipe Scolari pagou ontem a promessa que havia feito antes da Copa do Mundo, agradecendo a Nossa Senhora de Caravaggio no santuário mais popular da Serra gaúcha, em Farroupilha, a 140 quilômetros de Porto Alegre. Sufocado por uma pequena multidão que correu ao local quando soube de sua presença, Scolari ficou mais de uma hora sentado nas escadarias do templo dando autógrafos. Entre um afago e outro que recebia de crianças, fiéis e torcedores, disse que só vai decidir seu futuro no dia 28 ou 29 deste mês, quando se reunirá com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira; lembrou que a grande inovação tática do mundial da Coréia do Sul e Japão foi da seleção brasileira, que conseguiu alternar seu esquema durante os jogos, confundindo os adversários; e admitiu desejar que os brasileiros também encontrem um jeito disciplinado e perseverante, com união e amizade, para atingir seus objetivos.

Para agradecer a saúde e proteção que tem de Nossa Senhora do Caravaggio, Scolari percorreu os 18 quilômetros que separam o Hotel Samuara, onde estava, e o santuário a pé. No templo, ficou pouco mais de dez minutos. Ao entrar, exigiu que as câmeras não o acompanhassem em sua oração. Ao lado do auxiliar Flávio Teixeira, o Murtosa, e do ex-goleiro Bagatini, o técnico permaneceu ajoelhado por cinco minutos.

Depois, postou-se, em pé, em frente ao altar lateral com a imagem de sua protetora e, mesmo no corredor, conversou reservadamente com o padre Alcindo Trubian e recebeu abraços das freiras que cuidam do local.

Futebol

Mesmo sem querer falar sobre futebol, e negando que tenha recebido convites do clubes espanhóis e italianos e da federação uruguaia, Scolari fez alguns comentários sobre as estratégias usadas na Copa do Mundo. Salientou que o time foi competitivo e bem organizado, revelou que confiou a liderança em campo aos jogadores mais experientes, como Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldo e Roque Júnior, e destacou o papel exercido pelo goleiro reserva Rogério Ceni como aglutinador.

Scolari considera a dedicação, amizade e carinho entre os atletas o grande segredo para a vitória do Brasil. E está convicto de que muitos críticos e torcedores ainda não conseguiram ver a inovação tática que introduziu na Copa do Mundo, variando o esquema durante o mesmo jogo e com os mesmos jogadores. “Nós fazíamos isso e dificultávamos a marcação dos adversários, confundindo-os”, relatou.

O técnico não quis prever se o modelo pode tornar o Brasil uma nova referência tática. “Não sei”, desconversou. “Mas sei que com um sistema que ninguém entendeu até agora nós conseguimos vencer.”

Em suas reflexões sobre a Copa, Scolari identifica como os momentos mais preocupantes os jogos com a Turquia, na estréia e na semifinal, por colocarem o time na angústia e na obrigação de vencer. “Contra a Inglaterra, tida como um grande time, a motivação era natural”, comparou. Quando chegou à final, a seleção estava no auge de todo um trabalho de preparação e de comunhão com a torcida.

“Os jogadores entraram em campo sabedores de que seriam campeões”, revela. “Com aquele ambiente, não tinha como alguém nos vencer”, conclui.

Scolari passou dois dias na Serra gaúcha para pagar sua promessa a Nossa Senhora do Caravaggio, tratar de negócios – tem imóveis em Caxias do Sul – e receber homenagens do Caxias e do Juventude, clubes pelos quais atuou nos tempos de jogador. Hoje o técnico recebe a medalha Negrinho do Pastoreio do governador Olívio Dutra, em Porto Alegre.

Na sexta-feira, se conseguir se desvencilhar de alguns compromissos, embarca com a família para o exterior, em busca de dez dias da privacidade que não está conseguindo ter desde que voltou campeão do mundo.

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