Felipão contrariou todas as expectativas

Com seu estilo turrão, Luiz Felipe Scolari contrariou todas as expectativas e sagrou-se o teimoso mais competente do futebol brasileiro. Ele chegou ao pentacampeonato mundial graças ao talento de Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gáucho e Roberto Carlos e também à sua persistência às vezes irritante e, hoje, motivo de orgulho em todo o País. Foi assim ao resistir à pressão até do presidente Fernando Henrique Cardoso para convocar Romário.

Enfrentou manifestações ruidosas de torcedores no Rio de Janeiro e ignorou pesquisas de opinião pública favoráveis à convocação do artilheiro do Brasil na Copa do Mundo de 1994. Alegou razões táticas, técnicas e, por fim, a que teve mais peso para não relacioná-lo na lista de 23 jogadores: disciplinar. Em sua última entrevista antes de seguir para a Coréia do Sul, fez um comentário sobre a polêmica: ?Com ou sem Romário, se eu perder a Copa, estou morto de qualquer jeito.? As críticas passaram a ser mais contundentes quando decidiu armar esquema com três zagueiros – o 3-5-2. Estaria copiando os europeus?  Por quê? Scolari lembrava que seus três titulares no setor Lúcio, Roque Júnior e Edmílson – estavam acostumados a jogar dessa forma e que trabalharia com essa idéia, sem medo de resultados.

O treinador chegou a ser questionado sobre a presença da dupla mais eficiente no Mundial: Ronaldo e Rivaldo. O primeiro vinha de quase três anos fora de atividade e era uma incógnita, termo que o próprio Scolari utilizava para deixar claras suas dúvidas quanto ao desempenho do craque. Assim mesmo, apostou em Ronaldo, sempre dando crédito ao médico José Luiz Runco, voz firme nas respostas sobre a recuperação do atacante.

Rivaldo sofreu com problemas físicos ao longo de todo o primeiro semestre de 2002, desfalcando o Barcelona várias vezes.

Esteve ausente em amistosos de preparação da seleção e tornava-se outro mistério. O jogador, dois meses antes da Copa, estava angustiado. Temia não poder disputá-la em boas condições. Apegou-se a palavras de incentivo de Scolari para continuar o tratamento das dores musculares com dedicação.

Levar Ronaldo e Rivaldo para o Mundial, nessas circunstâncias, e deixar fora o grande aclamado pela torcida, Romário, poderia sugerir audácia ou, o mais provável, uma atitude contumaz do técnico.

Ele não se intimidou e continuou desafiando o que parecia óbvio.

Insistiu em manter como titular o goleiro Marcos, enquanto apelos para a escalação de Rogério Ceni surgiam de todos os cantos. O que viria a ser o melhor da posição no Mundial 2002 não se pode levar em conta a absurda escolha da Fifa por Kahn, da Alemanha – apresentava pouca segurança nos jogos pelo Palmeiras e também pela seleção.

Scolari não abriu mão: Marcos era o número 1. Acertou em cheio mais uma vez.

Soma-se a isso a insistência em convocar Gilberto Silva e Kleberson, dois dos grandes nomes do Brasil na competição. Quase ninguém entendia como poderia o treinador chamar dois jogadores inexperientes e excluir da relação Juninho Pernambucano e Ricardinho, que acabou compondo a seleção com o corte de Emerson.

Há outros exemplos sobre essa saga sinuosa e incrível de Scolari para alcançar o quinto título mundial do Brasil. Em nenhum momento, definiu-se por um time titular até as partidas finais da Copa. Jamais repetiu a escalação em dois jogos seguidos e também nunca admitiu que a falta de bagagem internacional de seus assistentes mais próximos, como o auxiliar-técnico Flávio Teixeira, pudesse representar risco à campanha da seleção.

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